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PRECONCEITO DE ROUPA
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Já me aconteceu entrar em lojas e ser percorrida
por certo
olhar de desconfiança da vendedora – mensagem
não-verbal de menoscabo.
É que não costumo ir às compras toda
“produzida”. Divirto-me com a
grande mancada do olhar de desprezo sobre
clientes pré-julgados pela
roupa. Mas também sinto a “expulsão” moral. E a
loja me perde para
sempre.
Numa boutique de copa e cozinha, levei essa
mirada de cima a baixo,
quando respondi que não procurava nenhum artigo
específico, só estava
olhando. Na olhada despretensiosa, há um
potencial de compra.
Geralmente avisto algo bom para adquirir
antecipadamente como presente
de Natal ou aniversário. Mas o vendedor fica
nervoso com cliente que
apenas olha. A legítima preocupação com furtos
nas lojas nem sempre é
exercida com sutileza. E o vestir-se com
simplicidade suscita dúvidas
quanto ao poder aquisitivo ou às intenções do
visitante. Sei de vários
casos constrangedores e ridículos.
Minha amiga herdara finíssima peça de porcelana
de sua avó.
Perguntou, num antiquário, o preço do jarro
idêntico ao seu, avistado
na vitrina. “É muito cara”, foi a resposta
evasiva, seguida do olhar
de desdém de quem tem preconceito de roupa. A
interessada explicou: “É
que eu tenho um igual e queria saber quanto
vale”. O cara ficou
assanhado:“Pois me interessa comprar”. “Pois não
me interessa vender”.
A moça revelava má vontade em mostrar tantas
peças de roupa à
cliente de aparência classe C. Esta escolheu
algumas, pagou com
American Express e, ao receber a sacola de
grife, devolveu-a: “Fique
com tudo pra você, é um presente”. Baixinho,
franzino, de bermuda e
camiseta, um colega visitou concessionária de
automóveis. Foi
esnobado. Voltou de terno e gravata e foi
tratado como príncipe.
Concluída a compra de um zero quilômetro, não
deixou por menos: “Sabe
quem eu sou? Aquele mesmo que chegou aqui ainda
há pouco, de bermuda e camiseta”.
Certas lojas de móveis e decoração, daquelas
freqüentadas por
arquitetos e ambientadores, “botam banca”
silenciosa face a visitantes
que não tenham ares de comprador “de nível”.
Minha heroína favorita
dessas situações é uma senhora da sociedade
pernambucana, já falecida.
Desprovida de vaidades, sem maquilagem, sem unha
pintada, podia pagar
qualquer coisa em qualquer boutique, salão de
automóvel importado ou
joalharia. Mas sua aparência de “mulher do povo”
deixava-a vulnerável
aos olhares “superiores” de alguns atendentes.
Em locais onde já fosse
conhecida como rica, era paparicada.
Parodiando o ditado, “quem vê roupa não vê
carteira”. Vendedor
que não sabe dessa verdade elementar, perde
vendas, sim. Nas
capacitações, é preciso ensinar isto.
Discriminar por roupa, tanto é
falta de bondade como de educação. É desrespeito
e injustiça contra
quem não pode vestir-se bem por restrições
orçamentárias e contra quem
o faz por liberdade de escolha. No fundo, é
discriminação por parecer
pobre. Eita mundo besta! |
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