O TURISTA
Se ao
invés de imprimir o tom de
thriller ao argumento de O
Turista, tivesse o realizador
alemão Florian Henckel von
Donnersmarck optado por tratá-lo
como farsa, em que todas as
improbabilidades da ação
transcorreriam num ambiente de
zombaria, o resultado poderia ter
sido melhor. Foi isso mais ou menos
o que fez, por exemplo, Quentin
Tarantino, em Bastardos Inglórios,
no qual aproveitou o argumento de um
filme de segunda categoria italiano,
de Enzo Castellari (1978), dando-lhe
o tom de fábula histórica e
tratando-o com uma linguagem
original de muita ironia e
violência.
Donnersmarck, porém, não tem a
independência de Tarantino. Ganhou o
Oscar com a sua magnífica película
de estréia (A Vida dos Outros)
e sendo convidado por Angelina Jolie
para escrever o roteiro - baseado no
policial francês Anthony Zimmer,
de Jérôme Salle (2005) -, e dirigir
O Turista, não teve como
escapar das limitações da encomenda.
A Jolie, poderosa na indústria do
cinema americano, não interessava o
apuro técnico do trabalho de
Donnersmarck, que deve estar agora
empenhado em concretizar um estudo
sério sobre o suicídio no mundo.
Interessava isso sim desfilar, com
seu charme e sua beleza, usando
trajes desenhados por Colleen
Atwood, pelos pontos turísticos de
duas das mais sedutoras cidades da
Europa: Paris e Veneza.
Assim, ao
início da ação, Elise Clifton-Ward
(Angelina Jolie) está sendo
focalizada ainda em seu apartamento,
num dos pontos centrais de Paris,
pela polícia francesa, que atua em
conjunto com a Scotland Yard. Os
policiais já antecipam que ela vai
descer e, em seguida, se dirigirá a
um famoso café, que fica logo
adiante do edifício em que se
encontra. E, de fato, ela aparece e,
com muita elegância, caminha em
direção ao café, onde é recebida,
com honras de estilo, por um garçom
que, sabendo do que ela gosta – chá
com leite à moda inglesa – já fez o
seu pedido. A movimentação de
policiais disfarçados pela área é
intensa. Apesar disso, Elise recebe
de um emissário a correspondência de
um seu ex-amante Alexander Pearce,
que lhe recomenda a apanhar, na Gare
Lyon, o luxuoso trem que faz a
ligação Paris-Veneza.
No trem, segundo as
indicações de Pearce, Elise deverá
procurar sentar-se ao lado de alguém
que tenha porte físico semelhante ao
seu para que os policiais o
confundam com ele. E conforme ainda
suas recomendações, ela deverá
queimar o bilhete depois de lê-lo.
Elise faz isso, ainda no café, para
desespero dos policiais que,
entretanto, por determinação do
chefe de operações, o agente
britânico John Acheson (Paul
Bettany), recolhem as cinzas a fim
de, por meio delas, decifrar a
mensagem nela redigida. Dessa forma,
os policiais já estão no trem,
quando Elise chega e, depois de
percorrer alguns vagões, encontra
Frank Tupelo (Johnny Depp), que
representa ser um tímido professor
de matemática, americano, leitor
inveterado de romances de
espionagem, ao lado de quem ela se
senta. Elise se insinua para ele e
logo consegue ser convidada a ir ao
restaurante do trem, onde ambos
permanecem até a chegada a Veneza.
Frank desce na
estação Santa Cecília, mas logo é
surpreendido, diante de um dos
canais de Veneza, com o aparecimento
de Elise a bordo de uma lancha. Ela
o convida a acompanhá-la até o
hotel. Ele aceita, sobe na lancha e
se deixa conduzir por ela até o
Hotel Danieli, onde uma suíte – em
que teriam se hospedado Balzac e
Proust – está reservada em nome de
Elise. Já instalados, Elise beija
Frank na janela para que ambos sejam
fotografados pelos policiais
engarupados nas gôndolas que
transitam pelos canais em frente ao
hotel. Tudo então se torna bastante
previsível e a narrativa de
Donnersmark, segue sem substância,
criando apenas situações para que
Jolie exiba ao máximo o seu
estrelismo. Muito bela realmente,
principalmente na cena da dança com
Johnny Depp no suntuoso salão de um
dos palácios de Veneza, ela se
desfaz da personagem que interpreta
e não cede espaço aos atores
coadjuvantes: Depp está apático,
como nunca esteve; Bettany se agita
o quanto pode para dar realce ao
agente Acheson e Rufus Sewell, como
o Inglês, tem pouco o que fazer. O
difícil em tudo isso, porém, é
explicar como a película, ainda
assim, conseguiu dos críticos de
Nova York três indicações ao Globo
de Ouro: Melhor Filme, Melhor Ator e
Melhor Atriz!...
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
O
TURISTA
THE TOURIST
EUA/2010
Duração – 103 minutos
Direção – Florian
Henckel von Donnersmarck
Roteiro – Florian Henckel von
Donnersmarck, Christopher McQuarrie,
Julian Fellowes com base no roteiro
do filme Anthony Zimmer, de
Jérôme Salle
Produção – Graham King, Tim
Headington, Roger Bimbaum, Gary
Barber e Jonathan Glickman
Fotografia – John
Seale
Trilha Sonora – James
Newton Howard
Edição – Joe Hutshing
Elenco – Angelina Jolie (Elise
Clifton-Ward), Johnny Depp (Frank
Tupelo), Paul Bettany (John
Acheson), Rufus Sewell (Inglês),
Thimothy Dalton (Inspetor Jones),
Christian De Sica (Colonnello
Lombardi).