ZONA VERDE
Enquanto ocorre, em 2003, a
invasão do Iraque, elementos
da CIA e do Pentágono,
aturdidos por falsas
informações, que lhes são
fornecidas de Washington,
empreendem, cada qual à sua
maneira, a fracassada
operação de busca de armas
de destruição em massa, em
Zona Verde, vigoroso
thriller, realizado
em linguagem
pseudo-documental pelo
cineasta britânico Paul
Greengrass.
Com base no livro
Imperial Life in the Emerald
City, de Rajiv
Chandrasekaran, jornalista
do The Washington Post,
e em pesquisas feitas por
Kate Solomon e Michael
Bronner – colaboradores de
Greengrass em Vôo 93
-, Brian Helgeland elaborou
roteiro de muitas
insinuações – tantas que
acabaram por suscitar
críticas, ao filme, de ser
antiamericano - em que fatos
reais se ajustam à ficção
para desenvolver uma trama
de cunho político e rica em
lances de ação.
A película, rodada na
Espanha e no Marrocos,
reconstitui, em suas
sequências iniciais, com
bastante veracidade, a
situação de pânico que deve
ter tomado conta de Bagdá
nos momentos que antecederam
a ocupação da cidade pelos
americanos. Em tempo
contínuo, o oficial do
Exército dos EUA, Roy Miller
(Matt Damon), comissionado
para integrar a força-tarefa
da CIA incumbida de
localizar armas de
destruição em massa, que
deram motivação à guerra,
causa irritação, durante um
briefing, aos seus
superiores, que o
repreendem e o obrigam a se
calar. Ele afirmara
simplesmente que se
revelaram infundadas, depois
de testadas, todas as
informações por ele
recebidas a respeito, vindas
de Washington.
À saída, Miller é abordado
por Martin Brown (Brendan
Gleeson), agente da CIA
baseado no Oriente Médio,
que lhe dá respaldo ao que
dissera. Brown o adverte, a
propósito, de que o próximo
local em que deverá ele
fazer inspeção também está
vazio, pois nada fora
encontrado por uma equipe de
agentes que lá estivera
meses atrás. Enquanto isso,
no aeroporto, Clark
Poundstone (Greg Kinnear),
agente de inteligência do
Pentágono, ao dar boas
vindas a Ahmed Zubadi (Raad
Rawi), político iraquiano
que retorna ao país para
colaborar com os invasores,
é abordado pela jornalista
Lawrie Dayne (Amy Ryan), do
Wall Street Journal,
que quer falar com um tal de
Magellan.
Em outro ponto da cidade, o
general iraquiano Mohammed
Al-Rawi (Yigal Naor) chega,
sob muita proteção, a uma
residência para se reunir,
clandestinamente, com os
seus subordinados, aos quais
sugere que fiquem de alerta
à espera da possibilidade de
os americanos os convidarem
a se integrarem às suas
forças. Ao descer do carro,
contudo, ele é identificado
por um iraquiano, Freddie (Khalid
Abdalla), que o denuncia a
Miller. Este parte, com os
seus homens, em perseguição
a Al-Rawi, que, entretanto,
consegue escapar.
São essas as figuras
principais da trama, narrada
em ritmo tenso a todo o
tempo por Greengrass, que
faz com que o espectador não
só veja, mas participe da
ação. Para conseguir isso,
ele repete, em termos de
linguagem, a estratégia de
O Ultimato Bourne –
único filme da trilogia
indicado ao Oscar -, usando
câmara portátil, pela qual
escolhe ângulos para captar,
com precisão, a evolução dos
acontecimentos. Pontua a
narrativa com um eficiente
comentário musical, de
entonação dramática, com
destaque para instrumentos
de percussão, de John
Powell. E volta a contar com
o primoroso trabalho de
edição do premiado
Christopher Rouse. Além de
tudo isso, tem novamente
Matt Damon na impecável
interpretação do
protagonista Roy Miller,
personagem inspirado no
oficial do Exército Richard
“Monty” Gonzalez. Damon
caracteriza Miller como um
técnico experiente, que não
se deixa levar facilmente
por emoções, mas que mostra
uma ponta de indignação, no
momento apropriado, por
estar sendo enganado por uma
sucessão de ordens falsas
que lhe são dadas.
Entre os demais integrantes
do elenco destacam-se: Yigal
Naor (O Suspeito),
numa composição rigorosa do
general Mohammed Al-Rawi,
ex-informante do governo dos
EUA, que tem como momento
máximo o embate com Miller,
ao qual afirma: - Tudo o
que o seu governo insistia
em querer ouvir era mentira;
Brendan Gleeson, o Martin
Brown, da CIA, e Greg
Kinnear, o Clark Poundstone,
da inteligência do
Pentágono, que comandam as
disputas mesquinhas entre os
americanos, estão também
muito bem, assim como Jason
Isaacs, que retrata, em
breve aparição, o Major
Briggs, um desleal
integrante da força
invasora; e principalmente
Khalid Abdalla, como Freddie,
que confirma por outra
correta interpretação a boa
impressão que dele guardara
Greengrass como o terrorista
Ziad Jaerah, que assumira o
comando do avião sequestrado
no dia 9 de setembro de
2001, em Vôo 93.
REYNALDO DOMINGOS
FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
ZONA VERDE
GREEN ZONE
EUA, Reino Unido,
França, Espanha/2010
Duração – 118 minutos
Direção – Paul Greengrass
Roteiro – Brian Helgeland,
com base no livro
Imperial Life in the Emerald
City, de Rajiv
Chandrasenkaran
Produção – Tim Bevan, Eric
Feliner, Lloyd Levan e Paul
Greengrass
Fotografia – Barry Ackroyd
Trilha Sonora – John Powell
Edição – Christopher Rouse
Elenco – Matt Damon (Roy
Miller), Brendan Gleeson
(Martin Brown), Greg Kinnear
( Clark Poundstone), Yigal
Naor ( gen. Mohammed Al-Rawi),
Khalid Abdalla (Freddie),
Amy Ryan (Lawrie Dayne).