PERGUNTAS DE ANTIGOS
CARNAVAIS
Tereza Halliday – Artesã
de Textos
Escrever para
um sábado de carnaval no
Recife sem falar no Galo da
Madrugada? Impossível. Mas
não pensem os fãs que ele é
o único bacana do mundo. Meu
afilhado Dejoel é todo
vibração ao falar no Galo –
o seu queridíssimo Clube
Atlético Mineiro. Há galos
para todos os gostos.
Inclusive o miraculoso Galo
de Barcelos, herói do
folclore português.
“Ao
som dos clarins de Momo”,
fiz esta crônica de antigos
carnavais com perguntas
encontradas em letras de
frevos, sambas, marchinhas;
e respostas ditadas pela
imaginação. “Nóis
sofre mas nóis goza”.
“Ô
Jardineira, por que estás
tão triste? Mas o que foi
que te aconteceu?”
Foi o Carnaval que perdeu a
poesia e hoje está tão
grosso que meu passo
arrefeceu. “Felinto,
Pedro Salgado, Guilherme
Fenelon, cadê teus blocos
famosos?” Abriram alas
para bandas de nomes bregas
com vocalistas se
esgoelando. Cantor, que é
bom, perdeu o emprego. “Quem
é você? Diga logo que eu
quero saber”-
curiosidade do Pierrô no
Bloco dos Mascarados. Eu sou
aquela “que às areias e
gelos quis ensinar a
primavera”.
“Cadê Mario Melo?”,
o combativo jornalista
folião. “Partiu para a
Eternidade” ao prever
que a sua cidade se
transformaria numa mixórdia
urbana. “E no palanque
sem fim lá do Espaço”,
tudo vê e cai no passo, para
esquecer. “Por que você
mente tanto assim?”,
provocou o maestro Nelson
Ferreira. Minto para
preencher um requisito da
profissão de político - as
sempre honrosas exceções
confirmam a regra. Quando
estou no Governo, sou
faroleiro, conto o feito
enfeitando. Quando sou
Oposição, falo mal até do
que é bom.
“Onde
é que eu vou morar? Ainda
mais com quatro filhos, onde
é que eu vou
ficar?” É no que dá
fazer quatro filhos sem ter
como os sustentar. “Ai
com que roupa eu vou pro
samba que você me convidou?”
Vá vestido de palhaço mesmo,
que é festa de brasileiros -
aqueles com uma das cargas
tributárias mais altas do
mundo. Meu Deus do Céu,
onde andará Maria?”,
canta o Bloco da Saudade.
Maria aposentou-se e se
enforcou na corda do crédito
consignado.“Que bloco é
este, tão lindo?” É o
Bloco da Esperança de
melhores dias. Esperança de
brasileiro - folião ou
recolhido - não arrefece nem
na quarta-feira de cinzas.
“Rosa,
rosa, rosa, por que você
murchou?”, inquiriu
Capiba. Porque o carinho que
me davam se esgotou. “Cadê
você? Será que você não vem?
Isso não é coisa que se faça
com ninguém”. Esta é a
pergunta/queixa daquela
minoria de cidadãos
pontuais, que vivem levando
bolo, tomando chá de cadeira
e acreditam que falta de
pontualidade é falta de
palavra. “O que seria da
vida, afinal, se não
houvesse Carnaval?”
Seria uma m..., responde o
folião de carteirinha. Seria
um bendito sossego,
contrapõe quem detesta o
reinado de Momo. Depende do
olhar e do sentir de cada
qual. Esquente não, meu
irmão. “Tudo
passa neste passarás da
vida... Tudo passa, tão
depressa passará”.
É sábado de
Carnaval no Recife.
Cocoricó!
(Diário de Pernambuco,
13/02/2010, p.A9)