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De:
Tereza Lúcia Halliday
Data: 31 de janeiro de 2011 09:25
Assunto: Desafio do texto enxuto
LIPOASPIRAÇÃO DE
TEXTOS
Tereza Halliday –
Artesã de Textos
Atento leitor e amigo
pergunta se eu estou sem tempo ou
com preguiça de escrever mais. Notou
que meus artigos nesta página
encurtaram. Preguiça e falta de
tempo eu tenho para fofocas e
conversa de mesa de bar sobre a
situação nacional.
Meus artigos
encurtaram porque obedeço às
diretrizes do novo projeto gráfico
do Diário: fontes/tipos
maiores, dando maior conforto à
leitura. Basta observar as colunas
de Luce Pereira, João Alberto,
Miriam Leitão, Marisa Gibson. Muito
maior legibilidade. Na era dos blogs
e twiteiros, os artigos desta página
devem ser enxutíssimos. Agora, o
limite máximo é 35 linhas, fonte
Times New Roman, tamanho 11. Assim,
os temas são expostos sem recheios
nem desvios, equilíbrio nem sempre
conseguido por articulistas
tendentes a circunvoluções no dizer
por escrito.
É a segunda vez,
nesta década, que requisitam uma
lipoaspiração nas matérias dos
colaboradores. O primeiro arroxo
inspirou-me o artigo “Em prol da
Palavra Enxuta” (DP-10/08/2000,
p.A-3), hoje disponível no site
www.terezahalliday.com.
Agradeço ao jornal por esse
treinamento compulsório que me
ensinou a escrever sem derramamentos
nem redundâncias. Continuo defensora
de textos claros, concisos e
elegantes – metas a cumprir na
criação ou editoração de um texto, a
fim de comunicar bem.
Como “escrevente”,
faz-me bem o desafio de podar aqui,
burilar ali, reescrever, reescrever,
reescrever até conseguir um produto
final enxuto. Artesã de textos
com muitas horas de voo nas rotas da
palavra escrita, “trabalho com as
palavras como o carpinteiro e o
ourives com a madeira e o metal”,
na explicação lapidar de Thiago
de Mello. Para adequar-se às novas
regras, mesmo o mais verboso dos
escritores nesta página, não mais
cometerá este desperdício: “O que eu
queria dizer é que...” – sete
palavras inúteis. E somos instados a
evitar penduricalhos como “bastante
significativo” e “sem dúvida
alguma”. O poeta Bastos Tigre
acertou em cheio: “nada
mais fácil do que escrever difícil.
Na simplicidade está a grande
complicação que dificulta o ofício”.
(Diário de Pernambuco, 31/01/2011,
p.A-11).
De:Tereza Lúcia Halliday
Data: 2 de fevereiro de 2011 14:40
Para: Theresa Catharina de Goes
Campos
Therezita:
(...)
Somente agora li seu pertinente
comentário sobre a uniformização de
textos, como medida impositiva dos
jornais, a qual cercearia a
criatividade. Otimo você abrir esse
debate. Permita-me fazer apenas
alguns esclarecimentos/ressalvas.
A página de opinião do Diário de
Pernambuco não é um espaço para
crônicas literárias nem ensaios,
onde o autor deve desenvolver
circunstanciadamente um tema. É um
espaço onde colaboradores convidados
(isto é, não remunerados), abordam
temas de interesse do leitor e deles
mesmos, buscando informar, orientar
ou entreter - tradicionais objetivos
do jornalismo.
Textos literários são de outro
domínio. E mesmo neles, é preciso
uma garimpagem, para que o ouro
fique e o cascalho seja descartado.
Num blog ou site eu teria toda a
liberdade de desenvolver
extensivamente um assunto,
enriquecer o texto e delongar-me.
Num espaço que não é meu, acho
razoável acatar as regras
pré-estabelecidas quanto à concisão.
Se eu achar o requisito de escrever
textos enxutos desconfortável ou
inadmissível, naquela página de
opinião, posso interromper minha
colaboração a qualquer momento.
Alguns colaboradores, às vezes de
formação jurídica, ou de prática
literária, tendem a misturar
assuntos, redigir períodos
longuíssimos,ou demonstrar sua
grande erudição com circunlóquios
improdutivos. Disciplinar um pouco
os seus desvarios de estilo é, ao
meu ver, legítimo, na página de
opinião de um jornal diário, rápido
e efêmero por natureza, creio que os
textos curtos são preferíveis.
Tenho leitores que me confessam não
ter tempo para os artigos mais
longos da mesma página.
Quanto ao comentário do leitor e
amigo (como o definí), ele não foi
grosseiro, mas sim o fez no tom
jocoso que a intimidade permite:
"Tás com preguiça ou tás sem
tempo?", foi a provocação carinhosa.
Taí um tema para debate: Textos
enxutos ou Textos mais longos?
Quando e onde?
Grata por ter usado do seu precioso
tempo para dar continuidade à minha
matéria.
Um beijo,
Tereza Lúcia
Obrigada, Tereza
Lúcia, por sua excelente resposta,
em defesa dos artigos enxutos e
daqueles que os preferem. Quanto a
mim, gosto de ambos, extensos ou
breves, desde que tenham qualidade.
