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O DESINFORMANTE
Steven Soderberg mostra, em O Desinformante,
como um promissor
executivo de uma grande empresa se degrada ao
lançar mão da mentira em
suas relações de trabalho, visando obter com
isso ascensão
profissional. Para tanto, ele usa linguagem de
fina e perspicaz
ironia, próxima à do humor negro, mas também de
inegável cunho moral.
O roteiro, muito bem estruturado, de Scott Z.
Burns, baseado no
romance The Informant: A True Story, de Kurt
Eichenwald, narra o caso
de Mark Whitacre (Matt Damon), um contumaz
mentiroso, mais tarde
diagnosticado como bipolar, que acabou por
promover, com sua astúcia,
um dos maiores escândalos corporativos da
história dos EUA.
Ao início do filme, Mark já é um dos
vice-presidentes da Archer
Daniels Midland (ADM), produtora de derivados do
milho, quando lhe
surge a ideia de formular denúncia de formação
de cartel contra a
multinacional a fim de dar curso ao seu
mirabolante plano, exposto
antes superficialmente à mulher Ginger ( Melanie
Lynskey), de assumir
a presidência da empresa.
Mostrando-se fortemente influenciável por apelos
publicitários,
por manchetes de jornais, por argumentos de
bestsellers, como os de
Michael Crichton, ou ainda por filmes, como A
Firma, de Sidney Pollack
(1993), Mark se julga mais esperto que todos os
demais que o rodeiam.
Em vista disso, ele deseja iludir, com sua lábia
e fama de jovem
agradável, até mesmo os agentes do FBI, Brian
Shepard (Scott Bakula) e
Robert Herndon (Joel McHale), estes chamados
pela ADM para investigar
a procedência da denúncia, aos quais ele relata,
a cada dia, fatos
diferentes, que não se coadunam uns com os
outros.
Ao espectador cabe naturalmente a tarefa de
identificar a
diferenciação que existe entre o que lhe é
exposto, na tela, em
imagens, e as sandices, as coisas absurdas,
ditas por Mark, em off,
como narrador. É praticando esse exercício de
contraponto que
Soderbergh impõe, com maestria, o tom de comédia
de humor negro ao
filme, auxiliado pelo adequado comentário
musical de Marvin Hamlisch.
A direção do realizador de Traffic , responsável
também pela
fotografia, captada através da chamada câmara
vermelha (Red Camera),
continua sendo sóbria. Mas, dessa vez, ele
extrai bom efeito das
desorientadas idas e vindas do protagonista, ora
entrando, ora saindo
do seu local de trabalho e portando sempre a
pasta equipada – mostrada
desde os créditos iniciais – para gravar
conversas, durante as quais
induz os seus interlocutores a dizer palavras,
que, a seu conceito,
são comprometedoras dentro do contexto por ele
imaginado.
O trabalho de Soderbergh, que naufragou ao
tentar abordar, com
subterfúgios, o Diário de Uma Garota de
Programa, se apóia muito
também na soberba interpretação de Matt Damon,
dando tudo de si à
personagem que interpreta. O ator procura criar
em si mesmo, até pela
deformação física, a imagem de Mark Whitacre,
que tem uma maneira
própria de arranjar os cabelos, de sorrir, de
contrair os músculos da
face, de usar os olhos, as sobrancelhas e
principalmente de caminhar.
É explorando esse recurso, por repetidas vezes,
como já o fizera em O
Bom Pastor, de Robert de Niro, que Damon
complementa de forma
magistral o perfil do protagonista.
Acompanham-no também em excelentes
atuações Scott Bakula, como o agente Brian
Shepard, do FBI, e Melanie
Linskey, como a esposa Ginger, sempre
concordante com todas as
loucuras que lhe conta o marido.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
O DESINFORMANTE
THE INFORMANT
EUA/2009
Duração 109 minutos
Direção – Steven Soderbergh
Roteiro – Scott Z. Burns, baseado no livro The
Informant: A True
Story, de Kurt Eichenwald.
Produção – Kurt Eichenwald, Jennifer Fox,
Gregory Jacobs
Fotografia – Steven Soderbergh
Música – Marvin Hamlisch
Edição – Stephen Mirrione
Elenco – Matt Damon (Mark Whitacre), Scott
Bakula (Brian Shepard),
Melanie Lynskey (Ginger Whitacre), Robert
Herndon ( Joel McHale),
Lucas McHugh Carroll (Alexander Whitacre), Eddie
Jemison (Kirk
Schmidt), Thomas Wilson (Mark Cheviron). |
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