DESCOBERTA POÉTICA
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Com as horas roubadas ao uso do computador, sobra-me um naco de tempo para curtição antiga: ler poesia impressa em papel. Foi assim que descobri Taha Muhamad Ali, poeta palestino de nacionalidade israelense. Nasceu em 1931 num vilarejo chamado Saffuriya, na Galiléia, hoje Tsipopor, nordeste de Israel. Durante o conflito árabe-israelense de 1948 sofreu os bombardeios e fugiu para o Líbano. Um ano depois, retornava à sua terra, Israel, estabelecendo-se na cidade de Nazaré – aquela da família de J.Cristo. Lá, abriu uma lojinha de souvenirs. Aprendeu sozinho o árabe clássico e o inglês.
Partilho com os leitores uma curta seleção de seus versos, traduzidos do livro So What? – New and Selected Poems 1971-2005 – Ed. Bilingue árabe-inglês. 2006, Copper Canyon Press:
“Nem música / nem fama nem riqueza /Nem mesmo a poesia
Podem dar consolo /Para a brevidade da vida.
(...)
E assim /Levei sessenta anos completos
Para compreender / Que a água é a melhor das bebidas
E o pão a mais deliciosa das comidas
E que a arte não tem valor / A não ser que plante
Um certo esplendor no coração das pessoas.
(...)
Depois que morrermos
E o coração cansado
Tiver baixado as pálpebras definitivamente
Sobre tudo o que tivermos feito
E tudo pelo que ansiamos /E tudo o que sonhamos
E tudo o que tivermos desejado ou sentido
O ódio será a primeira coisa / A apodrecer dentro de nós.
(...)
Detesto partidas. Amo a primavera.”
E eu amo o tempo vivido na quietude da casa, computador desligado, um livro de boa poesia entre as mãos.
(Diário de Pernambuco, 14/02/2011, p.A-11).
Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
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