Abraço cheirando a
manjericão, que
enfeitava os cabelos
das meninas, e
folhas de eucalipto
que eram colocadas
no chão
forró. Isto, em mil
novecentos e
antigamente. T.
O
GRANDE JOÃO DAS
FOGUEIRAS
Tereza Halliday –
Artesã de Textos
Minha mãe, de quase
90 anos, disse que
sua mais viva
lembrança dos anos
50 é “o acender da
fogueira de São
João”, à beira da
nossa calçada – Av.
Dep. Souto Filho,
132, em frente ao
Colégio de Caruaru,
hoje Diocesano. De
tamanho médio, era
feita de material
reciclado - achas de
lenha da madeira de
dormentes
estragados, da
estrada de ferro. A
macro-fogueira do
Bairro Novo era em
frente à casa dos
Mastroianni. Até os
muito pobres se
esforçavam por
arrumar, nem que
fosse um punhadinho
de lenha para
acender em honra do
santo porque, se não
o fizessem, “o diabo
viria dançar diante
da casa sem
fogueira”!
Fogueira pagã, das
celebrações do
solstício de verão
em toda a Europa,
que ainda guarda
esta tradição no
século 21,
sincretizada na
homenagem ao primo
de Jesus Cristo:
João, o Batista, ou
Batizador. Da
Estônia a Portugal,
dos países
escandinavos às
Ilhas Britânicas, a
noite de 23 de junho
é iluminada por esse
fogo sagrado, de
raízes milenares.
Cristianizando o
ritual, corre esta
lenda: Isabel, mãe
de João, teria
acendido uma
fogueira no topo de
um monte a fim de
avisar a Maria, sua
prima e futura mãe
de Jesus, do
nascimento do seu
bebê. João foi fruto
de um milagre:
Isabel era estéril,
além de idosa, como
seu marido Zacarias,
sacerdote do templo
judaico. Por
intervenção divina,
fizeram o filho,
predestinado a ser
profeta e pregador,
anunciando a vinda
do Messias, a quem
batizou no rio
Jordão. Profissão:
pastor; domicílio: o
deserto; dieta:
gafanhotos e mel;
vocação: asceta. Foi
preso e degolado por
repreender
publicamente o rei
Herodes, que
mantinha um caso com
a própria cunhada.
Drama de fazer
inveja às
telenovelas.
João Batista tem seu
dia no calendário de
festas: 24 de junho,
feriado em diversos
países. Seu nome tem
sido dado a milhões
de bebês através dos
séculos - um dos
mais comuns em
vários idiomas:
João, Juan, Joám,
John, Jean,
Giovanni, Johann,
Jaani...
Reverenciado pelas
igrejas Católica,
Ortodoxa e
Anglicana. O Novo
Testamento registra
seu nascimento e
missão: Marcos 1,
4-8; Lucas 1, 5-25 e
39-80. Os
evangélicos o honram
como grande profeta.
Para os espíritas, é
uma encarnação do
profeta Elias. Na
religião
afro-brasileira, é
uma das
manifestações do
orixá Xangô,
promovendo a saúde e
o conhecimento. Nos
forrós, regados a
cachaça, ninguém se
lembra do grande
João, nem sabe que
ele fez voto de
abster-se de bebidas
intoxicantes.
Mesmo que Santo
Antonio tenha seu
fã-clube garantido e
interesseiro, mesmo
que São Pedro seja
chaleirado como
porteiro do Céu,
capaz de facilitar
nossa entrada, o
mais popular do
tríduo junino é
mesmo João.
Representado em
estampa antiga como
um menino abraçado a
um cordeiro,
inspirou este baião
de Luiz Gonzaga: “Ai,
São João / São João
do carneirinho/ Você
é tão
bonzinho/ Fale cum
São José.... peça
prele me ajudá/,
peça pro meu mio dá/
vinte espiga em cada
pé”. Ah, essa
mania de usar os
santos como
pistolões...
(Diário de
Pernambuco,
21/06/2010, p.A-11)
Tereza Lúcia
Halliday,
Ph.D.
Artesã de
Textos
www.terezahalliday.com
De: Tereza
Lúcia
Halliday
Data: 22 de
junho de
2010 19:47
Assunto: O
GRANDE JOÃO
DAS
FOGUEIRAS -
Tereza
Halliday
Para:
Theresa
Catharina de
Goes Campos
E obrigada
pelo seu
incentivo.
É honroso
para mim ter
meus textos
divulgados
em seu site.
Um abraço
junino, com
muito
carinho,
Tereza Lúcia