Theresa Catharina de Góes Campos

 
De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 6 de junho de 2010 23:50
Assunto: Tem de tudo na Copa do Mundo

 
Um "causo" futebolístico, neste meu artigo quinzenal. Tereza.
 

MINORIAS NA COPA DO MUNDO

 

Tereza Halliday – Artesã de Textos

 

 

Em tempo de Copa do Mundo, registro duas minorias, merecedoras de respeito como toda minoria pacífica: os torcedores quadrienais e os que não se interessam por futebol em tempo algum. Entre os primeiros, há os que nada têm a contribuir para a alta dose de adrenalina coletiva do momento. Torcem quietos. Entre os indiferentes, há os que vibram com outros esportes e acompanham os respectivos campeonatos. Um minoritário comentou: “temo ser considerado um mau brasileiro, carente de patriotismo”. Isto porque não dá a mínima para o culto do gramado e seus 11 apóstolos da bola. Lembrei-lhe de um dito de minha avó, funcionária pública federal exemplar: “Patriotismo a gente demonstra com trabalho e honestidade no serviço público”. Gol de placa da minha mentora.

 

A cada Copa do Mundo, relembro um episódio que sempre me faz rir de novo. Em certo ano em que o Brasil conquistou a Taça Jules Rimet, eu estava em São Paulo assistindo à partida final no apartamento de Heloíza Matos, amiga, docente-pesquisadora da USP e minha anfitriã naquela semana. Éramos apenas duas telespectadoras.

 

 Cumprindo nosso dever cívico, acompanhávamos os lances de chuteiras, peitos e cabeças. Lamentávamos que a distância da cena não permitisse ver os rostos dos jogadores bonitões. Seria um incentivo para manter o interesse pela partida. Tínhamos de nos contentar com a bola, os feixes de músculos e as camisas coloridas encharcadas de suor. Que desodorante superpotente usariam? Não consegui ver a marca entre as numerosas propagandas de outros produtos, exibidas no campo e em todos os cantos da tela, atrapalhando o espetáculo. Que não esquecêssemos: o jogo pelo qual se morre de infarto, na alegria ou na tristeza, é um big business cujo propósito maior é fazer das empresas patrocinadoras campeãs de vendas.

 

Lá para as tantas, houve um gol – não me lembro se foi o decisivo. Heloíza e eu nos entreolhamos e dissemos ao mesmo tempo: gol. Sem ponto de exclamação, nem grito, nem berro.  A mente apenas registrava o acontecido para o qual havia um nome: gol. O que se seguiu foi o melhor da partida. Caímos na risada, ante o nível do nosso empolgamento. Merecíamos uma à outra como parceiras de plateia. Rimos e rimos e conseguimos chegar ao fim do primeiro tempo na maior descontração. Durante o intervalo, preparamos um café bem forte, a fim de atravessar o segundo tempo sem cochilar. Ao contrário do segundo ato de uma peça, ou do segundo movimento de um concerto, o segundo tempo de um jogo de futebol é um repeteco de coreografia.

 

O Brasil foi campeão. Os prédios fremiam com o foguetório, o tum-tum-tum de pés a pular, a energia brasílica esborrando por todos os lados. Fomos para a Avenida Paulista a fim de participar do carnaval da vitória. Pouca esperança de ouvir os acordes de Vassourinhas na mais cosmopolita via paulistana. Mas eu não perderia um carnaval de rua, nem mesmo por falta de frevo.

(Diário de Pernambuco, 07/06/2010, P.A9).


Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.