QUEBRANDO GALHOS DO QUOTIDIANO
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Computador em casa, no escritório e debaixo do braço, estamos nós com tudo ou quase tudo. É um superassessor que faz o que queremos e o que não queremos. Traz informação, religião, divertimento, dicas de saúde e segurança, inspirações, orientações, sexo, amizades, deleites visuais e musicais, coisas de fazer rir e coisas de fazer chorar. Incentivos aos hormônios da indignação, libido, militância e solidariedade. Cursos, discursos e percursos no planeta e fora dele, a fim de facilitar tudo e incrementar nossos dias – agregar-lhes valor, em vocabulário de hoje. E, com ou sem rede na varanda, ganhamos as redes sociais da grande Inter-rede, onde podemos protestar, desabafar, chorar juntos as tragédias nacionais, fofocar, trocar insultos, dicas e confidências. Nelas, deitamos e rolamos.
Outros benefícios: o computador nos desafia a ter mais e a ser mais – mais competentes no manejo da telinha, mais pacientes quando o micro nos enrola ou degringola, mais eficientes na gerência dos amores, labores, desenvolvimento pessoal e naquela busca ainda não conseguida via pesquisa Google: a felicidade. Os fundadores do país que nasceu em 1776 na América do Norte sabiamente afirmaram que todos temos direito “à vida, à liberdade e à busca da felicidade”. Nunca disseram que temos direito à própria – apenas o direito de procurá-la. Ver Declaração da Independência dos Estados Unidos.
Como se já não bastasse o computador, o celular é outro formidável instrumento de poder, real ou imaginário – p.ex., você aceita numa boa a ilusão de que controla seus filhos e outras pessoas pelo celular. Outras vantagens: com ele, você nunca está sozinho. Vence barreiras de distância e horários, resolve coisas e economiza tempo para gastar no computador. E pode estar plenamente atento e presente em vários lugares, menos no lugar onde seu corpo se encontra falando ao celular. Isto é importantíssimo neste mundo – com licença da palavra - globalizado. Mundo rápido como o micro e o celular, quando funcionam. De celular, ou celulares, em punho, você é mais capaz, mais loquaz, mais conectado com tudo e todos – exceto, talvez, consigo mesmo.
Diante de tanta coisa a nosso favor, para que reclamar e estressar-se? Tudo é resolvido e resolvível pelo computador e o celular. Restam-nos apenas dois probleminhas: a vida e a morte.
(Diário de Pernambuco, 25/04/2011, p.A11)