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A MEMÓRIA DOS ROMPIMENTOS DE AFETOS PROFUNDOS
Quando o rompimento da comunicação -
em mágoas visíveis ou dissimuladas -
atinge os afetos mais profundos,
as relações em seu íntimo atingidas,
passamos a viver a travessia de um deserto.
Sentimos todo o peso da desolação,
porque os laços de súbito rompidos,
na verdade continuam a existir
nas relações de sangue, eternas.
Na amizade, o rompimento também
se faz chocante, porque somos
de repente jogados, arremessados
às areias de um deserto sufocante.
O rompimento não sangra, como
no sangue a ferir de morte os laços
do amor iniciado no primeiro segundo,
na primeira respiração de vida.
Trágico, doloroso resultado
da interferência de terceiros,
efeito danoso, sinal indisfarçável do mal!
Atingindo em cheio o seu alvo: o amor.
Permanece ali a realidade da dor ...
porque faltou uma voz bondosa
para argumentar em nosso favor.
Ninguém fez a minha defesa,
mesmo sabendo do meu amor!
Assim ocorre, também, pela inveja,
nas lutas que ferem tantas amizades.
Quanto mais antigas, mais expostas!
Porque talvez mais desprotegidas.
Sobreviver nesses desertos
às tempestades de nossa dor
como seres submissos,
eis uma difícil travessia.
Na ausência de vozes decididas
a falar ou gritar em nosso favor.
Porque faltou o depoimento de outros
para o meu amor ressaltar...
em tantas décadas, o mesmo amor
demonstrado e vivido como pérola,
a pedra mais preciosa, o meu tesouro.
Quase sucumbi, de vez...nas areias
movediças por traição e covardia
das muitas vozes silenciadas
pela incessante ousadia
do mal que me arrancava
aqueles por mim mais amados,
desde sempre e para sempre.
Como eu não pereci?
A chave, o segredo nesse enigma
de como por surpresa sobrevivi,
pulsa nas forças do coração,
ouvindo por fim a música divina
que até hoje me mantém firme,
pelo espírito sempre iluminada.
Se a eternidade interrompe, existe
a esperança de, no futuro, unir.
Perder quem mais se amou
com o afeto devido aos laços de sangue,
é rompimento marcado por traumas.
Sofro com essa recorrente dor,
embora não possa, por mais que tente,
a real extensão expressar dessa dor.
Nas lágrimas, sobrevive a mesma dor.
Na memória, que também sobreviveu,
preciso a todo momento resgatar as forças
que superam as perdas do amor.
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília-DF, 31 de janeiro de 2010
De: REYNALDO
FERREIRA
Data: 21 de fevereiro de 2010 15:19
Assunto: RE: A MEMÓRIA DOS ROMPIMENTOS DE AFETOS
PROFUNDOS
Para: theresa
Prezada Theresa Catharina,
Belos e sentidos versos esses seus, escritos
agora ao início deste ano. Em "A Memória dos
Rompimentos de Afetos Profundos" há mágoas
guardadas, mas há igualmente um sentido de
superação dos rompimentos por uma chama de
esperança que alimenta o seu coração. Parabéns.
Forte abraço, Reynaldo
De: Luci Tiho
Ikari
Data: 21 de fevereiro de 2010 17:11
Assunto: Re: A MEMÓRIA DOS ROMPIMENTOS DE AFETOS
PROFUNDOS
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Theresa Catharina:
É muito bom para a saúde expor em palavras as
dores do coração. Torna a pessoa e sua alma mais
leves, para continuar a viver e enfrentar a
vida. E, você sabe expor com muita competência o
que vai no seu âmago. Verifiquei que os
primeiros imigrantes japoneses expunham suas
vivências e dificuldades, em seu tankas e
haicais, em japonês, pois eles eram
alfabetizados em japonês e não conseguiam
comunicar-se em português. E, precisavam expor
aquilo por que passavam e sentiam. Luci
De: Ana Falcão
Data: 21 de fevereiro de 2010 20:26
Assunto: Re: A MEMÓRIA DOS ROMPIMENTOS DE AFETOS
PROFUNDOS
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Querida Theresa Catharina,
Somente pessoas de sensibilidade aguçada, como
você, conseguem extrair palavras tão comoventes
a respeito de fatos tão dolorosos. Aqui você
reitera a "interferência de terceiros" que levam
à destruição de afetos profundos. A falta de um
"defensor" em momentos dificílimos talvez nem
tenha sido percebida pela maioria dos que a
cercam.
