Theresa Catharina de Góes Campos

 

NÃO ME ABANDONE JAMAIS

Um triângulo amoroso que se forma, entre pessoas anormais, desenvolvidas em laboratório para servir a um objetivo no campo científico, é o tema abordado por Não Me Abandone Jamais, de Mark Romanek, que exagera na dose do melodrama para impor sua insegura narrativa.

O roteiro, de Alex Garland, é baseado no best seller, de título homônimo, de Kazuo Ishiguro, escritor japonês, residente na Inglaterra, autor também do romance Vestígios do Dia, adaptado ao cinema por James Ivory (1993). O argumento, de cunho futurista, não só adverte sobre experiências científicas com seres humanos, como igualmente alerta do perigo de que, para efetivá-las, se adotem medidas coercitivas de estados totalitários.

Uma legenda aparece na tela, indicando que o ano de 1952 foi o marco de uma grande descoberta na medicina capaz de propiciar ao homem condições de viver mais de cem anos. Surge logo a figura de Kathy H (Carey Mulligan), a narradora, de 28 anos, que, na retrospecção, reconstitui seus tempos de infância, na década de setenta, passados na escola Haisham, de disciplina rígida, dirigida por Miss Emily (Charlotte Rampling).

Entre os colegas, Kathy (Isobel Meikle-Small) tem dois amigos: Tommy (Charlie Rowe) e Ruth (Ella Purnell). Apesar de ficarem sabendo da banalidade de seus destinos, já que, como cobaias, foram programados para morrer ainda jovens, de acordo com a indiscrição de uma professora, Miss Lucy (Sally Hawkins), logo demitida, os três amigos não têm como evitar que o amor surja entre eles. Assim, já adultos, enquanto Kathy, em segredo, se apaixona por Tommy (Andrew Garfield), este inicia um relacionamento efetivo com Ruth (Keira Knightley).

A psicose da bondade, digna das heroínas dos romances ditos “ cor-de-rosa”, se apodera então de Kathy de forma irreparável. Ela, para deixar os dois amantes à vontade, parte numa missão assistencial, a qual lhe vai propiciar, como benefício, o adiamento de sua morte. É sobre essa tônica da dualidade – amor e morte – que Romanek, ex-assistente de Brian De Palma e diretor de vídeos musicais, baseia grande parte de sua lenta narrativa, relegando, dessa forma, o contexto de ficção científica.

Para caracterizar sua opção pela love story – que provoca turbilhões de lágrimas na plateia - , Romanek usa e abusa da trilha sonora. Rachel Portman selecionou temas musicais açucarados para contrastar com a melancolia em que, aos poucos, mergulham os protagonistas, principalmente Tommy e Ruth, os quais, ao longo do tempo, se desgastaram , como é natural entre os humanos, no relacionamento amoroso. Apesar disso, Tommy, já debilitado, insiste em ser feliz, durante o pouco tempo que lhe resta, ao lado de Kathy.

O que segura o interesse do espectador até o final é, sem dúvida, o trabalho dos atores. Carey Mulligan (Educação) representa Kathy, dando-lhe as características de inocência e de superação. A atriz imprime a compreensão na personagem de que a amizade prevalece sobre o amor, isto é, resiste mais, segundo deixa transparecer na cena final. Andrew Garfield (Rede Social) parece convicto de que, como Tommy, pintor de quadros, cabe a ele ser mais humano que os outros, ou melhor, mais dedicado a expressar a sua crença na existência da alma. Keira Knightley (Orgulho e Preconceito), como Ruth, é a menos compromissada de todos. Por isso, apresenta a face sempre rígida. E Charlotte Rampling (O Porteiro de Noite), como Miss Emily, assume a máscara tétrica e sombria do totalitarismo.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA

NÃO ME ABANDONE JAMAIS
NEVER LET ME GO

EUA / Reino Unido / 2010
Duração – 103 minutos
Direção – Mark Romanek
Roteiro – Alex Garland com base no romance Never Let Me Go, de Kazuo Ishiguro
Produção – Mark Romanek, Alex Garland, Andrew MacDonald e Allon Reich
Fotografia – Adam Kimmel

 

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