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ARTIGO DE 1966 SOBRE O CARNAVAL
From: Theresa
Catharina
Date: 2009/10/9
Subject: Muito obrigada por sua gentileza em me
escrever e transmitir seus agradecimentos. Ótimo
saber que meu artigo, publicado em 1966 pelo
jornal Correio Braziliense, ainda é de utilidade
para você.
To: Fábio José Soares
Muito obrigada, prezado leitor Fábio José
Soares, pela gentileza em me
escrever e transmitir seus agradecimentos. Ótimo
saber que meu artigo,
publicado aqui no DF em 1966, pelo jornal
Correio Braziliense, ainda
lhe é de utilidade para os estudos, de modo
especial, sobre o tema
escolhido para a pesquisa à qual se dedica
atualmente.
Sucesso nas leituras de livros e periódicos.
Que Deus o ilumine e proteja!
Abraços cordiais de
Theresa Catharina
On Sáb 26/09/09 13:26 , Fábio José Soares
escreveu:
Boa-tarde!
Meu nome é Fábio, e estou escrevendo este e-mail
para dizer que encontrei na internet um artigo
seu sobre o Carnaval que está me ajudando muito.
Estou fazendo minha monografia e o tema é
Carnaval, Literatura e História. Fiquei feliz em
encontrar seu artigo, de 1966, no caderno
cultural do Correio Braziliense, pois o conteúdo
está totalmente ligado ao meu tema.
Felicidades.
Fábio.
O CARNAVAL NA LITERATURA BRASILEIRA
Na história e na formação de cada povo, a
literatura é espelho, na
medida em que reflete a realidade do país,
características regionais,
personalidades marcantes...mas pode e deve ser
também vanguarda, na
medida em que, apontando os erros do passado, os
vícios e as promessas
do presente, desperta no público leitor uma
consciência
esclarecida,dirigindo-a para ações redentoras,
mais consoantes com a
grandeza e as possibilidades de uma nação.
O retrato de um país encontra-se fragmentado,
compondo-se não apenas
de traços físicos: sua geografia, seu clima, sua
vegetação; a alma de
um povo está gravada na fisionomia de suas
cidades, nas obras
arquitetônicas, nas diversas expressões de arte
e, de modo especial,
na literatura. Descrições de nossas festas
populares aparecem em
quadros, painéis e livros. O mesmo ocorre com o
carnaval.
Este ano, a União Brasileira de Escritores
apresentou o nome de Jorge
Amado ao prêmio Nobel de Literatura. O famoso
romancista, em 1931, com
19 anos de idade, lançava "O País do Carnaval",
que foi logo alvo de
críticas, algumas bondosas, outras severas.
"Na rua a multidão acotovelava-se numa grande
alegria. Entulhavam-se
as casas de negócio comprando fazendas e
enfeites. Era o carnaval que
se aproximava.
Rigger disse: - "O Brasil é o País do Carnaval".
(Jorge Amado - O País
do Carnaval)
O estilo irônico do livro traz em si um germe
positivo de crítica,
convidando à reflexão.
"Era o Carnaval...Vitória de todo o Instinto,
reino da Carne..." (idem)
A esse trecho contrapõe-se a figura de Ricardo
Braz, uma dos
personagens do romance. Necessitado de carinho,
verdadeiro peregrino
do sentimento, tinha uma grande sede de amor.
Para ele, a finalidade
da vida nada tinha a ver com dinheiro, prestígio
político ou prazeres
- o sentido da vida estava no amor. Idealizava
para si uma jovem de
grandes olhos tristes e que fosse o tipo da
esposa perfeita. E
proclamava:
"A satisfação da Carne não dá felicidade a
ninguém". (idem)
As cenas carnavalescas atuam como fundo de
cenário.
"Até os sujeitos que tocavam violão sambavam
numa alegria doente de
quem só tem três dias de liberdade".
"O Brasil continuou o mesmo: não melhorou, nem
piorou. Feliz Brasil,
que não se preocupa com problemas, não pensa e
apenas sonha em ser,
num futuro muito próximo, "o primeiro País do
Mundo".
Mas o barulho dos ranchos carnavalescos, os
gritos dos foliões, não
constituem obstáculos invencíveis para a verdade
existencial: "Eles
chegaram à conclusão de que se vive para
qualquer coisa superior".
O livro termina com um apelo de Paulo Rigger ao
Cristo Redentor. O
navio em que Paulo se encontra vai se afastando
do cais: "Senhor, eu
quero ser bom. Senhor, eu quero ser sereno...Lá
longe, desaparecia
lentamente o País do Carnaval..."
Eneida publicou a "História do Carnaval" em
1958.
O conto "A Morte da Porta-Estandarte", de Aníbal
Machado, renova o tema
universal do ciúme que, de tal modo
irreprimível, se transforma em
assassino da pessoa a quem se diz amar.
Castro Menezes ajudou Manuel Bandeira na edição
de seu segundo livro:
"Carnaval". Influenciado pela poesia de Guy
Charles Cross e Mac Fiolna
Leod, Manuel Bandeira começara a utilizar o
verso livre. Nesse segundo
livro, aparecido em 1919, inclui ao lado de
poemas dentro dos moldes
tradicionais, embora de exaltado lirismo, duas
produções que bem
representam as novas tendências: "Debussy" e
"Sonho de uma sexta-feira
gorda".
Mais tarde, o autor faria a seguinte declaração:
"Com "Carnaval",
recebi o meu batismo de fogo". Apareceu em certa
revista uma nota
curta: "O Sr. Manuel Bandeira inicia o seu livro
com o seguinte verso:
"Quero beber, cantar asneiras...". Pois
conseguiu plenamente o que
desejava".
J. Ribeiro e Oiticica, entretanto,
solidarizam-se à obra, o
que reconforta o poeta. O volume se projetaria
ainda por outra razão:
apresentado por Guilherme de Almeida a Mário de
Andrade e seu grupo,
seria acolhido pelos futuros modernistas com
entusiasmo. Durante a
Semana de Arte Moderna, um de seus poemas, "Os
Sapos", tornou-se uma
espécie de hino, pela ironia com que criticava
os poetas passadistas;
Ronald de Carvalho declamou-o no Teatro
Municipal de São Paulo.
Raimundo Correia escreveu o soneto "Tristeza de
Momo".
A peça de Vinícius de Moraes, "Orfeu da
Conceição", foi premiada no IV
Centenário da capital paulista.
De Cassiano Ricardo, temos um carnaval da
natureza. Um dos fundadores
do movimento "verdeamarelista" e do grupo da
"Anta", intelectual
nacionalista, fundou depois com Menotti del
Pichia o grupo
"Bandeira", com finalidade política, apesar de
refratário a qualquer
ideologia exótica e dissolvente. Eis, do
"Carnaval" de Cassiano
Ricardo:
" Todas as árvores que moram na floresta ficaram
surdas com tamanha
festa: numa algazarra enorme os papagaios
endomingados em seus fraques
verdes
gritam coisas absurdas!
Sapos, intanhas pererecas, rãs e pipas tocam
matracas, pararacas. Uma
araponga louca dá o sinal para o começo do
Carnaval.
E eis que começa, de improviso, a dança do
tangará: pula prá lá, pula
prá cá, prá lá... prá cá... pralapracá.
Um punhado de insetos multicores brilha numa
clareira em meio dos bambus, (...)"
Theresa Catharina de Góes Campos
Correio Braziliense, sábado, 12 de fevereiro de
1966 (Segundo Caderno)
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