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From: se fariasdemenezes
Date: 2010/1/17
O benfeitor secreto - Woody McKay Jr.
Por volta de 1910, meu pai era motorista de um
homem muito rico e testemunhou o empenho do
patrão em ajudar anonimamente pessoas que jamais
poderiam retribuir o favor.
Meu pai me contou várias histórias fascinantes
dessa época, mas uma em especial ficou guardada
para sempre na minha memória. Um dia, ele levou
seu patrão a um encontro de negócios em outra
cidade. Nos arredores pararam para comer um
sanduíche.
Enquanto comiam, vários garotos passaram pelo
carro, brincando com arcos. Um deles mancava.
Chegando mais perto da janela, o patrão de meu
pai viu que o garoto tinha um dos pés
deformados. Ele saiu do carro e alcançou o
menino.
- Este pé lhe traz muitos problemas? –
perguntou.
- Tenho de andar devagar – o garoto respondeu. –
E preciso cortar um pedaço do sapato para poder
pisar melhor. Mas dá para ir levando. Por que o
senhor está me perguntando isso?
- Talvez eu possa ajudá-lo a curar seu pé. Você
gostaria?
- Claro – disse o menino, embora tenha ficado um
pouco confuso com a pergunta.
O empresário anotou o nome do garoto, voltou
para o carro e disse a meu pai: "Woody, o garoto
que manca se chama Jimmy e tem oito anos.
Descubra onde ele mora e pegue o endereço e o
nome dos pais." Ele entregou a meu pai um pedaço
de papel com o nome do menino e pediu: "Vá
visitar a família dele esta tarde e faça o
possível para conseguir permissão para deixarem
operar o pé de Jimmy. Podemos tratar da papelada
depois. As despesas são todas por minha conta."
Eles acabaram de comer seus sanduíches e meu pai
levou o chefe para seu compromisso de trabalho.
Não foi difícil conseguir o endereço de Jimmy
numa loja próxima. Quase todos conheciam o
menino com o pé deformado.
A pequena casa em que Jimmy e a família moravam
precisava de pintura e de consertos. Olhando à
volta, meu pai viu camisas rasgadas e vestidos
remendados no varal ao lado da construção. Um
pneu velho pendurado por uma corda num carvalho
servia de balanço.
Uma mulher de trinta e poucos anos respondeu à
batida na porta enferrujada. Parecia cansada e
suas feições revelavam uma vida difícil.
- Boa-tarde – meu pai cumprimentou. – A senhora
é a mãe de Jimmy?
Ela franziu um pouco as sobrancelhas antes de
responder.
- Sou. Ele se meteu em alguma encrenca? – Seus
olhos examinavam o colarinho engomado de meu pai
e seu terno bem passado.
- Não, senhora. Eu represento um homem rico que
quer resolver o problema do pé de seu filho,
para que ele possa brincar como todos os seus
amigos.
- A troco de quê, moço? Nada é de graça na nessa
vida.
- Não se trata de uma brincadeira. Se for
possível, gostaria de explicar o que está
acontecendo à senhora e a seu marido, se ele
estiver em casa. Sei que é inesperado e não a
culpo por achar suspeito.
Ela olhou para meu pai novamente e, ainda
hesitante, convidou-o a entrar. "Henry", ela
gritou, "tem um homem aqui dizendo que quer
ajudar a resolver o problema do pé do Jimmy."
Por quase uma hora, meu pai explicou o plano e
respondeu às perguntas do casal.
- Se permitirem que Jimmy seja operado, vou lhes
mandar algumas autorizações para assinar. Meu
patrão pagará todas as despesas. como já lhes
disse – conclui.
Perplexos, os pais do garoto se olharam. Ainda
não tinham muita certeza quanto ao que estava
acontecendo.
- Aqui está meu cartão. Quando enviar os papéis
para autorização, vou mandar uma carta
esclarecendo tudo sobre o que conversamos. Se
tiverem mais alguma pergunta, telefonem ou
escrevam para este endereço.
Isso pareceu lhes dar um pouco mais de
confiança, e meu pai foi embora. Sua missão fora
cumprida.
Mais tarde, o patrão de meu pai entrou em
contato com o prefeito e lhe pediu que enviasse
alguém à casa de Jimmy para reafirmar à família
que a oferta era legítima. Naturalmente, o nome
do benfeitor não foi mencionado.
Logo, com as autorizações assinadas, meu pai
levou Jimmy a um excelente hospital em outro
estado para a primeira de cinco operações a que
seria submetido.
As cirurgias foram um sucesso. Jimmy se tornou o
queridinho das enfermeiras na ala de ortopedia.
Todos se abraçaram e choraram quando ele deixou
o hospital pela última vez. Num gesto de
carinho, deram-lhe um presente especial: um novo
par de sapatos, feitos sob medida para seus pés
"novos".
Jimmy e meu pai se tornaram grandes amigos
durante as idas e vindas do hospital. Na última
viagem, quando o garoto voltava definitivamente
para casa, eles cantaram, falaram sobre o que
Jimmy poderia fazer com seu pé normal e
dividiram momentos de silêncio à medida que se
aproximavam da casa.
O menino deu um largo sorriso ao sair do carro.
Seus pais e os dois irmãos o esperavam, juntos,
na maltratada porta da frente.
- Fiquem aí – Jimmy gritou para eles.
Todos ficaram olhando, surpresos, enquanto o
garoto caminhava até eles. O defeito tinha
desaparecido.
Com abraços, beijos e sorrisos receberam o
menino com o "pé curado". Seus pais balançavam
as cabeças e sorriam enquanto o observavam.
Ainda não podiam acreditar que um homem que
nunca tinham visto pagara uma enorme quantia
para consertar o pé de um menino que ele nem
conhecia.
O rico benfeitor tirou os óculos e enxugou as
lágrimas quando meu pai relatou a cena da volta
de Jimmy para casa. "Faça mais uma coisa", ele
disse. "Perto do Natal, vá a uma boa loja de
sapatos. Faça com que chamem cada membro da
família de Jimmy para que escolham um novo par
de sapatos. Pagarei pelos sapatos de todos. Mas
comunique que farei isso apenas uma vez. Não
quero que fiquem dependentes de mim."
Jimmy se tornou um homem de negócios bem
sucedido. Que eu saiba, ele nunca soube quem
pagou por suas cirurgias. Seu benfeitor, o Sr.
Henry Ford, sempre disse que é mais divertido
fazer algo pelas pessoas quando elas não sabem
quem lhes fez o bem. |
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