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VINCERE
GIGI D'ALESSIO
CINEMA: Filme "Vincere" de Marco Bellocchio
resgata episódio banido da biografia de
Mussolini
Concorrente à Palma de Ouro no Festival de
Cannes em 2009, o drama histórico "Vincere", do
veterano cineasta Marco Bellocchio ("Bom Dia,
Noite") resgata um episódio banido da biografia
oficial do primeiro-ministro italiano Benito
Mussolini, ou seja, a presença de uma mulher,
Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno), que foi sua
amante e mãe de um filho seu. O filme estreiou
apenas em São Paulo.
Seguindo um roteiro assinado pelo próprio
Bellocchio e por Daniela Ceselli, Ida conheceu
Mussolini quando este ainda era um jovem
jornalista socialista (interpretado por Filippo
Timi).
Mulher independente, ela vendeu tudo o que tinha
para financiar um jornal do futuro governante
fascista. Quando este retorna da 1a Guerra
Mundial, onde lutou, em vez de juntar-se a Ida,
que tivera um filho dele, ele se reúne à esposa
(Michela Cescon) e demais filhos, cuja
existência era desconhecida de Ida. Logo faz uma
aliança com o então rei italiano, Vittorio
Emanuele III, que sela sua ascensão ao poder.
Sóbrio e rigoroso, com uma escolha de cores
sombrias, em que às vezes se coloca também um
tom vermelho, "Vincere" empresta seu nome -
mantido em italiano mesmo na distribuição do
filme no Brasil - do lema fascista que cobra a
vitória constante e a qualquer preço.
Amparado numa excelente direção de arte, de
Briseide Siciliano, reconstitui a época com
impressionante precisão, recuperando a estética
dos filmes fascistas, com seus lemas
grandiloquentes projetados em imensas letras
maiúsculas em primeiro plano. Além disso, faz-se
um uso consistente de bons materiais de arquivo.
Um recurso extremamente eficaz é ter o ator
Filippo Timi interpretando apenas o Benito jovem
(e também, mais tarde, seu filho com Ida). O
Mussolini no poder, aquele homem baixinho que
gesticulava em seus discursos, é evocado em
noticiários ou retratos da época. Assim sendo, o
espectador do filme compartilha com Ida, no
longo período em que foi confinada a um
hospício, a visão limitada ao homem público
projetado nessas imagens de mídia, que
construíam o mito.
O homem privado abandonou Ida, perseguiu-a
quando ela tentava reivindicar seus direitos e
os do filho, negou sua relação e, depois,
cancelou a própria existência dela na história
oficial. O filho de ambos não teve sorte muito
melhor.
Um dos poucos remanescentes ativos de uma das
mais brilhantes gerações do cinema italiano, a
que pertenceram Federico Fellini, Luchino
Visconti, Elio Petri e Ettore Scola (este, ainda
vivo, mas inativo), Bellocchio compõe um de seus
melhores filmes políticos, no bom sentido da
palavra, sete anos depois do magistral mergulho
na tragédia das Brigadas Vermelhas, "Bom Dia,
Noite" (2003).
www.radioitaliana.com.br
http://www.radioitaliana.com.br/content/view/4520/39/ |
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