Theresa Catharina de Góes Campos

 
COMENTÁRIO  DE  AMIGA  SOBRE  TEXTO  DE  REYNALDO  DOMINGOS  FERREIRA

De: Heloisa Guimaraes
Data: 30 de junho de 2010 13:53
Assunto: Re: no Blog do jornalista Chico Leite - Café na Política - publicado o comentário de Reynaldo sobre Existe Vida sem Poesia?, ilustrado com fotografia.
Para: Theresa Catharina de Goes Campos

 
Estimada Theresa Catharina,
 
A notável apreciação que o nosso amigo Rey, qual fiel porta-voz de todos os  amigos e admiradores seus, Theresa,  oferece sobre o seu livro "Existe Vida sem Poesia?", que acabo de ler estampada no blog do Chico Leite,  torna-se merecedora da mais ampla divulgação, tão exatas se mostram suas palavras, ao ressaltar, com sensibilidade e inteligência,  todo um conjunto de virtuosos elementos gestadores de sua faina poética, exercida ao longo de uma rica existência, em testemunhos de vitoriosas superações em tantas provações enfrentadas, sempre com elevação de espírito, coragem e generosidade.     

Esparsamente já conhecidos e apreciados, em parte, pelo envio que gentilmente  me tem feito de alguns dos poemas, aguardo com ansiedade poder me deleitar com a leitura dessa nova obra publicada, que os agrega, belamente apresentada, ao que se comenta, em forma e conteúdo.

Aceite um carinhoso abraço da sempre amiga,

Heloisa Helena

Assunto: no Blog do jornalista Chico Leite - Café na Política - publicado o comentário de Reynaldo sobre Existe Vida sem Poesia?, ilustrado com fotografia.
Para: Data: Terça-feira, 29 de Junho de 2010, 17:52

 

Por Reynaldo Domingos de Oliveira

A jornalista Theresa Catharina de Góes Campos acaba de reunir em livro – Existe Vida sem Poesia? – boa parte de sua extensa produção poética, até aqui esparsa,constituída de versos de tom bastante emotivo, escritos ao longo do tempo em três idiomas, além do português, os quais espelham as diversas fases de sua rica, sofrida e luminosa existência.
Na verdade, o brilho geral do livro, dedicado aos familiares da autora, é composto pela oportunidade que ela dá ao leitor de empreender, em sua companhia, uma viagem ao recôndito de seu coração para conhecer não só a alegria que esbanja de viver, como também as razões que a levam, por impulso, a escrever poemas. Naturalmente,
para quem espalhou poesia em sua vida, como ela confessa, existem infindáveis sentimentos geradores dessa nobre atividade.
Todo poema, conforme admite Theresa Catharina, tem um passado, uma história a ser contada: Versos há que chegam / tão de mansinho / como a luz da madrugada. / Recebem o orvalho da manhã; / deixam-se seduzir / pelo encanto do beija-flor. Há alguns, porém, que, segundo ela, parecem borboletas! E outros condenados / ao silêncio, impedidos / de cantar. / Sinos quebrados. Muitos reagem, conforme explica. Rebelam-se, exigindo, com voz firme, o seu lugar no mundo. Há até os que usam disfarces (máscaras) e artimanhas para que se lhes retirem a mordaça.
A poetisa não usa, contudo, essa busca da história de seus versos para omitir ou falsear fatos de sua vida. Pelo contrário. É nessa ingente tarefa que ela se mostra em retrato de corpo inteiro. Em um poema, de muita força dramática, por exemplo, exalta a coragem de sua mãe, que a resgatou, em um país estrangeiro, da violência, a que então se submetia, no cotidiano de sua vida conjugal: Dias de medo e de horror, / de violência diária, / disfarçada e cruel. / Anos de solidão, / dias sem sol, / nem luar. / Dias sem luz, / anos ausentes de proteção. / Anos sem paz, / sem visão de esperança.
Tudo isso, entretanto, a autora procurou esquecer. Em outro poema, ela afirma: Nada foi estéril: tudo deu bons frutos. E acrescenta: Nada infértil se mostrou. / Derrotas e vitórias deram frutos… / ainda que em meio a lágrimas. / Nada, absolutamente nada / na minha existência se perdeu. / O ideal a tudo transfigurou. Reconquistada a liberdade, de volta ao âmbito da família, a jornalista procurou alimentar o espírito por meio principalmente do cinema, sua paixão desde os tempos de criança. Por isso, em homenagem à Sétima Arte, há muitos haicais em seu livro, além de uma profusão de poemas inspirados em filmes famosos, como Blade Runner, O Jardineiro Espanhol, Imensidão Azul, O Turista Acidental, Hiroshima, Meu Amor, e O País de São Saruê.
Inspirando-se em Mouchette, obra-prima de Robert Bresson, Theresa Catharina assim verseja: Ainda que o corpo se recuse, / o coração tem que reagir / e continuar a crer, a esperar, / mesmo que as lágrimas / se recusem a parar / de envolver nosso rosto / empalidecido e chocado / porque a solidariedade / não nos resgatou / do desespero.
Também a literatura de Antoine de Saint-Exupéry (Terra dos Homens) a leva a escrever, originalmente em francês, em Paris, estes versos, que aqui vão na tradução dela para o português: Tudo se vai dizer / às estrelas d´Exupéry. / Mas é preciso se calar / diante dos homens / perdidos no deserto / do seu orgulho. / Vamos correr / diante das flores, /embora não, / se ouvirmos os ruídos / da guerra. / É preciso muita coragem, / muito amor, / para se falar aos homens. / Com as flores, / podemos falar de amor. / Com as estrelas / podemos conversar / sobre a ternura / escondida no coração puro / do Pequeno Príncipe.
No poema que dá título ao livro, a poetisa confessa não ter mais segredos, nem confidências: Meus versos disseram tudo – ela complementa. Há, porém, dois traços característicos da personalidade de Theresa Catharina que precisam ser aqui destacados: o primeiro é a sua pertinaz e corajosa luta contra o câncer, que ela vem vencendo, há mais de uma década, graças à perícia de seu médico certamente e ao seu espírito de perseverança, de não deixar a peteca cair, como diz, que ela sintetiza também em poesia: A vida precisa ser assim… / Olhe a peteca, não deixe cair! / Mantenha vivas as cores / e os perfumes da existência / Mantenha a vida em movimento, / caminhando até no silêncio / das meditações escolhidas. O segundo é a sua extraordinária confiança no poder da amizade: Louvado seja Deus, / pelas bênçãos da amizade / que nos resgata do egoísmo atrofiante.
A muitos amigos, por isso, a autora de Existe Vida sem Poesia? oferece versos como se fossem presentes ou flores numa maneira, conforme explica, num poema, intitulado Assédio Poético, de estabelecer maior comunicação entre as pessoas queridas. Mas ela teme também que essa atitude, própria de poetas que vivem no mundo da lua, importune a muitos dos destinatários. Em vista disso, se escusa: Que nos desculpem os amigos / por nossa impertinência. / Que nos perdoem o assédio poético. /
Somos culpados, reconhecemos. / A nosso favor, digo apenas, que / vivemos com o coração na mão, / sempre a pulsar, fazendo poesia. / inclusive para ofertá-la aos amigos… Que, por sinal, somos muitos.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

Postado em Tuesday, June 29th, 2010 at 1:43 pm na categoria Livros. Você pode seguir qualquer post através desteRSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.

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