Você vai mais longe e lamenta a perda de quem
mais amou. Somente a música divina permitiu sua
superação , mas a lembrança da dor não pode ser
esquecida. Theresa: exemplo de vida para muitos
de nós.
Beijos
Ana
De: Tereza Lúcia
Halliday
Data: 21 de fevereiro de 2010 20:03
Assunto: Re: A MEMÓRIA DOS ROMPIMENTOS DE AFETOS
PROFUNDOS
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Therezita:
Para carregar e descarregar tantas perdas e
dores, que você corajosamente partilha com seus
leitores, é porque Deus a fez de "madeira de lei
que cupim não rói" (verso de famoso frevo de
Capiba).
Com carinho,
Tereza Lúcia
De: Theresa
Catharina de Goes Campos
Data: 25 de fevereiro de 2010 17:53
Assunto: Cheguei a mencionar, a algumas pessoas
próximas, o meu sentimento de surpresa com o
silêncio que me deixara ao abandono...elas
disseram que...Fwd: A MEMÓRIA DOS ROMPIMENTOS DE
AFETOS PROFUNDOS
Para: Ana Falcão
Amiga Ana:
Grata por sua compreensão, venho acrescentar que
terminei escrevendo tais versos porque se
impuseram a mim, cercando-me de forma sufocante,
tendo eu chegado à conclusão de que estava sem
um bom argumento para "engavetar" o que ocupava
o meu ser emotivo-intelectual. Preferia
esquecê-los, mas os poemas quase prontos me
convenceram de que seriam de alguma utilidade
para alguns leitores.
Embora haja detalhes que eu não consiga
explicitar, porque me envergonho da extensão e
profundidade dessa incompreensão que precisei
viver, não me posso impedir de revelar um fato:
cheguei a mencionar, a pessoas próximas, em
determinadas ocasiões, o meu sentimento de
surpresa com o silêncio delas, que me deixara ao
abandono... Explicaram que "não adiantaria
discutir" com a personalidade dominante, a
vontade mais poderosa, ainda que não tivessem
dúvidas de que a minha palavra era verdadeira...
A morte, porém, levou com sua mão firme,
inexorável, alguns familiares, sem que fossem
esclarecidas situações fundamentais para
rompermos barreiras maldosamente levantadas.
Quem se foi, demonstrou carregar mágoas pelo que
eu não fiz, deixando meu coração sem poder mais
tentar se defender. Para mim, restou a memória
de um desenlace total: o silêncio que seria
eterno, uma ausência de palavras a ferir minha
presença ignorada até no último instante. Como
esquecer isso, sem enlouquecer? Só com o amparo
de Deus!
Com toda a certeza, há muitos outros que viveram
experiências semelhantes e, como acontece
comigo, sentiram dores assim, como eu.
Espero que tenham recebido, igualmente, o
carinho da solidariedade, semelhante ao que você
não me deixou faltar. Muito obrigada.
Abraços afetuosos de
Theresa Catharina
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De: Ana Falcão
Data: 21 de fevereiro de 2010 20:26
Assunto: Re: A MEMÓRIA DOS ROMPIMENTOS DE AFETOS
PROFUNDOS
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Querida Theresa Catharina,
(...)
A falta de um "defensor" em momentos dificílimos
talvez nem tenha sido percebida pela maioria dos
que a cercam. (...)
Ana
De: Theresa
Catharina de Goes Campos
Data: 22 de fevereiro de 2010 20:29
Assunto:Re: A MEMÓRIA DOS ROMPIMENTOS DE AFETOS
PROFUNDOS
Para: Tereza Lúcia Halliday
Agradeço, Tereza Lúcia, o seu comentário com o
belo e original verso do criativo Capiba. Com o
meu muito obrigada pela gentileza de sua
mensagem, cito as palavras que encerram "Terra
dos Homens", de Saint-Exupéry: "Só o Espírito,
soprando sobre a argila, pode formar o homem."
