CALÇADAS
DO
RECIFE
Tereza
Halliday
–
Artesã
de
Textos
O
título
acima
poderia
ser
de
ensaio
do
historiador
Leonardo
Dantas
Silva,
amante
amantíssimo
da
ex-Veneza
Brasileira.
Ou
de
comentário
da
colunista
Luce
Pereira,
outra
apaixonada
pela
cidade,
usando
seu
olho
crítico
e
sua
verve
a
serviço
de
uma
urbe
melhor.
Nesta
página,
revela
meu
caso
de
amor
mal
resolvido
com
a
capital
pernambucana.
Parodiando
o
frevo
de
Antonio
Maria,
sou
do
Recife
sem
orgulho
e
com
saudade
do
que
ele
poderia
ser.
Sou
do
Recife
com
vontade
de
chorar
pelo
que
ele
não
é.
A
cidade
dos
meus
laços
me
envergonha
e me
sacaneia
com
seus
desmantelos
crônicos.
Um
deles,
as
calçadas
antipedestre.
Caminhante
contumaz,
tenho
experiência
de
primeira
mão
- ou
primeiro
pé.
Enfrento
de
tudo:
mossas,
montículos
e
monturos,
tocos,
buracos,
serviços
mal-acabados
de
esgoto
e
telefonia
-
obstáculos
afrontosos
a
pessoas
de
mobilidade
normal,
idosos,
cegos,
cadeirantes.
Uma
covardia.
Em
todos
os
bairros,
calçadas
geradoras
de
entorses,
fraturas,
ferimentos
e
atropelamentos.
Até
mesmo
“prédios
classe
A”,
descuram
do
ladrilho
ou
cimento,
ou
rebaixam/elevam
o
piso
da
calçada
em
benefício
de
suas
entradas
de
garagem,
sem
faixa
amarela
nem
alerta
algum.
Perigo,
muito
perigo
nas
calçadas
destrambelhadas
do
Recife.
Até
no
galho
de
árvore
e na
tábua
provisória
colocados
misericordiosamente
em
ponto
de
altíssimo
risco,
cercado
ou
seguido
de
outros
riscos.
Basta
conversar
com
pacientes
nas
salas
de
urgência
de
ortopedia
e
traumatologia
dos
atendimentos
público
e
privado.
“Foi
na
calçada”.
E se
segue
a
descrição
do
inditoso
momento
de
susto
e
dor
seguido
de
incapacitação,
por
várias
semanas
ou
para
sempre.
A
lei
responsabiliza
os
donos
dos
imóveis
pela
qualidade
das
calçadas.
Mas
não
há
controle
do
cumprimento
da
Lei.
Então
a
municipalidade
se
torna
cúmplice
e
criminosa
no
mal
que
as
calçadas
intransitáveis
causam
aos
seus
usuários.
Assim
como
todos
temos
parentes
e
conhecidos
vitimas
de
assalto,
também
em
toda
família
há
vitimas
das
calçadas
do
Recife.
Por
que
as
calçadas
de
Paris
são
ótimas
para
os
turistas
e
dão
aquela
sensação
de
liberdade
e
segurança?
Porque
são
feitas
para
os
respeitados
moradores
da
cidade.
O
turista
apenas
se
beneficia
de
algo
normal
da
vida
urbana
local.
No
caso
da
cidade
onde
pago
IPTU
e
pecados
alheios,
as
calçadas
são
um
indicador
de
que
ninguém
se
importa
com
ninguém.
Em
matéria
de
qualidade
de
calçadas,
com
raras
e
honrosas
exceções,
é
respeito
zero,
precaução
zero,
empatia
zero,
responsabilidade
zero.
Carecemos
de
longo
trabalho
educativo
e
corretivo
até
galgarmos
um
pequeno
índice
de
civilidade
e
segurança.
Diário
de
Pernambuco,
11/04/2011,
p.
A11). |