PRECIOSA – UMA
HISTÓRIA DE ESPERANÇA
Uma história
dura que aborda a violência
familiar no âmbito
afro-americano, em Nova York,
narrada com muita sensibilidade,
faz de Preciosa – Uma
História de Esperança, de
Lee Daniels, um filme
contundente. Segundo o seu
diretor, ele foi realizado com o
objetivo de atingir o plano
universal. E o atinge, pois
conquistou, de início, os
prêmios de público de dois
importantes festivais: Sundance
e San Sebastián.
Baseado no
livro Push, de Sapphire (Ramona
Lofton), o roteiro de Geoffrey
S. Fletcher fixa a ambientação
da história em 1987, no Harlem,
de ruas imundas e prédios
grafitados, onde vive Claireece
Precious Jones (Gabourey Sidibe).
Ela é uma jovem de 16 anos,
obesa, semianalfabeta, grávida,
que já tem uma filha, sofredora
da síndrome de Down, sendo as
duas crianças filhas de seu
próprio pai.
Preciosa mora
num cubículo claustrofóbico com
a mãe, Mary (Mo´Nique), uma
desempregada, intolerante, que
se aproveita de programas de
assistência governamental à
criança Mongo (mongolóide), pela
qual, na verdade, não se
responsabiliza. Mongo vem sendo
criada não por ela, mas pela
bisavó em outro lugar. Quando a
diretora da escola descobre que
Preciosa está grávida, impede-a
de frequentar as aulas,
aconselhando-a a procurar uma
organização que oferece cursos
alternativos. É passando para
esses cursos que ela vai
conhecer algumas criaturas que
se sensibilizam com a sua
desventura ao ouvi-la clamar: -
O amor não fez nada por mim!
O amor me bate, me estupra, me
chama de animal, me faz sentir
uma inútil, enfim me deixa
doente.
A primeira
delas é a professora Ms. Blu
Rain (Paula Patton), que
estimula Preciosa a aprender a
ler e a escrever um pequeno
diário. A segunda é a assistente
social Ms. Weiss (Mariah Carey),
que a leva a refletir sobre os
males que lhe causam, mesmo que
involuntariamente, a sua
situação em casa. Quando ela se
interna num hospital para dar a
luz a Abdul, conhece o
enfermeiro John McFadden (Lenny
Kravitz), que lhe demonstra
também certa ternura.
Para Daniels –
que recebeu apoio, na produção e
divulgação do filme, de Oprah
Winfrey, apresentadora de um
programa de televisão de grande
audiência nos EUA -, o tema da
violência doméstica não é
inédito. Como produtor, tratou
da questão em Tennessee,
porém num tom mais ameno,
distante do de Preciosa – Uma
História de Esperança, o
qual ele, como diretor,
procurou, entretanto, atenuar,
insuflando, na narrativa,
elementos de fantasia e eflúvios
de esperança. Assim, conforme
explica, sem perder o espírito
original, a película não é o
livro que, se fosse transposto
literalmente para a tela,
resultaria em algo obscuro e
torturante para o espectador.
Embora
criativo, o realizador de
Matadores de Aluguel não se
arrisca a formular novos
procedimentos de narração. Tudo,
para ele, é na base do
convencional. Mas dá
extraordinária importância ao
que se passa no interior das
personagens para definir, em
termos estéticos, a
mise-en-scène. Por isso,
exige muito dos atores – que, no
geral, estão bem -,
principalmente Gourney Sibide,
uma estreante, escolhida para o
papel da protagonista, entre
mais de 400 candidatas, cujo
aparecimento representou, para
Daniels, segundo suas palavras,
um verdadeiro milagre.
Sibide,
tecnicamente bem preparada,
interioriza satisfatoriamente o
negativismo ingênuo de Preciosa
que, ao ser atacada, tanto no
lar como na rua, por desocupados
que zombam de sua obesidade, se
refugia sempre no mundo dos seus
sonhos. E é justo nesses
momentos de fantasia –
sublinhados por uma trilha
sonora de muita qualidade - que
a atriz ilumina a tela com a luz
do seu talento. Ou, em outras
palavras, ela mostra, com
categoria, que não foi só o
atributo físico que lhe
assegurou a escolha de Daniels
para ser a Preciosa.
Outra estrela
que brilha intensamente é Mo´Nique
no papel de Mary, mãe da
protagonista. Mais experiente, a
atriz tem instantes memoráveis,
especialmente quando, na
sequência final, tenta, em
diálogo, junto a Ms Wiess,
conseguir o retorno de Preciosa
e Abdul para casa.
Identifica-se, graças à sua
esplêndida atuação, que Mary
agira, em relação à filha, como
um animal. Fora mãe apenas por
instinto, jamais por reflexão.
Só quando se viu sozinha, sem o
amante, Mary compreendeu que
necessitava da companhia da
filha. Mas então já era tarde.
REYNALDO
DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO,
Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
PRECIOSA – UMA
HISTÓRIA DE ESPERANÇA
PRECIOUS
EUA/2009
Duração – 110
minutos
Direção – Lee
Daniels
Roteiro –
Geoffrey S. Fletcher, com base
no livro Push, de
Sapphire
Produção – Lee
Daniels, Oprah Winfrey, Tom
Heller
Fotografia –
Andrew Dunn e Darren Lew
Trilha Sonora
– Mario Grigorov
Edição – Joe
Klotz
Elenco –
Gabourey Sibide (Claireece
Precious Jones), Mo´Nique (Mary
Lee Johnston),
Paula Patton (Ms.
Blu Rain), Mariah Carey (Ms
Weiss), Lenny Kravitz (John
McFadden), Nealla Gordon (Mrs.
Sondra Lichtenstein), Stephanie
Andujar (Rita Moreno)