Theresa Catharina de Góes Campos

 
De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 27 de setembro de 2010 08:45
Assunto: Uma proposta decente: acabar com esta mentira.

A MENTIRA DOS CONVITES DE CASAMENTO

Tereza Halliday – Artesã de Textos

Os noivos costumam iniciar com uma mentira sua vida a dois perante a sociedade: a hora indicada no texto do convite de casamento é fictícia, um embuste, não quer dizer nada. Ou melhor, quer dizer que os convidados vão tomar abundante chá de cadeira, pseudo-consolados por uma bela trilha sonora em desmesurados decibéis.

 Na espera excessiva, cansam as costas e o bumbum, prendem a vontade de fazer xixi (imagine as grávidas e os idosos!), ficam com cara de penitentes, olham os relógios, suspiram, se abanam e se coçam, esperando, esperando, esperando pelo cortejo nupcial. Até que enfim a noiva aparece, na falsa glória de fazer-se esperar e ser esperada. E nós, figurantes do espetáculo, massacrados na longuíssima espera, desempenhamos o papel  de  embevecidos.

Apesar de tratarem os convidados a pão-de-ló no buffet sensacional, os convidantes primeiro os maltratam com a falta de pontualidade no começo da cerimônia.  Mais de 60 minutos de atraso tem sido a praxe. Às vezes, chega a duas horas. Alega-se que, se a noiva aparecer na hora, os convidados todos ainda não estarão lá. É que eles passaram a retardar a própria chegada a fim de escapar do grande desconforto da inditosa espera. Aprenderam que a hora escrita no convite é de mentirinha. Outra desculpa são os imprevistos dos preparativos: vestido, cabelo, maquilagem, fotos...  Para uma festa tão importante, imprevistos devem ser previstos e os preparativos precisam começar com muita, muita antecedência a fim de honrar a hora prometida no convite.  

Acidentes e transtornos acontecem: o noivo teve uma dor de barriga, a noiva torceu o tornozelo, o carro quebrou no caminho. Mas são raras ocorrências que deveriam tornar os atrasos uma raridade.  O atraso sistemático, incorporado ao ritual do casamento como um hábito, é impiedoso para os convidados, ligados aos noivos e/ou seus pais por laços de afeto ou trabalho, além de terem ajudado a montar a casa, participando da famosa Lista de Casamento. Quanta desconsideração nesse costume de atrasar-se!

Ouvi dizer que os organizadores da festa chegam a encorajar a noiva a retardar-se a fim de que sua aparição cause mais impacto. Estão equivocados. Quando ela chega, o enfado, a irritação dissimulada e a exaustão já tomaram conta dos convivas. O impacto fica xoxo. Os experts do cerimonial poderiam exercer sua influência e fazer escola, inovando na etiqueta: casamento é para começar na hora. A criação de uma cultura da pontualidade e a boa gerência dos preparativos para honrar o horário estabelecido, honrariam a todos os envolvidos no evento.

Exorto os noivos de sensibilidade a refletir sobre essa mentira dos convites de casamento e decidir se querem realmente faltar com a palavra e com o respeito aos convidados, ou inovar e passar à História como “o casamento que começou na hora”, com o alívio encantado e agradecido de todos os presentes. Daí, se a moda pegar, o mundo social ficará muito melhor. (Diário de Pernambuco, 27/9/2010, p.A-11).

Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.