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Respeito profissional 27/10/2009 | 20:17
Pela volta do diploma
*Jorge Fernando dos Santos
O fim da exigência do diploma de jornalista para
o exercício da
profissão no Brasil obedece a vontade de mentes
sinistras, que em
momento algum apresentam justificativa plausível
para a desastrada
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A
luta pela volta do
diploma que vem sendo conduzida pela categoria
na Câmara Federal tem
sofrido percalços, já que representantes do
patronato das comunicações
insistem em manter sua posição retrógada.
Num país que ainda deixa a desejar no quesito
escolaridade, é no
mínimo um retrocesso suspender a necessidade de
formação adequada para
o exercício desta ou de qualquer profissão já
regulamentada. Quando o
presidente do STF, Gilmar Mendes, comparou os
jornalistas a
cozinheiros e alegou que o mau exercício da
profissão não oferece
riscos à sociedade, ele certamente ignorou os
riscos de envenenamento
(no caso dos cozinheiros) e de calúnia e
difamação (no caso dos
jornalistas).
Para justificar a decisão do STF, uma parte
daqueles que insistem no
fim do diploma alega que, para exercer o
jornalismo, não há
necessidade de curso superior. Outros sustentam
a falsa premissa de
que a exigência do diploma para escrever em
jornais atenta contra a
liberdade de expressão - supondo-se que aqueles
que não têm formação
adequada não poderiam escrever em veículos de
comunicação. Ledo
engano! Afinal, qualquer pessoa pode ser
convidada a se manifestar
como colunista ou a colaborador na imprensa
diária, desde que escreva
sobre matéria de seu domínio. Opinar é direito
de todos. Por isso
mesmo, jornais e revistas mantêm espaços para
cartas de leitores e
artigos de colaboradores não necessariamente
diplomados em jornalismo.
O diploma era exigido para o cumprimento de
tarefas típicas da
profissão, como fazer reportagens, entrevistar e
editar matérias.
Há ainda aqueles que afirmam que o diploma de
Jornalismo foi
instituído durante o período de arbítrio da
ditadura militar e que por
isso mesmo fere a Constituição Federal
promulgada em 1988.
Curiosamente, quem usa esse argumento para
justificar o equívoco
cometido pelos juízes do STF não oferece nada em
troca, simplesmente
defende o fim da diplomação e do curso superior
de Jornalismo. Nessa
linha de pensamento, não seria preciso diploma
para ser advogado ou
juiz do Supremo, bastando quando muito conhecer
as leis.
Na verdade, boa parte dos donos de jornais e
revistas odeia os
jornalistas justamente devido ao seu perfil
questionador. Estes por
sua vez, justamente por terem formação superior,
noções de ética e
responsabilidade profissional geralmente
resistem ao monopólio da
informação e à manipulação da notícia pelos
empresários de
comunicação, prática geralmente imposta por
chefes de redação que se
colocam cegamente a serviço dos patrões e de
grupos políticos e/ou
empresariais seus aliados. Se existe alguma
verdade no noticiário,
isso ocorre principalmente devido ao senso de
responsabilidade de
profissionais bem formados e de boa índole.
Acabar com a exigência do diploma é nivelar o
jornalismo por baixo, na
categoria de profissões não regulamentadas, para
as quais ainda não
existe curso superior. Ao nos comparar com
cozinheiros, Gilmar Mendes
parece ignorar que alguns deles já estão
frequentando bancos de
universidades em busca de especialização e de
melhores ganhos no
mercado internacional do chefs de cozinha.
Sem diploma, os jornalistas deixam de constituir
uma categoria
profissional de nível superior, o que certamente
contribuirá com o
interesse patronal que deseja achatar nossos
ganhos ao extremamente
necessário. Quem trabalha em redação sabe que o
volume de tarefas sobe
na proporção inversa aos salários. O
investimento de algumas empresas
no chamado jornalismo convergente, obrigando
seus profissionais a
escrever para mais de um meio ou veículo ao
mesmo tempo, comprova o
aumento da mais-valia sem nenhum respeito às
leis do trabalho.
Por outro lado, ninguém fala em fiscalizar os
cursos de comunicação,
para saber se o ensino que oferecem é mesmo de
qualidade e se está
adequado às exigências do mercado. O que querem
alguns é de fato
alinhar por baixo os jornalistas, condenando-os
ao baixo salário, ao
aumento da carga de trabalho e ao não
comprometimento com a ética e a
qualidade da notícia. Em outras palavras, querem
empregar
profissionais afáveis, obedientes, despreparados
ou vendidos aos
interesses patronais sem nenhuma preocupação com
a veracidade da
notícia, na base do "dane-se o leitor". A
maioria dos donos de jornais
quer mesmo é ganhar dinheiro a rodo, usando seus
respectivos veículos
de informação para defender interesses próprios
e eleger políticos que
rezam em suas cartilhas.
Apesar disso, muitos coleguinhas ainda se
colocam na posição de
observadores desinteressados da luta que agora
se trava pela volta do
diploma. Agem como se não acreditassem na
reversão da história em
nosso favor, ou como se fossem apenas
coadjuvantes nessa novela de
final imprevisto. Em vez de se mobilizarem em
nome da dignidade
profissional, acreditam que as coisas são como
são e que o homem não é
mais sujeito da própria história. É preciso
defender nas redações o
pouco que ainda resta de dignidade,
responsabilidade e respeito
profissional. Caso contrário, a profissão de
jornalista deixará de
existir e a qualidade da informação estará
irremediavelmente
comprometida em nosso país.
*Jornalista e escritor em Belo Horizonte,
assessor de comunicação do
Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas
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