Theresa Catharina de Góes Campos

 

APRESENTAÇÃO DE LULLIUS REI, TRAGICOMÉDIA - Reynaldo Domingos Ferreira

      Esta peça é uma paródia do Édipo Rei, de Sófocles.

      Nela aparecem personagens que não têm qualquer ligação com figuras da cena política nacional, do passado ou do presente, sendo que a ação, única, se passa, segundo os preceitos clássicos da tragédia grega, dentro das unidades de lugar  - o átrio do Palácio Real – e de tempo, ou seja, o período que medeia a realização de duas olimpíadas, no caso, a de Atenas, e a de Pequim.

      A história se situa num reino fictício latino-americano, onde o soberano, despreparado para exercer as funções de chefe de estado, e pressionado por representantes da ralé do Partido que o elegeu, se vê forçado a criar falsas expectativas em seus súditos diante dos sucessivos escândalos que afetam sua administração.

      Os partidários cobram de Lullius Rei uma atitude diferente da que adotara Édipo Rei, que nada sabia do que vinha acontecendo no Reino de Tebas. Embora se comprometa nesse sentido com o Partido, o protagonista mudará, logo em seguida, de opinião. Ele terá de aceitar a sugestão do Fundo Crucial, feita por intermédio do ministro da Economia, dom Pagliari, de adotar a Teoria da Estagnação, inspirada no rito da tragédia de Sófocles, para conseguir superar, no futuro, os problemas do crescimento econômico, que o assoberbam.

      Recalcitrante, de início, pois não deseja passar para a história como um rei moleirão que nada sabia sobre o que acontecia à sua volta, Lullius Rei só aceita fazer o jogo da personagem, de acordo com a técnica pirandelliana, depois de ver o seu orientador econômico, dom Salvino, adotar também o papel de Robin Hood, que o inspirara desde a infância.

     A decisão de Lullius Rei - já considerado por todos como um grande ator - de interpretar o papel de Édipo Rei agrada igualmente ao presidente do Banco Central, Tony Marvel, que se vê às voltas com os investidores externos, sequiosos de presenciar situações dramáticas no Reino.

      Assumindo, portanto, a identidade de Édipo Rei, terá Lullius Rei de se submeter ao interrogatório de um Procurador, que visitou sua cidade natal para recolher informações sobre sua origem, pois pesa sobre ele a acusação de estar casado com a mãe e de haver mandado matar o pai, como acontecera com o Rei de Tebas.

     O Procurador faz revelações importantes, que acabam por convencer Lullius Rei de que ele realmente era filho do conde Daniel Del Laios, prefeito de Santo Andraus dos Engodos, assassinado em circunstâncias misteriosas. E que também estava casado com Jocasta, sua mãe, que adotara cidadania estrangeira para esquecer o seu passado de  escrava.

      O protagonista, porém, avesso às questões de ordem moral, se recusa a aceitar o destino de Édipo Rei diante da pressão do Coro, que clama pela punição dos deuses para os crimes por ele eventualmente perpetrados. Lullius Rei que, na verdade, se chama Lullius Tullius Gracus Andronicus da Selva, como lhe revelou o Procurador, quer que um jardineiro infiel, que flagrara dom Pagliari em situação indecorosa, fique cego, em seu lugar, como Édipo Rei e, desempregado, perambule pelo Reino sem rumo certo a seguir.

     Mas os deuses poderão punir Lullius Rei de forma diferente. O final, como prevê o Coro, será trágico!...

                                                O AUTOR

 

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