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O SEQUESTRO DE UM
HERÓI
O cineasta
belga Lucas Belvaux propõe, em O
Sequestro de um Herói, na linguagem
envolvente de thriller, uma
reflexão sobre os limites do poder na
sociedade contemporânea, ao narrar a
história de um homem que, fragilizado
moralmente perante a opinião pública,
depois de se submeter à brutalidade de
seus sequestradores, se vê forçado a se
afastar do grupo industrial a que
preside.
Belvaux ,
autor também do roteiro, reconstitui
livremente, tomando as devidas
precauções, o rumoroso caso de
sequestro ocorrido na França, em 1978,
do barão Empain, presidente do grupo
Empain-Schneider. O argumento,
ambientado nos dias de hoje, de muito
apuro técnico na sua elaboração, tem,
como protagonista, o magnata Stanilas
Graff (Yvan Attal), que se empenha para
não dar transparência às diversas vidas
que leva.
Tudo, porém,
se torna do conhecimento público, pela
mídia, quando às vésperas de viajar para
a China, como integrante da comitiva
presidencial, Graff é sequestrado numa
das principais vias do elegante bairro
parisiense em que mora. Tratado sob
muita violência pelos sequestradores,
ele é obrigado a escrever cartas à
família e aos integrantes de seu grupo
empresarial, pedindo o resgate de 50
milhões de euros.
Famoso desde
a realização da trilogia - Um Casal
Admirável, Em Fuga e
Acordo Quebrado - (2003), com a qual
conquistou o prêmio Louis Delluc, além
de várias indicações ao Cesar, o melhor
troféu do cinema francês, o cineasta
timbra, em sua mise en scène, por
realçar os conflitos de interesses
financeiros, políticos e midiáticos que
eclodem em decorrência da situação.
Logo se sabe, pelo noticiário da
imprensa, que o sequestro fora causado
por dívidas contraídas e não saldadas
por Graff na jogatina em vários
cassinos, até mesmo em Monte Carlo.
Outras
mazelas vêm à tona, expondo à
vulnerabilidade não só o grupo
empresarial, mas a própria família do
sequestrado, que assim toma ciência de
sua verdadeira situação econômica. A
mulher, Françoise Graff (Anne Consigny),
a mãe, Marjorie (Françoise Fabian), e o
executivo André Peyrac (André Marcon),
debatem a concessão do resgate.
É nas
discussões, entre os membros da família
e o homem de negócios ( o segundo, em
hierarquia, da direção do empreendimento
industrial ), que ganha destaque a ideia
central do filme: quanto vale a vida
humana? Para subsidiar as considerações
a respeito, Belvaux traça o perfil de
Graff, logo no início, enquanto se
exibem os créditos, por meio de um
mínimo de planos: ele é um cara ágil, de
muitas atividades, que se dedica a, pelo
menos, quatro vidas paralelas.
Sobre esse
seu método expositivo da personagem, o
cineasta admite seguir as lições de
Simenon, sintetizadas pela expressão de
Maigret: - Compreender, não julgar.
Segundo esse raciocínio, quando se
constroi , numa peça de ficção, um
indivíduo como Graff, ele não pode ser
julgado pelo autor, nem muito menos
condenado. Em termos de estética
cinematográfica, Belvaux, exímio no uso
de cortes, tem afinidades com o estilo
de Chabrol, de quem foi intérprete (Madame
Bovary). Em vista disso, sabe
explorar o trabalho dos atores que,
nesse caso, se mostra homogêneo e de
apurado resultado técnico. O destaque
deve ser dado a Yvan Attal, de origem
israelense, por encarnar o papel do
protagonista. Numa atuação brilhante,
que pontua sua carreira, ele imprime
impressionante máscara de sofrimento a
Graff durante o tempo em que passa no
cativeiro. Ao trio Anne Consigny, como
Françoise Graff, Françoise Fabian como
Marjorie, e André Marcon, como André
Peyrac, cabe a missão, desempenhada de
forma exata, de sustentar, na linha
imposta por Belvaux, o diálogo mais
importante da película, que recebeu
várias indicações ao Cesar, até mesmo a
de Melhor Filme do ano de 2009.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
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FICHA TÉCNICA
O SEQUESTRO DE UM HERÓI
RAPT
França/2009
Duração – 125 minutos
Direção – Lucas Belvaux
Roteiro – Lucas Belvaux
Produção – Philippe
Groff, François Lebourg, Jeannick Quai
Fotografia – Pierre Milon
Trilha Sonora – Riccardo
Del Fra
Edição – Danielle Anezin
Elenco – Yvan Attal
(Stanislas Graff), Anne Consigny
(Françoise Graff), Françoise Fabian
(Marjorie), André Marcon (André Peyrac),
Alex Desças( Walser), Gérard Meylan (O
Marselhês), Sarah Messens (Véronique
Graff), Julie Kaye (Martine Graff). |
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