Esta peça é uma
paródia do Édipo Rei, de
Sófocles.
Nela aparecem
personagens que não têm
qualquer ligação com
figuras da cena política
nacional, do passado ou
do presente, sendo que a
ação, única, se passa,
segundo os preceitos
clássicos da tragédia
grega, dentro das
unidades de lugar - o
átrio do Palácio Real –
e de tempo, ou seja, o
período que medeia a
realização de duas
olimpíadas, no caso, a
de Atenas, e a de
Pequim.
A
história se situa num
reino fictício
latino-americano, onde o
soberano, despreparado
para exercer as funções
de chefe de estado, e
pressionado por
representantes da ralé
do Partido que o elegeu,
se vê forçado a criar
falsas expectativas em
seus súditos diante dos
sucessivos escândalos
que afetam sua
administração.
Os
partidários cobram de
Lullius Rei uma atitude
diferente da que adotara
Édipo Rei, que nada
sabia do que vinha
acontecendo no Reino de
Tebas. Embora se
comprometa nesse sentido
com o Partido, o
protagonista mudará,
logo em seguida, de
opinião. Ele terá de
aceitar a sugestão do
Fundo Crucial, feita por
intermédio do ministro
da Economia, dom
Pagliari, de adotar a
Teoria da Estagnação,
inspirada no rito da
tragédia de Sófocles,
para conseguir superar,
no futuro, os problemas
do crescimento
econômico, que o
assoberbam.
Recalcitrante, de
início, pois não deseja
passar para a história
como um rei moleirão que
nada sabia sobre o que
acontecia à sua volta,
Lullius Rei só aceita
fazer o jogo da
personagem, de acordo
com a técnica
pirandelliana, depois de
ver o seu orientador
econômico, dom Salvino,
adotar também o papel de
Robin Hood, que o
inspirara desde a
infância.
A
decisão de Lullius Rei -
já considerado por todos
como um grande ator - de
interpretar o papel de
Édipo Rei agrada
igualmente ao presidente
do Banco Central, Tony
Marvel, que se vê às
voltas com os
investidores externos,
sequiosos de presenciar
situações dramáticas no
Reino.
Assumindo,
portanto, a identidade
de Édipo Rei, terá
Lullius Rei de se
submeter ao
interrogatório de um
Procurador, que visitou
sua cidade natal para
recolher informações
sobre sua origem, pois
pesa sobre ele a
acusação de estar casado
com a mãe e de haver
mandado matar o pai,
como acontecera com o
Rei de Tebas.
O
Procurador faz
revelações importantes,
que acabam por convencer
Lullius Rei de que ele
realmente era filho do
conde Daniel Del Laios,
prefeito de Santo
Andraus dos Engodos,
assassinado em
circunstâncias
misteriosas. E que
também estava casado com
Jocasta, sua mãe, que
adotara cidadania
estrangeira para
esquecer o seu passado
de escrava.
O
protagonista, porém,
avesso às questões de
ordem moral, se recusa a
aceitar o destino de
Édipo Rei diante da
pressão do Coro, que
clama pela punição dos
deuses para os crimes
por ele eventualmente
perpetrados. Lullius Rei
que, na verdade, se
chama Lullius Tullius
Gracus Andronicus da
Selva, como lhe revelou
o Procurador, quer que
um jardineiro infiel,
que flagrara dom
Pagliari em situação
indecorosa, fique cego,
em seu lugar, como
Édipo Rei e,
desempregado, perambule
pelo Reino sem rumo
certo a seguir.
Mas
os deuses poderão punir
Lullius Rei de forma
diferente. O final, como
prevê o Coro, será
trágico!...
O
AUTOR