Na verdade, reconheço a importância
da sua crônica jornalística (que
também é, como qualquer crônica, um
texto de jornalismo, mas igualmente
um gênero literário, como bem
demonstram as crônicas de Rachel de
Queiroz - ela as escreveu até a
véspera de sua morte e, em sua vida,
nunca perdia a oportunidade de, nas
entrevistas, afirmar ser uma
jornalista, e não, escritora!). E
as crônicas de Machado de Assis e
inúmeros outros autores brasileiros.
Finalizando, reafirmo que a minha
preferência seria oferecer ao
público um formato mais livre, com
permissão e flexibilidade quanto ao
tamanho do texto. O autor
decidiria... Uma opção utópica?
Talvez. As utopias, porém, são
ideais a se atingir.
Abraços carinhosos de
Theresa Catharina
Brasília-DF, 02 de fevereiro de 2002
Em 3 de fevereiro de
2011 07:26, REYNALDO
FERREIRA escreveu:
Prezada Theresa
Catharina, no email
anterior, eu a
cumprimentava, como
repito agora, pelo seu
corretíssimo, como
sempre, posicionamento
em relação ao tema em
debate. Achei magnífica
toda a sua argumentação.
Parabéns. Fortíssimo
abraço, Reynaldo
ESPAÇO MÍNIMO POR QUÊ?
Ainda que eu reconheça a
competência de quem
escreve e realiza obras
de arte com simplicidade
e precisão, trabalhando
eficientemente para
burilar o que faz,
descartando o que não
lhe interessa, outros
há... que pensam e agem
com objetivos diversos:
amam brincar
literariamente com
muitas palavras, sem
esquecer de aperfeiçoar
as frases e utilizar um
rico vocabulário,
descartando menos,
organizando mais, num
jogo artístico de sons e
rimas, pontuações
intencionais; ou criando
obras artísticas em que
se esmeram nos traços,
cores e aprofundam os
temas escolhidos,
buscando a originalidade
e reagindo contra
limitações e regras que
inibem a criatividade.
Os artigos de autores
que obedecem à
formatação exigida pelos
jornais dos quais são
colunistas, para uso do
espaço mínimo a eles
reservados, refletem o
poder de quem transmite
essas ordens de caráter
autoritário. Quem
obedece demonstra
disciplina, mostra
competência, concordo.
Sabemos, porém, que a
sua bagagem cultural
abrange uma vasta
experiência, literária e
humana. No entanto, sem
o mínimo de liberdade
para dispor com
flexibilidade do espaço
que precisariam ocupar
no meio de comunicação,
perdem a oportunidade de
cumprir um aspecto
fundamental de sua
missão como escribas:
enriquecer o leitor,
fazê-lo crescer pela
leitura; argumentar até
com repetição e
redundâncias, se
necessário for, visando
levá-lo a refletir com
pensamento crítico,
ampliar seu horizonte de
compreensão,
conscientizá-lo em
profundidade.
Textos jornalísticos e
literários, como os
editoriais e crônicas,
não podem ser
confundidos com manuais
técnicos, em sua
linguagem uniformizada.
São gêneros diferentes,
também, de notícias e
reportagens, com os seus
princípios de
objetividade e clareza
na apresentação das
informações básicas.
Obedecer às regras
gramaticais, sim. Mas
vestir uma camisa de
força por determinação
dos meios de
comunicação, dominados
por interesses
comerciais e
financeiros, seria
ético?
E a beleza, a estética
do estilo, os sinais da
individualidade criadora
e filosófica, não
deveriam ser
incentivados?
Artistas como Van Gogh e
Mozart criaram obras de
características pessoais
marcantes, apesar de
ignoradas ou
desaprovadas pelos
críticos de sua época.
Quem se lembra hoje dos
que desmereceram,
negaram elogios àquelas
pinturas inovadoras e às
composições musicais que
encantam ouvidos e
nossas almas?
Voltando às imposições
dos jornais a seus
colunistas, não lhes
concedendo um espaço
maior para exercerem seu
ofício e sua
arte...Esses impressos
são os mesmos que, todos
os dias, concedem o
máximo de espaço a
matérias e fotos
desmerecedoras de
qualquer atenção:
verdadeiro lixo
intelectual e moral, um
veneno para impedir a
formação da cidadania;
superficialidades mil,
calúnias e mentiras
disfarçadas como
informações; além de
inúmeras,
injustificáveis
omissões...Para
encontrarmos nas páginas
dos periódicos algo
valioso, precisamos
garimpar e continuar
garimpando com
tenacidade incansável!
Que autoridade moral
teriam, esses editores,
para se omitirem ainda
mais, censurando dessa
forma, negligenciando e
limitando as
colaborações
inteligentes de seus
colunistas?
Melhor recordar o
exemplo clássico de
Antígona, a heroína que
ignorou ordens injustas,
e por conseguinte, sem
ética. Porque ordens
desse tipo devem ser
transgredidas...se o
rebelde está consciente
e disposto a pagar o
preço alto por sua
escolha.
Theresa Catharina de
Góes Campos
Brasília-DF, 1º de
fevereiro de 2011
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