Theresa Catharina de Góes Campos

  De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 22 de novembro de 2010 09:50
Assunto: Estamos no mesmo barco?



RELACIONAMENTO ATRIBULADO

Tereza Halliday – Artesã de Textos

Um agregado se instalou de mala e cuia em minha casa. Sua presença nem sempre é pacífica. Ajuda muito, mas tem saúde frágil e humor variável. Atende pela alcunha de “Micro” e pago mico por causa dele. De baixa confiabilidade, Micro forçou a entrada em nossas vidas de mais um profissional indispensável: o técnico de computador. Como se já não bastassem os médicos!

Experts em saúde computacional sofrem mais que os médicos com a velocidade das inovações no seu ramo. Precisam estar atualizados e não têm tempo de tudo aprender. São mestres em resolver grandes broncas. As miudezas de software sobram para nós, leigos. Vira-te, usuário!

Imagine dirigir seu carro há alguns anos e ser forçado a trocar por novo modelo, com promessa de que vai facilitar seu trabalho e melhorar a vida. No novo modelo, mudaram o lugar da alavanca das marchas, a ré passou a chamar-se “Traseira” e se aciona diferentemente do modelo anterior. No próximo modelo, há de chamar-se Popa. Sem evidência de que o carro ficou melhor por isto. É assim que nos tratam como usuários de computador. Desperdiçando nosso tempo para aprender novas rotinas. Os gênios da Microsoft mudam constantemente ícones e locais de acesso na barra de ferramenta. Isto ajuda em quê?

Enquanto motorista de automóvel, preciso que ele me leve do ponto A ao ponto B mediante gestos e atos padronizados, que funcionem bem de modelo a modelo. Com o computador, é a mesma coisa. Quem vai me indenizar pela perda do meu tempo, tentando localizar novos comandos, macetes escondidos? São mungangas inovativas que fazem os criadores de programas babar de entusiasmo e justificam a nova versão no mercado. Quanta perda de tempo para o usuário!

Não conto com a empatia dos novidadeiros do ramo. Tampouco dos parentes, que dizem ser deficiência minha sempre que Micro emburra ou apronta. Aguardo a criação de um ramo da Psicoterapia especializado em Relacionamento com o Computador. Preciso me tratar.

(Diário de Pernambuco, 22/11/2010, p.A-11).
 

Jornalismo com ética e solidariedade.