Theresa Catharina de Góes Campos

 
De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 26 de abril de 2010 09:07
Assunto: Artigo quinzenal - uma explicação para vocês


 

ENTRE LEITOR E TEXTO

 

Tereza Halliday – Artesã de Textos

 

Alguns leitores gostam de me dar motes para glosar em prosa neste espaço. Geralmente desejam envolver-me como propagadora da nobre causa à qual se dedicam.  Acreditam que eu seja “formadora de opinião”.  Também recebo exortações para “comprar brigas”, meter o sarrafo nalgum ultraje à ética ou à cidadania. Quando fui repórter e colunista do Diário de Pernambuco, por vários anos entrei em bons combates de interesse público. Acabaram me deixando como a minha xará do romance de Jorge Amado: hoje, sou outra Tereza cansada de guerra.

 

Felizmente, ao convidar-me para colaborar com esta página de opinião, o Superintendente Joezil Barros sugeriu que eu criasse “textos light para uma segunda-feira”. Afinados, pois, com minha atual fase criativa. Não é só pintor que tem fase. A esta altura do meu artesanato de texto, quando uma crítica emerge, procuro seguir os ensinamentos do prof. Francisco Gomes de Matos, Lingüista da Paz: criticar positivamente, sem destilar raiva nem menosprezo.

 

Sugestões de temas são bem-vindas, mas não posso assumir compromisso com eles. Vão para a minha Pasta de Ideias, de onde talvez, um dia “estalem” em centelha de produção de texto. O assunto precisa predominar espontaneamente em certo espaço da alma, em determinado momento. Posso impressionar-me, indignar-me, maravilhar-me com alguma coisa, mas isto não leva necessariamente ao impulso que desencadeia o primeiro rascunho do que será impresso aqui, depois de muito reescrever, para que fique enxuto. Não sei explicar quando nem como a concepção do bebê-texto ocorre. Só sei que a gestação é trabalhosa.

 

A crença do leitor no meu pretenso poder como “formadora de opinião” é equivocada. No curso de Jornalismo dos meus verdes anos, já aprendíamos como defasada a velha Teoria da Agulha Hipodérmica, segundo a qual, injetando-se mensagens nos meios de comunicação de massa (expressão que antecedeu o coletivo “a mídia”), conseguia-se o efeito pretendido. Descobriu-se que o poder de influenciar está menos na ampla difusão e mais nos contatos interpessoais com gente de grande significado para os recebedores das mensagens. Hoje, esse poder é exercido via Internet, em blogs e redes sociais (Facebook, Orkut...) – terreno dos formadores de opinião deste trecho de século.

 

Autor de artigo de jornal não move montanhas só porque endossa uma causa ou alerta para um perigo. Na minha experiência de modesta redatora, o máximo que consigo é lavar a alma de vários leitores, como o atestam e-mails com o comentário: “É isto mesmo que eu gostaria de ter dito!” Paulo Gadelha, articulista nesta página, escreveu: “todo cronista é instrumento das emoções, anseios, sonhos e devaneios de seus leitores”. Seríamos também instrumentos de conserto da sociedade? Quem nos dera! Contento-me em fazer ver de um certo jeito, compartilhar informação, percepções, valores. E ser parceira do leitor nas interjeições do quotidiano.
 

         (Diário de Pernambuco, 26/04/2010, p.A-15)  

 

Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.