Theresa Catharina de Góes Campos

  GOODBYE... SOLO

Premiado pela crítica internacional do Festival de Veneza do ano
passado, Goodbye Solo, de Ramin Bahrani, é uma crônica dramática, bem
arquitetada, de linguagem naturalista, sobre uma improvável amizade
que se cria, num momento extremo, entre dois indivíduos de mundos
diferentes, sendo que um espera muito da vida, e o outro deseja acabar
com ela.

O roteiro, de Bahrani e de Bahareh Azimi, foi elaborado segundo
os preceitos, um tanto desgastados, do que se convencionou chamar de
cinema independente dos EUA, mas sem as implicações políticas e o
brilhantismo, por exemplo, do de Courtney Hunt em Rio Congelado,
Grande Prêmio do Festival de Sundance e indicado ao Oscar de Melhor
Roteiro Original

O trabalho, bem estruturado, é, como manda o figurino da
categoria, sumário no que diz respeito à caracterização das
personagens e à formulação dos acontecimentos em que elas se envolvem.
O que dá sustentação ao filme, rodado em câmara digital, de Michael
Simmonds, cuja fotografia se revela um tanto lúgubre, é inegavelmente
a direção de Bahrani, segura e firme, mas também bastante
convencional.

O padrão da narrativa segue, mais ou menos, o preconizado por
Michael Mann em Colateral. Assim, ao início da ação, um passageiro,
William (Red West), de aproximadamente setenta anos, tenta fazer
acordo com o taxista senegalês Solo ( Souleymane Sy Savane), para
levá-lo, no dia 20 de outubro, a uma região montanhosa da Carolina do
Norte, onde se situa a rocha gigantesca (Blowing Rock), assolada por
fortes ventos.

Por estranhar o tipo da proposta, Solo, que costuma apanhar,
quase todas as noites, o enigmático William à porta de um cinema, e
conduzi-lo até a casa, ao receber dele, de forma antecipada, uma parte
do pagamento da viagem, se interessa por conhecê-lo melhor, temendo
que ele pretenda se suicidar.

Primeiro, elege-o como um de seus clientes especiais: para
chamá-lo, William não vai mais precisar fazer a ligação para a central
de atendimentos, mas, sim, para o seu próprio celular, seja a que hora
for, de dia ou de noite. Falante, extrovertido, Solo quer ganhar a
confiança de Willliam a fim de tentar demovê-lo da ideia de acabar com
a vida.

Apesar disso, William continua sendo um homem de poucas
palavras. Mas aceita, após vender seu apartamento e antes de se mudar
para um motel e liquidar sua conta bancária, como é do seu intento,
passar uma noite na casa do taxista, que vive com a mexicana Quiera
(Carmen Leyva), grávida de seu primeiro filho, e Alex (Diana Franco
Galindo), sua enteada.

Depois que William se instala num motel, Solo, para não deixá-lo
sozinho, pede-lhe que o ajude a se preparar para uma entrevista de
seleção de comissários de bordo de uma empresa aérea. A par de estudar
no apartamento de William, ele, orientado por anotações do amigo,
encontradas num pequeno diário, vai procurar o bilheteiro do cinema
(Trevor Metscher)....

Atuando com improvisações, Red West e Souleymane Sy Savane
conseguem desenhar, com precisão, a estranha relação que se estabelece
entre William e Solo. O primeiro parece ter vivido intensamente os
tempos dos anos sessenta, da contracultura, dos motoqueiros hippies,
do rock, das drogas, sem haver conseguido solidificar um
relacionamento familiar, como o que Solo pretende alicerçar, nos EUA,
ao estilo daquele em que foi criado no Senegal, de muita solidariedade
de uns para com os outros.

Contido, West, que foi amigo de Elvis Presley e atuou em alguns
de seus filmes, passa bem a imagem de um homem comum, deprimido,
angustiado, saturado da própria existência. Sy Savane tem naturalmente
mais liberdade para executar, como intérprete, movimentos físicos
exteriores, que fazem chegar, de forma satisfatória, ao espectador a
veracidade dos sentimentos de Solo. E, com isso, ele ganha
evidentemente mais espaço na película.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA

ADEUS
GOODBYE…SOLO

EUA/ 2008
Duração – 90 minutos
Direção – Ramin Bahrani
Roteiro – Ramin Bahrani e Bahareh Azimi
Produção – Ramin Bahrani e Jason Orans
Fotografia – Michael Simmonds
Música – M. Lo
Edição – Ramin Bahrani

Elenco – Soleymane Sy Savane (Solo), Red West (William), Diana Franco
Galindo (Alex), Carmen Leyva (Quiera), Trevor Metscher (Bilheteiro),
Mamadou Lan (Mamadou).

From: Ana Falcão
Date: 2009/9/28
Subject: Re: PRIORIDADE MÁXIMA)) GOODBYE...SOLO - Reynaldo Domingos Ferreira
To: Theresa Catharina de Goes Campos

Theresa, obrigada por enviar-me a crítica do Reynaldo, sempre bem
redigida e ilustrada, como tivemos oportunidade de comentar. Abraços
Ana

 

Jornalismo com ética e solidariedade.