TROPA DE ELITE 2
Quinze
anos depois de deixar o combate ao
tráfico de drogas, nas favelas do
Rio de Janeiro, o protagonista de
Tropa de Elite 2, de José
Padilha, está de volta para mostrar,
por meio de uma abordagem
cinematográfica de forte impacto,
amparada em clichês americanos até
mesmo pelo registro argumentativo,
que as raízes da violência urbana
estão plantadas na corrupção que
hoje toma conta da cúpula
governamental do País.
O passeio
final da câmara sobre os edifícios
dos Três Poderes, em Brasília, deixa
evidente a preocupação do cineasta
- também autor do roteiro (mais
conciso e objetivo que o do
original), em colaboração com
Bráulio Mantovani - pelas questões
de segurança pública que, para ele,
são de extrema importância. As
imagens da Capital da República
ilustram, assim, o pronunciamento
feito pelo Tenente-Coronel Roberto
Nascimento (Wagner Moura) que, na
tribuna da Assembléia Legislativa do
Rio, afirma que metade dos
parlamentares, ali presentes,
deveria estar na cadeia.
Ao início
do filme, após uma operação
fracassada no presídio Bangu 1 –
pela qual um de seus homens, Mathias
(André Ramiro), acabou sendo punido
e desligado do Bope (Batalhão de
Operações Policiais Especiais),
Nascimento recebe, com surpresa,
sua promoção ao cargo de
Sub-Secretário de Segurança Pública.
Na nova função, ele terá a
incumbência de supervisionar o setor
de grampeamentos da Secretaria.
Nascimento leva vida solitária – à
semelhança, por sinal, de alguns
heróis de sua estirpe moral do
cinema americano - porque se
separou da mulher Rosane (Maria
Ribeiro), casada agora com o
deputado estadual Fraga (Irandhir
Santos). Com o parlamentar, tem
sérias divergências tanto do ponto
de vista ideológico, quanto familiar
porque ele, como padrasto, goza de
mais prestígio com o seu filho
adolescente (Pedro Van-Held), que o
considera, por sua profissão de
policial, um “assassino”.
Além de
se ver forçado a resolver a
reaproximação com o filho no momento
em que ele se envolve em
dificuldades com a polícia por causa
de uma namorada, Nascimento se
conscientiza de que sua promoção à
Subsecretaria de Segurança teve
motivação política para favorecer os
objetivos eleitoreiros do governador
do Estado. Como narrador dos
acontecimentos, ele afirma: No
Brasil, eleição é um grande
negócio!... E sem papas na
língua – chega mesmo a chamar de
Operação Iraque uma ação
estratégica aprovada pelo governador
-, começa a enfrentar seus inimigos
no meio político sem temer a
possibilidade de ser morto, numa
emboscada, armada por policiais
corruptos, comandados pelo Capitão
Fábio (Milhem Cortaz), em qualquer
esquina da chamada Cidade
Maravilhosa.
A
linguagem de Padilha ganha mais
dinamismo do que a do primeiro filme
graças a uma edição primorosa de
Daniel Rezende, a uma eficiente
composição de planos, feita pela
fotografia, rica em contrastes, de
Lula Carvalho, e a uma trilha
sonora, de Pedro Bronfman, que
pontua com precisão as sequências –
algumas extremamente violentas –
mais dramáticas da película. Apesar
dos clichês, assumidos sem
preconceito, Padilha consegue impor
seu próprio estilo narrativo,
reduzindo também as citações de
clássicos do cinema, como havia
feito anteriormente, para criar
apenas uma, esta de natureza
literária, a da preparação do
enterro de Ofélia, no Hamlet,
de Shakespeare.
Mais que
tudo, porém, o trabalho de Padilha
se valoriza pela homogênea e
brilhante atuação do elenco de
atores que conseguiu reunir.
Percebe-se, a propósito, uma
valorosa preparação técnica de todos
os intérpretes – como, entre
outros, Maria Ribeiro, Seu Jorge (um
dos líderes da rebelião em Bangu 1),
Milhem Cortaz, Irandhir Santos e
André Ramiro - sem que se observe
sequer uma nota dissonante no
conjunto, o que, como se há de
convir, é raro acontecer no atual
cinema brasileiro. É evidente que
Wagner Moura, envelhecido, como
protagonista e, por isso, com mais
tempo de exposição em cena, ganha
maior destaque. Mas ele fez também
por merecer. Evoluiu, sem dúvida,
com a sua personagem, que se tornou
mais madura e complexa. É uma pena
que o timbre da personalidade de
Nascimento, composta por Moura com
uma profusão de detalhes, não
encontre repercussão no meio da
nossa gente, que gosta mais de
heróis sem o caráter que ele
ostenta.
REYNALDO DOMINGOS
FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
TROPA DE ELITE 2
Brasil/2010
Duração – 116 minutos
Direção – José
Padilha
Roteiro – José
Padilha e Bráulio Mantovani
Produção – Marcos
Prado e Malu Miranda
Fotografia – Lula
Carvalho
Trilha Sonora – Pedro
Bronfman
Edição – Daniel
Rezende
Elenco – Wagner Moura
(Coronel Nascimento), Maria Ribeiro
(Rosane), Seu Jorge (Rebelado em
Bangu 1), Irandhir Santos (Fraga),
André Ramiro (Mathias), Milhem
Cortaz (Capitão Fábio), Pedro Van
Held (Filho de Nascimento), Caio
Junqueira (Neto), Bruno Delia
(Capitão Azevedo).