BATEPAPO DE CONDOMÍNIO
Tereza Halliday – Artesã de Textos
- Seu prédio tem gerador?
- Não. Chegamos perto de comprar, mas uma ala do partido reverteu a decisão tomada em assembleia. Alegaram outras prioridades.
- Parece coisa de deputado mesmo...
- A energia de reserva de um gerador evita malfeitores que aproveitam a escuridão, mantém um elevador funcionando em caso de emergência médica e dá conforto aos que chegam ou precisam sair em pleno corte de energia elétrica. Óbvio, não?
- O problema é o bolso, minha filha. Grana curta só não existe no Congresso Nacional. Em condomínio, só se vê inadimplência e o povo roendo a corda para taxas extras inadiáveis.
- No meu, até que a maioria endossa melhorias, para valorizar o patrimônio.
- Pois uma das coisas que mais desvalorizam o patrimônio condominial é a falta de gerador, asseverou a experiente síndica.
- E é?
- Gerador é como plano de saúde: a gente paga para não precisar de usar. Quem dispensaria um plano de saúde alegando que só adoece raramente? E olhe que a rede elétrica não adoece tão raramente assim...
Citamos exemplos de bons síndicos em nossos respectivos prédios: Angélica, Paulo André, Graça, Mírian... E passamos a relembrar presepadas de condomínio: morador que vomitou pela janela em cima de um carro estacionado na garagem externa; condômino delegado de polícia treinando tiro ao alvo em casa; malhados ou barrigudos, sem camisa nem camiseta no elevador social, alegando ser bairro de praia; ponta de cigarro acesa jogada pela janela e levada pelo vento, queimando a rede armada na varanda; turma de adolescentes que fez um xixi coletivo no elevador; cotonetes, camisinhas, papeis de embalagens encontrados no pátio, “porque os funcionários estão aqui para limpar”; vizinho a curtir roque pauleira ou música de roedeira em altíssimo volume, alegando que a hora do silencio é a partir de 22 horas. Um rosário de casos, alguns impublicáveis.
O bate-papo prolongou-se. Ao chegar ao meu edifício sem gerador, encontrei-o às escuras. Subo escadas numa boa. Faz bem à saúde. Mas galgar nove andares a pé e no escuro, depois de ingerir um litro de água de coco, ninguém merece. (Diário de Pernambuco, 28/02/2011, p.A-9) |