Theresa Catharina de Góes Campos

 
De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 13 de fevereiro de 2010 12:23
Assunto: Brincando com letras de Carnaval

 
Leitores Seletos: 
 
O Diário de Pernambuco não publicará página com artigos na segunda-feira de Carnaval, quando seria dia do meu.
Antecipou os textos para este sábado de Carnaval e me pediu algo "light". Aí vai, logo abaixo e no anexo.
                                 Abraço, Tereza


PERGUNTAS DE ANTIGOS CARNAVAIS

 

Tereza Halliday – Artesã de Textos

 

Escrever para um sábado de carnaval no Recife sem falar no Galo da Madrugada? Impossível. Mas não pensem os fãs que ele é o único bacana do mundo. Meu afilhado Dejoel é todo vibração ao falar no Galo – o seu queridíssimo Clube Atlético Mineiro. Há galos para todos os gostos. Inclusive o miraculoso Galo de Barcelos, herói do folclore português.  

 

            “Ao som dos clarins de Momo”, fiz esta crônica de antigos carnavais com perguntas encontradas em letras de frevos, sambas, marchinhas; e respostas ditadas pela imaginação. “Nóis sofre mas nóis goza”.

 

 “Ô Jardineira, por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu?”

           Foi o Carnaval que perdeu a poesia e hoje está tão grosso que meu passo arrefeceu. “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme Fenelon, cadê teus blocos famosos?” Abriram alas para bandas de nomes bregas com vocalistas se esgoelando. Cantor, que é bom, perdeu o emprego. “Quem é você? Diga logo que eu quero saber”- curiosidade do Pierrô no Bloco dos Mascarados. Eu sou aquela “que às areias e gelos quis ensinar a primavera”.

 

             “Cadê Mario Melo?”, o combativo jornalista folião. “Partiu para a Eternidade” ao prever que a sua cidade se transformaria numa mixórdia urbana. “E no palanque sem fim lá do Espaço”, tudo vê e cai no passo, para esquecer. “Por que você mente tanto assim?”, provocou o maestro Nelson Ferreira. Minto para preencher um requisito da profissão de político - as sempre honrosas exceções confirmam a regra. Quando estou no Governo, sou faroleiro, conto o feito enfeitando.  Quando sou Oposição, falo mal até do que é bom.

 

            “Onde é que eu vou morar? Ainda mais com quatro filhos, onde é que eu vou ficar?” É no que dá fazer quatro filhos sem ter como os sustentar. “Ai com que roupa eu vou pro samba que você me convidou?” Vá vestido de palhaço mesmo, que é festa de brasileiros -  aqueles com uma das cargas tributárias mais altas do mundo. Meu Deus do Céu, onde andará Maria?”, canta o Bloco da Saudade. Maria aposentou-se e se enforcou na corda do crédito consignado.“Que bloco é este, tão lindo?” É o Bloco da Esperança de melhores dias.  Esperança de brasileiro -  folião ou recolhido - não arrefece nem na quarta-feira de cinzas.

 

  “Rosa, rosa, rosa, por que você murchou?”, inquiriu Capiba. Porque o carinho que me davam se esgotou.  “Cadê você? Será que você não vem? Isso não é coisa que se faça com ninguém”. Esta é a pergunta/queixa daquela minoria de cidadãos pontuais, que vivem levando bolo, tomando chá de cadeira e acreditam que falta de pontualidade é falta de palavra. “O que seria da vida, afinal, se não houvesse Carnaval?” Seria uma m..., responde o folião de carteirinha. Seria um bendito sossego, contrapõe quem detesta o reinado de Momo. Depende do olhar e do sentir de cada qual. Esquente não, meu irmão.  “Tudo passa neste passarás da vida... Tudo passa, tão depressa passará”.

 

É sábado de Carnaval no Recife. Cocoricó!  

 

(Diário de Pernambuco, 13/02/2010, p.A9)



Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.