Therezita
De: Theresa
Catharina de Goes Campos
Data: 22 de fevereiro de 2010 19:58
Assunto: Re: A MEMÓRIA DOS ROMPIMENTOS DE AFETOS
PROFUNDOS
Para: artemis coelho
Caríssima Artemis:
Obrigada pela generosidade de suas
palavras...conhecendo você, como amiga, uma
parte de toda "ESSA DOR", entretanto, você não
conhece "toda a extensão dessa dor" (equivalente
a: essa dor em sua extensão total). E você não
conhece porque, em nenhuma das conversas que
mantivemos, eu consegui reunir as forças
necessárias para lhe contar todas as peças que
compõem o enigma dessa dor não-ficcional. Eis o
motivo pelo qual você também não conhece: porque
jamais revelei, ou jamais consegui colocar em
palavras, para ninguém, TODA A EXTENSÃO DESSA
DOR.
(Deus conhece, Ele sabe, porque tudo conhece,
sendo onipresente e onisciente. Por isso não
preciso colocar em palavras para Ele. Porque
Deus conhece toda a minha vida e o meu coração
em toda a sua extensão...desde sempre, sempre.)
EU PENSO CONHECER ESSA DOR EM TODA A SUA
EXTENSÃO. No poema, contudo, minha idéia para o
verso foi ressaltar que NÃO SEI EXPRESSAR TODA A
EXTENSÃO DESSA DOR.
Devido ao ritmo que escolhi dar a meus versos
nas estrofes, sobretudo repetindo,
intencionalmente, muitas vezes, o vocábulo
"dor", numa palavra-rima propositalmente
escolhida para o tema geral da poesia em questão
, aqui não cabe, porém, escrever "essa dor",
"expressar essa dor" porque, no poema, eu afirmo
ser capaz de expressar essa dor, mas quero
enfatizar o fato de, mesmo eu conhecendo uma
realidade de sofrimento maior: eu (ainda? ou
definitivamente?, só Deus sabe, eu não sei!) não
ser capaz de expressar "toda a extensão dessa
dor" . Eis a diferença do pensamento e da
regência gramatical necessária para o
ordenamento das palavras usadas na transmissão
dessa idéia.
Observe a diferença que existe, talvez uma
nuança, porém, segundo os estudiosos literários,
tais sutilezas têm a sua utilidade para os
poetas...
Expressar a dor, expressar essa dor....no
entanto, expressar a extensão inteira dessa dor,
toda a extensão dessa dor (essa dor em toda a
sua profundidade não foi colocada nos versos,
porque toda a extensão dessa dor existe ,apenas,
gravada na sua totalidade, em toda a sua
extensão está conhecida somente no âmago do
sujeito que escreve a poesia e talvez ainda se
acanhe de revelar a verdade em toda a sua
extensão, porque toda a extensão dessa verdade
talvez não seja expressa porque atingiria o
sentimento de dignidade pessoal, colocando o
narrador em situação por demais humilhante...
Afinal, ser vítima, incapaz de desfazer o mal, é
uma situação muito humilhante.
Ainda bem que, na fé cristã, a humilhação,
segundo os valores do mundo, assume um valor de
nobreza, estando a qualificação negativa
reservada para aqueles que humilharem o seu
próximo. Ainda bem que, no cristinianismo, a fé
nos orienta a esperar a realização da justiça
divina, quando o bem sairá vitorioso!
Agradecendo, mais uma vez, o seu incentivo e a
sua colaboração, envio abraços afetuosos.
Theresa Catharina
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Em 22 de fevereiro
de 2010 18:34, artemis coelho escreveu:
Muito lindo - muito 'seu'.
Se me permite a correção ou sugestão no
penúltimo verso:"expressar essa dor" ou
"expressa dessa dor" ou ainda "a real expressão
dessa dor". |
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