ESTUPRO
AUDITIVO
Tereza Halliday – Artesã
de Textos
A
psicóloga Ana Maria
Paiva do Nascimento
disse, nesta página, que
os moradores da Av. Boa
Viagem são “estuprados
pelos ouvidos”
- por trios elétricos e
outras formas de sons
desadorados.(DP,
13/12/2009). Sons também
focalizados em
reportagem do Diário
(8/1/2010).
O
estupro auditivo nivela
ricos e pobres num mesmo
sofrimento e humilhação.
Diariamente, cartas à
Redação dos três jornais
da cidade denunciam
variegados tipos de
violência auditiva
perpetrada em todos os
bairros. Por exemplo: “Olhe
o caminhão da Brasilgás.
O gás de cozinha está
passando aqui na sua
porta. São 38 reais.
Aproveite. O gás de
cozinha está aqui na sua
rua”. Ou o
concorrente: “Liquigás,
com garantia da
Petrobrás, Petrobrás,
Petrobrás, Petro...”
Quem nunca foi atanazado
por essa lengalenga?
A
metáfora do estupro para
designar a poluição
sonora é adequada porque
se trata da penetração
forçada em dois
orifícios do corpo
humano – os ouvidos –
violentando a
integridade física e
moral da vítima, que tem
seu corpo, domicílio ou
espaço de trabalho
invadidos por sons
indesejados,
impertinentes,
dolorosos, causadores de
danos aos tímpanos e ao
sistema nervoso. Os
criminosos do som também
são ladrões do tempo de
descanso, lazer,
trabalho e estudo
daqueles a quem estupram
auditivamente.
São
estupradores auditivos:
organizadores de festas
que permitem DJs e
orquestras abusar de
decibéis que impedem
qualquer conversa;
anunciantes de produtos
nos supermercados,
enfiando ofertas
comerciais orelha a
dentro; motoqueiros
usando cano de escape
“envenenado”, a pipocar
asperamente pelas ruas;
usuários de som de
carro, ligado a toda
altura no meio-fio de
calçadas, “para lazer
apenas”; condutores de
todo tipo de veículo “altofalantesado”
difundindo mensagens
pelas ruas; os
produtores de poluição
sonora em bares,
igrejas, condomínios
(inclusive campainhas de
alerta dos portões de
garagem); pessoas
geradoras de ruídos
barulhosos em qualquer
lugar privado ou público
onde o som esborre,
prejudicando terceiros.
Um dos
maiores motivos de
reclamação ao Ministério
Público, a poluição
sonora é problema de
saúde pública e de
segurança. É um
equívoco acreditar que é
normal e aceitável fazer
barulho entre 8 e 22h. “como
se a saúde das pessoas
não pudesse ser afetada
nessas horas”,
lembra o Dr. André
Silvani, diretor do
Centro de Apoio
Operacional às
Promotorias do
Meio-Ambiente. E
nem é sempre necessário
aplicar o decibelímetro.
Testemunhas, documentos
médicos, gravações de
áudio e vídeo também
servem de provas em
vários casos. Se você é
homem macho ou mulher
fêmea e se sente
estuprado pelos ouvidos,
lute, educadamente, por
sua integridade física,
psicológica e moral.
Uma
Cartilha sobre Poluição
Sonora foi recentemente
editada pelo Ministério
Público de Pernambuco,
na qual o personagem
Silento, dá seu recado
de cidadania e
civilidade, inclusive
orientando como não
incomodar. Pode ser
acessada no site
www.mp.pe.gov.br
(Diário de Pernambuco,
18/1/2010, p;A-11)
Tereza Lúcia
Halliday, Ph.D.
Artesã
de Textos