FALTA
SIMANCOL NOS
SUPERMERCADOS
Tereza
Halliday – Artesã de Textos
Para quem
ainda desconhece que
Simancol não é um produto de
limpeza, esclareço ser
invenção antiga de
humoristas do quotidiano
para designar um remédio que
curaria certos
comportamentos indesejáveis,
demonstrados
persistentemente, seja por
ignorância, seja por
teimosia. Daí dizer-se que
alguém precisa “tomar chá de
Simancol”, a fim de se
mancar. Ou que “Fulano não
tem mancômetro” - um
hipotético medidor de
razoabilidade para mostrar
ao contumaz até onde deve ir
e quando está bom de parar.
Os
supermercados demonstram
carência de mancômetro
ao manter, como tática
de vendas, o assédio
auditivo a seus clientes,
anunciando incessantemente
produtos dentro das lojas. O
bla-bla-bla vem com
impostação de voz de
animador de auditório ou
palhaço de circo, usando
surrados bordões: “Vá
logo! Não perca! Oferta
sensacional! Apenas tantos
reais”. Tática
manjadíssima de sedução
comercial, instrumento de
tortura mental para extrair
da vítima o ato de compra.
Acrescente-se a onipresente
emissora de rádio interna -
garota propaganda travestida
de canal de utilidade
pública. Afrontam a lei da
poluição sonora.
Todos os
caixas a quem perguntei como
agüentavam aquilo o dia
inteiro disseram que
aprendem a “desligar”
mentalmente, senão o
estresse seria demais. Ponto
positivo para eles, que nos
tratam com cortesia e
paciência, mesmo submetidos
a tais condições de
trabalho. Alguns fregueses
também conseguem desligar-se
das mensagens matraqueadas.
Outros, saem o mais rápido
possível, azucrinados. Já se
foi o tempo em que dava
gosto ir a supermercado –
era fresquinho, com suave
música de fundo. Diziam até
que o repertório romântico,
tocado baixinho, induzia a
comprar mais. Hoje, somos
vítimas de estupro auditivo
– penetração dos ouvidos, à
força, por anunciantes
tagarelas. Por que não nos
deixam fazer compras
sossegados?
O
esgotamento físico e mental
depois da ida ao
supermercado pode ser
atribuído à má circulação do
ar e à poluição sonora. Nem
toda ideia de marqueteiro
bem-intencionado é boa. Um
espaço de loja abarrotado de
som, com assédio comercial
de duvidosa eficácia é uma
ideia genial? Diretores e
gerentes dessas macro-lojas
precisam tomar Simancol.
Estão aí as novas
disposições do Ministério
Público em prol de ambientes
despoluídos de sons tóxicos,
como as mensagens
publicitárias impostas em
lojas e ruas.
É árduo
administrar supermercados e
ter de mostrar serviço às
instâncias superiores da
empresa, na matriz. Mas não
é somente o patrão que
precisa ser satisfeito. O
cliente também deve ser
respeitado e cativado com um
ambiente agradável de ficar.
Quando ele/ela sente-se bem,
sem calor, nem assédio de
som, curtindo suave música
de fundo, compra mais e fala
bem da loja. Se os
supermercados,
inteligentemente, tomarem
Simancol, novas diretrizes
hão de melhorar os locais de
compra, promover o bem-estar
dos freqüentadores e até
conseguir o tão almejado
aumento de vendas.
(Diário de Pernambuco,
12/04/2010 – p.A-11)
Tereza Lúcia
Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
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