POR
QUE DR. GOOGLE FAZ
SUCESSO?
Tereza
Halliday – Artesã de Textos
Na edição de
10/05/2010, p. A-14, este
jornal publicou reportagem
sobre os erros a que estão
sujeitos os que consultam a
Internet para orientar-se
sobre saúde, doença,
medicamentos. Há perigos
nesse “consultório médico”
online, onde
orientações úteis e idôneas
se misturam com afirmativas
inverídicas, contraditórias
e difíceis de interpretar
por leigos em Medicina. A
esse território de
conhecimento nem sempre
confiável, deu-se a alcunha
de “Dr. Google” - nome do
mais utilizado site de
busca.
Por que Dr.
Google faz tanto sucesso?
Porque os
médicos de carne e osso, com
raras e honrosas exceções,
não conseguem dar aos
pacientes a atenção
necessária, desejável e
desejada. Nem me refiro ao
sufoco dos profissionais de
saúde do SUS, fazendo das
tripas coração para atender
com um mínimo de eficiência
e dignidade seus pacientes
pobres - a palavra pobre
não é ofensiva, designa
apenas um status penoso.
Dr. Google é
popular entre pacientes que
pagam planos de saúde.
Preferem investir tempo no
consultório virtual a gastar
vida em salas de espera com
ar condicionado, onde impera
a falta de pontualidade,
seja com hora marcada seja
por ordem de chegada. Com as
sempre honrosas exceções.
Médicos de convênio também
são pressionados a cumprir
quotas de atendimento e se
esfalfam correndo de um lado
para outro, entre emprego
público, plantões e
consultório. Aí, a gente se
agarra com o dr. Google,
tentando evitar as longas
esperas por data de
consulta, autorizações da
seguradora e, finalmente,
atendimento curto.
Dr. Google
faz sucesso porque nossa
insegurança diante das
doenças já não encontra
socorro completo nos médicos
- sacrificados, estressados,
tomando ansiolíticos para
agüentar a barra e prestando
serviços sofríveis que os
deixam frustrados e frustram
os pacientes. E quando um
afiliado a plano de saúde
lança mão de sua poupança
para comprar consulta
particular de ilustre médico
sem convênio, tanto pode
encontrar um gentleman
como um arrogante sem
predicados humanos. Certo
especialista colunável,
diante da pergunta
pertinente de um jovem
paciente assustado,
respondeu: “Eu
não estudei oito anos de
Medicina para lhe dar aula”.
E haja Dr.
Google. “Ele” pode nos
prejudicar com erros de
diagnóstico e tratamento,
mas é benéfico ao diminuir a
ignorância do leigo e
quebrar o monopólio da
informação médica. Foi o
caso de uma esposa,
acompanhando, de consultório
em consultório, o marido
seriamente enfermo. Graças
ao dr. Google, evitou que o
doente tomasse medicamentos
incompatíveis entre si, pois
o especialista A se esqueceu
de verificar o que fora
receitado pelos
especialistas B e C. Aliás,
tornou-se corriqueiro
hospitais e médicos se
encostarem na “assessoria”
dos parentes acompanhantes.
Que os motivos do sucesso do
Dr. Google sejam discutidos
em salas de aulas das
faculdades de Medicina e
analisados pelos CRMs, que
tanto se esforçam para
melhorar o desempenho da
profissão.
(Diário
de Pernambuco,
24/05/2020,p.C-5)
Tereza
Lúcia Halliday,
Ph.D.
Artesã de
Textos
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