Compartilhando
meu artigo quinzenal,
desta segunda-feira
19/7/2010. T.
AMPARO
AOS CAMINHANTES
Tereza
Halliday – Artesã de
Textos
Quis o
Destino que seu nome
completo tivesse quatro
palavras fortes: Maria
do Amparo Rocha
Caridade. E que sua
apresentação do eu na
vida quotidiana – Amparo
Caridade - significasse
“esteio, amor”. Quis o
Destino que seu caminho
de ação e ajuda por este
mundo fosse encurtado
por um câncer. “Caminhos
haverá sempre”,
escreveu ela. “E, por
eles, caminhantes
incansáveis cuidarão da
Vida”. Amparo cuidou
da vida incansavelmente.
No
início deste século, nem
nos conhecíamos. Apenas
nos líamos mutuamente no
Diário de Pernambuco.
Seus artigos quinzenais
nesta página eram tão
apreciados lá em casa,
que meu marido costumava
perguntar: “Já leu
Amparo hoje?” Quando os
textos passaram a ser
menos frequentes, o
refrão mudou: “Hoje tem
Amparo!”, eu anunciava,
animada pela aparição
benfazeja.
Um dia,
resolvemos nos encontrar
face a face, depois de
tantos encontros de alma
em nossos escritos no
jornal. Marcamos um
almoço. Ela veio com
pontualidade britânica,
o que já me cativou.
Salada pra cá, sobremesa
pra lá, foi bem-querer à
primeira vista. Passamos
a almoçar juntas,
ritualisticamente, duas
vezes por ano -
privilégio ter um
cantinho em sua agenda.
Certa vez, perguntei:
“Você é religiosa?”.
Respondeu: “Sou. Não sou
é igrejosa”. Mais uma
afinidade entre nós. No
último encontro (a gente
nunca sabe que vai ser o
último), presenteou-me
com uma caixa multicor,
pintada a mão,
semelhante às cores que
ela espargia por onde
passava.
Publicou
Sexualidade, Corpo e
Metáfora (Iglu
Editora) e
Construindo o Bem Estar
(pesquisa, Ed.Unicap).
Em todos os seus
escritos, a marca de uma
pessoa profundamente
engajada com o cuidado
humano – como filha,
esposa-companheira, mãe,
sogra, amiga, psicóloga,
professora,
psicoterapeuta, cidadã e
avó. Este mais recente
status, ela abraçou como
a maior curtição da
maturidade. Mulher
madura que não perdeu a
alma de menina.
Convidou-me para fazer a
apresentação oral do seu
último livro -
Caminhos e
Caminhantes (Ed.
Bagaço) - em duas
noites de lançamento.
Nos textos curtos,
diretos dessa coletânea,
ela nos convoca a
cumprir o dever de
melhorar a nós mesmos e
tornar mais digna a
convivência humana. Eis
algumas ponderações de
Amparo a todos nós,
caminhantes: “Existimos
na dor e na alegria e só
crescemos sem
negá-las...Alegrar-se
com a alegria do outro
requer muita
generosidade...Nos
fragmentos do cotidiano
podem estar contidos
preciosos retalhos de
vida que não temos o
direito de
desperdiçar... Cada um
negocia como pode sua
angústia e seu prazer...
Cada um procure a
felicidade que carrega
em si. Esta é
verdadeira...O essencial
tem uma fundura própria
que só se alcança numa
proximidade muito
especial com o próprio
eu. Isso se consegue na
solidão. Na bendita
solidão... É hora de
perguntar-nos o que
estamos fazendo com a
vida que temos nas
mãos... Não importa
quanto tempo teremos,
importa torná-lo
precioso”. O.K.,
menina.
(Publicado
no Diário de Pernambuco,
19/07/2010,
p.A-11)
Tereza Lúcia
Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos