Reflexões
Homiléticas para
Julho de 2011
Pe. Tomaz
Hughes, SVD
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FESTA DE SÃO
PEDRO E SÃO
PAULO - 3 Julho
2011
Mt 16, 13-19
“Tu és o
Messias, o Filho
do Deus vivo”
Hoje a Igreja
celebra a festa
dos dois grandes
apóstolos, Pedro
e Paulo. Como
evangelho do
dia, escolheu-se
a história do
caminho de
Cesareia de
Felipe. O relato
mais antigo está
em Marcos, Cap.
8, 27-38, que se
tornou o pivô de
todo o
Evangelho. A
estrutura de
Mateus é
diferente; mas,
o relato tem a
mesma
finalidade, ou
seja, clarificar
quem é Jesus e o
que significa
ser discípulo
d’Ele.
A
pedagogia do
relato é
interessante.
Primeiro Jesus
faz uma pergunta
aparentemente
inócua: “Quem
dizem os homens
que é o Filho do
Homem?”
Assim recebe
diversas
respostas, pois
esta pergunta
não compromete,
é o “diz que”.
Mas a segunda
pergunta traz a
facada: “E
vocês, quem
dizem que eu
sou?” Agora
não vêm muitas
respostas, pois
quem responde em
nome pessoal, e
não dos outros,
se compromete
com as
consequências!
Somente Pedro se
arrisca e
proclama a
verdade sobre
Jesus: “Tu és
o Messias, o
Filho do Deus
vivo”.
Aparentemente,
Pedro acertou e
realmente, em
Mateus, Jesus
confirma a
verdade do que
proclamou!
Afirmou que foi
através de uma
revelação do Pai
que Pedro fez a
sua profissão de
fé. Mas, para
que entendamos
bem o trecho, é
necessário que
continuemos a
leitura pelo
menos até v. 25.
Pois, o assunto
é mais
complicado do
que possa
parecer.
Pois, após
afirmar que
Pedro tinha
falado a
verdade, Jesus
logo explica o
que significa
ser o Messias.
Não era ser
glorioso,
triunfante e
poderoso,
conforme os
critérios deste
mundo. Muito
pelo contrário,
era ser fiel à
sua vocação como
Servo de Javé,
era ser preso,
torturado e
assassinado, era
dar a vida em
favor de muitos.
Jesus confirmou
que, de fato,
era o Messias,
mas não do jeito
que Pedro quis.
Este, conforme
as expectativas
do povo do seu
tempo, quis um
Messias forte e
dominador, não
um que pudesse
ir, e levar os
seus seguidores
com Ele, até a
Cruz! Por isso,
Pedro remonta
com Jesus,
pedindo que nada
disso
acontecesse, e
como recompensa
ganha uma das
frases mais
duras da Bíblia:
“Fique atrás
de mim, satanás,
você é uma pedra
de tropeço para
mim, pois não
pensa as coisas
de Deus, mas dos
homens!” (v.
23).
Pedro, cuja
proclamação de
fé mereceu ser
chamada a pedra
fundamental da
Igreja (v. 18),
é agora chamado
de Satanás - o
Tentador por
excelência - e
“pedra de
tropeço” para
Jesus! Pedro
tinha os títulos
certos para
Jesus; mas, a
prática errada!
Usando os nossos
termos de hoje,
de forma um
tanto
anacrônica,
podemos dizer
que ele tinha
ortodoxia, mas
não ortopraxis!
Assim, Jesus usa
o equívoco de
Pedro para
explicar o que
significa ser
seguidor d’Ele:
“Se alguém
quer me seguir,
renuncie a se
mesmo, tome a
sua cruz, e
siga-me” (v.
24). Ter fé em
Jesus não é, em
primeiro lugar,
um exercício
intelectual ou
teológico, mas
uma prática; o
seguimento d’Ele
na construção do
seu projeto, até
as últimas
consequências.
Hoje, enquanto
celebramos os
nossos dois
grandes
missionários, a
segunda pergunta
de Jesus ressoa
forte: para nós,
quem é Jesus?
Não para o
catecismo, não
para o Papa ou o
Bispo ou Pastor,
mas para cada de
nós
pessoalmente? No
fundo a resposta
se dá, não com
palavras, mas
pela maneira em
que vivemos e
nos
comprometemos
com o projeto de
Jesus - Ele que
veio para que
todos “tivessem
a vida e a vida
plenamente!” (Jo
10, 10).
Cuidemos para
que não caiamos
na tentação do
equívoco de
Pedro, a de
termos a
doutrina certa,
mas a prática
errada, de
cairmos na
tentação de
substituir o
caminho humilde
e serviçal da
cruz pela pompa
e ritual, de
esquecermos os
valores do Reino
de Deus para
substituí-los
com os valores
da sociedade
vigente. Pedro
aprendeu ao
longo da vida o
que é ser
discípulo, pois
terminou
crucificado
também, mas não
foi fácil a
mudança de
mentalidade.
Paulo também
teve que
despojar-se da
toda a sua
formação
farisaica,
quando descobriu
que a Lei não
salva ninguém,
mas somente a
graça de Jesus.
Hoje, quando o
pobre quase
desaparece dos
documentos
oficiais da
Igreja (embora o
Espírito
inspirasse os
participantes da
V Assembleia de
CELAM em
Aparecida a
voltar a esta
opção “com
renovado vigor,”
e o Papa Bento
XVI insiste
nessa opção em
Verbum Domini),
quando diversos
setores da
Igreja se
esquecem de
Vaticano II e do
seu conceito do
povo de Deus,
torna-se mais
importante do
que nunca
lembrar o
ensinamento de
Jesus sobre o
discipulado: Ele
“não veio para
ser servido, mas
para servir” (Mt
20, 28).
DÉCIMO QUARTO
DOMINGO COMUM -
10 Julho 2011
Mt 11, 25-30
“Eu te louvo,
Pai, ... porque
escondeste essas
coisas aos
sábios e
inteligentes, e
as revelaste aos
pequeninos”
Os primeiros
três versículos
desse texto não
têm uma
vinculação muito
estreita com o
contexto em que
Mateus os coloca
(Lucas situa o
ditado num outro
contexto), e por
isso “essas
coisas” não
se refere ao que
veio antes no
capítulo (a
condenação de
Corozaim e
Betsaida), mas
aos “mistérios
do Reino”, que
são revelados
aos pequenos e
humildes - neste
contexto os
discípulos - e
escondidos aos
que se acham
auto-suficientes
na sua sabedoria
e estudo - os
fariseus e
doutores da Lei
(Mt 13, 11).
Essa oração de
louvor de Jesus
brotava da sua
própria
experiência na
missão - que
enquanto a sua
pessoa,
ensinamento e
projeto de vida
foram rejeitados
pela elite
política,
econômica e
religiosa da
época, os pobres
e massacrados
pelo sistema o
acolheram. A
auto-suficiência
da elite impediu
que ela pudesse
reconhecer a
verdade de
Jesus. Os
pobres, com a
sua
espiritualidade
do Servo de
Javé,
conseguiram em
grande parte
acolhê-Lo, mesmo
sem compreender
inteiramente a
profundeza da
sua identidade.
O
texto tem ecos
da literatura
sapiencial e
apocalíptica.
Dos Sapienciais,
podemos ver
reflexos de Pr
8, onde a
Sabedoria é
personificada,
Eclo 51, 1-12,
13-30 e Sab 6-8.
Mas também nos
faz lembrar de
textos
apocalípticos
como Daniel,
onde os sábios
são incapazes de
decifrar o
sentido do sonho
de Nabucodonosor
(Dn 2, 3-13),
enquanto o
humilde Daniel,
confiando na
revelação
divina, louva a
Deus por lhe ter
dado a sabedoria
(Dn 2, 23) e
revela que se
trata do Reino
fundado pelo
próprio Deus (Dn
2, 44). No tempo
de Jesus, os
sábios também
não conseguem
decifrar os
mistérios do
Reino de Deus,
um dom que é
dado aos
humildes. Em
Mateus, os
pequenos são os
discípulos (Mt
10, 42) a quem
são revelados o
mistério do
Reino dos Céus
(Mt 13, 11).
Os versículos
26-28 são
importantes,
pois afirmam o
relacionamento
único entre
Jesus e o seu
“Abbá”, Pai.
Aqui, a
comunidade
mateana expressa
a sua fé em
Jesus como Filho
Absoluto do Pai
Absoluto. É uma
de três
passagens em
Mateus, nas
quais Jesus
expressa, de uma
maneira
indireta, ter
uma relação
única com Deus,
seu Pai. As
outras são Mt
21, 37 e 24, 36.
A
imagem do “jugo”
era bastante
conhecida já no
Antigo
Testamento (Jr
2, 20; Jr 5, 5;
Os 10, 11). No
judaísmo do
tempo de Jesus
era usada como
imagem da Lei de
Deus, escrita e
oral (Eclo
6,24-30; 51,
26s). O termo
não tinha
necessariamente
uma conotação de
peso ou opressão
quando usado
assim. O nosso
texto usa a
imagem corrente
para contrastar
a interpretação
farisaica da
Lei, que oprimia
o povo com
exigências
casuísticas e
conceitos que
excluíam muitos,
com a
interpretação de
Jesus, que não
rejeita a Lei,
mas lhe devolve
o seu sentido
original - uma
garantia de
manter vivo na
comunidade o
projeto
libertador de
Javé. O problema
não estava na
Lei, mas na sua
interpretação.
Para os
doutores, as
práticas
externas eram
tão exigentes
que ofuscavam o
rosto
misericordioso
de Deus,
tornando a
vivência
religiosa um
pesadelo para
muitos. A
interpretação de
Jesus não é
“light” - é
exigente, pois
exige uma
vivência de
fraternidade,
uma luta pela
solidariedade e
libertação e a
rejeição de todo
egoísmo e
individualismo.
No fundo, é mais
exigente do que
a dos fariseus,
pois não se
esgota em
práticas
externas, mas em
um processo
infinito de
doação de si.
Mas, Ele garante
que este projeto
de vida, por tão
exigente que
seja, trará a
alegria do Reino
de Deus.
Esses últimos
versículos nos
levam a rever a
nossa pregação,
a nossa
interpretação da
Lei de Deus, a
nossa prática
pastoral. Pois,
ao longo da
história, muitas
vezes a pregação
nas Igrejas e na
catequese tem
sido uma série
de legalismos
moralizantes,
reduzindo o
cristianismo a
uma prática
externa de
normas. Não
poucas vezes,
colocando fardos
pesados sobre os
menos fortes,
sem que fosse
oferecido para
eles qualquer
ajuda para
carregá-los.
Frequentemente,
o seguimento de
Jesus se reduzia
ao cumprimento
de leis, ou à
vivência de uma
moral ou ética,
sem a revelação
do Deus
misericordioso e
compassivo, o
Deus de vida.
Jesus nos mostra
que, embora a
religião exija
leis e moral,
fundamentalmente
é uma mística,
uma experiência
do amor de Deus
que nos convida
a assumir o seu
jugo como
resposta, um
jugo que não
mata, mas que
liberta, que não
esconde o rosto
de Deus, mas,
que traz a
alegria do
Reino!
DÉCIMO QUINTO
DOMINGO COMUM -
17 Julho 2011
Mt 13, 1-23
“Quem tem
ouvidos para
ouvir, ouça”
Com o texto de
hoje, entramos
no capítulo 13
de Mateus, que,
estruturalmente,
é o centro do
Evangelho. Tudo
se concentra no
ponto central da
mensagem de
Jesus: o Reino
de Deus, que
continua algo
misterioso (v.
11). O capítulo
consiste de sete
parábolas - as
parábolas do
Reino - e alguma
explicação
delas. O trecho
de hoje nos
relata a
parábola que é
conhecida como a
do semeador
(embora o texto
enfatize mais a
semente), junto
com uma
explicação do
seu sentido.
O
que é uma
parábola? Um
exegeta, C.H.
Dodd, deu a
seguinte
definição:
“Parábola: uma
metáfora tirada
da vida diária
ou da natureza,
que chama a
atenção do
ouvinte pelas
imagens vivas ou
estranhas, e que
deixa-o com
dúvida
suficiente sobre
o seu sentido
exata para que
seja estimulado
a refletir por
si mesmo.” A
parábola de hoje
usa imagens
conhecidas na
Palestina rural
do então - a
semeadura - e na
sua forma
original não
trazia
explicação.
Terminava com o
desafio de Jesus
para que os
ouvintes
aprofundassem
por si mesmos o
seu sentido:
“quem tem
ouvidos para
ouvir, ouça”.
Para entender as
imagens, é bom
lembrar que, na
Palestina
antiga, se
jogava a semente
antes de arar a
terra. Por isso,
alguma semente
caía nas picadas
que atravessavam
os campos “à
beira do
caminho”; outra
parte seria logo
queimada pelo
sol terrível do
país; outra
parte, comida
pelas aves,
outra parte
perdida porque a
terra era rala e
cheia de ervas
daninhas. Mas,
uma parte cairia
em terra fértil
que dava frutos,
conforme a sua
possibilidade.
Provavelmente a
explicação dada
em vv. 18-23
nasceu mais
tarde, durante a
catequese da
Igreja
primitiva.
Assim, no início
podemos supor
que o semeador
era Deus, Jesus,
ou um emissário
d’Eles; a
semente seria a
Palavra de Deus
e os tipos
diferentes de
solo, as
respostas
diferentes dos
ouvintes. Alguns
deixam o
fascínio do mal,
nas suas
diversas formas,
roubar a
semente; outros
acolhem a
Palavra; mas, de
uma maneira
superficial, e
não demora muito
para que se
torna
infrutífera nas
suas vidas.
Outros aceitam a
Revelação
divina, mas a
colocam em
segundo plano,
enquanto correm
atrás das
riquezas de um
mundo
consumista.
Relegando assim
Deus e o seu
projeto, fazem
com que a
religião se
torne algo de
fachada, que em
nada ajuda o
Reino a crescer.
Mas, a
finalidade da
história é de
dar esperança.
Embora haja
muitos
fracassos, em
última instância
o trabalho do
semeador dá
certo - sempre
há pessoas que
recebem com
entusiasmo a
Palavra, e suas
vidas, baseadas
na fé viva, dão
muitos frutos.
Não é necessário
que todos deem
frutos iguais -
mas que todos
deem conforme as
suas
possibilidades,
cem, sessenta e
trinta por um.
Depois de dois
mil anos de
semeadura, cabe
perguntar sobre
os frutos da
semeadura na
nossa sociedade,
dita cristã.
Depois de
quinhentos anos
das Igrejas no
Brasil, será que
o solo - nós
cristãos – temos
dado os frutos
de uma sociedade
justa e
fraterna,
conforme o
desejo de Deus?
Estamos sendo -
individualmente
e
comunitariamente
- quê tipo de
solo? Deixamos a
semente penetrar
no solo dos
nossos corações,
ou deixamos a
semente na
superfície, como
a que caiu à
beira do
caminho? Ou a
aceitamos
através da
catequese
sacramental e da
tradição
familiar, sem
aprofundá-la,
ficando numa
prática estéril
para manter
aparências e
tradição, mas
que não afeta em
nada a
sociedade? Ou
deixamos os
espinhos
modernos - as
tentações de uma
sociedade
materialista,
consumista, de
competitividade
- sufocar as
reações de
fraternidade e
solidariedade
que devem marcar
os que acolhem a
Palavra? Ou, com
a graça de Deus,
procuramos ser
solo fértil,
onde a
fertilidade
inerente na
semente possa
brotar em frutos
de bondade e
justiça,
conforme as
nossas
possibilidades,
deixando
acontecer o que
profetizou
Segundo-Isaías:
“Assim acontece
com a minha
Palavra que sai
da minha boca:
ela não volta
para mim sem
efeito, sem ter
realizado o que
eu quero e sem
ter cumprido com
sucesso a missão
para a qual eu a
mandei” (Is 55,
11). O semeador
é Deus, a
semente é boa -
mas que tipo de
solo sou eu,
somos nós? “Quem
tem ouvidos para
ouvir, ouça!”
DÉCIMO SEXTO
DOMINGO COMUM -
24 Julho 2011
Mt 13, 13, 24-43
“Quem tem
ouvidos para
ouvir, ouça!”
Esse texto
continua o
capítulo 13 de
Mateus, onde se
proclamam as
parábolas do
Reino. Hoje
lemos três
parábolas, que
comparam o Reino
de Deus a um
campo de trigo,
um grão de
mostarda e o
fermento na
massa, quando se
faz pão. Termina
com uma
explicação
alegórica do
sentido da
parábola do
trigo de do
joio. Podemos
entender essas
parábolas todas
como uma
mensagem de
esperança para a
comunidade
pequena mateana
- e para nós
hoje. Uma
leitura atenta
delas deve nos
reanimar para a
nossa caminhada
e luta em favor
do Reino, sem
desânimo nem
desesperança.
Isso
fica patente nas
pequenas
parábolas do
grão de mostrada
e do fermento na
massa. A semente
de mostarda é
minúscula, mas
quando brota,
forma um arbusto
viçoso. Quando
se faz pão, não
se usa mais do
que uma pequena
porção de
fermento, mas é
o suficiente
para levedar a
massa toda. O
efeito é
desproporcional
ao tamanho ou
peso do grão e
do fermento.
Pois, eles têm
um dinamismo
interno que dá
resultados
inesperados.
Jesus aplica
essas
observações ao
Reino de Deus. O
seu crescimento
depende de
pessoas e coisas
que
aparentemente
são
insignificantes.
Porém, onde
existe uma real
comunidade de
discípulos; há
um dinamismo
interno que
causa efeitos
muito maiores do
que a sua força
humana, pois é
movido pela
força do
Espírito de
Deus. Com
certeza, no
tempo da redação
desse evangelho,
a comunidade
mateana estava
sentindo-se
fraca demais
para enfrentar a
polêmica e a
luta com o
judaísmo
rabínico
formativo.
Diante das
expulsões das
sinagogas e das
famílias, da
rejeição dos
discípulos por
seus pares, e
diante da ameaça
de perseguição
real, muitos
devem ter
desanimado,
sentindo-se
fracos demais
para esta
caminhada.
Algo semelhante
facilmente
ocorre hoje -
diante do rolo
compressor da
globalização do
mercado, do
projeto
neo-liberal,
muitos acham que
nós não temos
forças para
resistir, pois
somos fracos e
insignificantes
nos olhos dos
donos do poder.
Mas, isso é
julgar somente
com critérios
humanos. É fácil
esquecer a ação
do Espírito e
que para Deus
nada é
impossível.
Essas duas
parábolas nos
ensinam a
valorizar o
nosso grão de
mostarda e a
nossa medida de
fermento - ou
seja, as
pequenas ações e
gestos de
solidariedade,
que trazem o
dinamismo do
Espírito e podem
alcançar
resultados
surpreendentes.
Olhando as
estatísticas da
diminuição da
mortalidade
infantil no
Brasil, diante
de quais os
governantes se
ufanam, quem não
sabe que em
grande parte é
resultado do
trabalho humilde
e perseverante
dos membros da
Pastoral da
Criança, que,
mesmo diante de
décadas de
descaso
governamental
diante da saúde
pública, fazem
verdadeiros
milagres em
favor da vida. E
poder-se-ia
multiplicar os
exemplos.
Olhemos com os
olhos de fé e de
Deus e não com
os olhos do
mundo, que só
valoriza a força
do dinheiro, do
poder e da
dominação.
Nesse contexto
pode-se ler a
parábola do
campo onde foi
semeado joio
(erva daninha)
junto com o
trigo. Os servos
querem arrancar
à força o joio,
mas o patrão não
permite, pois
talvez faça mais
mal do que bem.
Aqui o campo é o
mundo, a
comunidade, a
Igreja. Somos
uma comunidade
santa e
pecadora, como
reza a oração
eucarística.
Cada comunidade,
cada pessoa é ao
mesmo tempo
trigo e joio. A
parábola alerta
contra dois
perigos muitas
vezes presentes
nas Igrejas. Uma
é a tendência do
puritanismo - de
criar uma
comunidade de
“santos” ou
“eleitos”,
intolerante com
os pecadores e
com as fraquezas
humanas, criando
uma religião
rígida e fria,
que esconde o
rosto
misericordioso
de Deus. O outro
perigo é o
oposto -
simplesmente
ignorar o joio,
e assim correr o
perigo que a
erva daninha (os
males e erros)
sufoquem o trigo
na comunidade. A
parábola
aconselha
paciência e
cautela, e assim
quer evitar os
dois entremos de
“elitismo” e de
laissez-faire,
pois ambas as
atitudes teriam
como resultado a
destruição da
comunidade.
O
Reino é de Deus
e Ele não falha.
Somos convidados
a caminhar
juntos na
construção
lenta, mas
segura, desse
Reino, apesar de
sermos joio e
trigo,
confiantes no
dinamismo do
Espírito que faz
com que o nosso
grão de mostarda
e fermento na
massa dão
frutos, muito
além das
expectativas
humanas.
DÉCIMO SÉTIMO
DOMINGO COMUM -
31 Julho 2011
Mt 13, 44-52
“Vocês
compreenderam
tudo isso?”
Hoje terminamos
a leitura do
capítulo 13 de
Mateus, com as
últimas três
parábolas do
Reino - a do
tesouro
escondido, a da
pérola preciosa
e a da rede
lançada ao mar.
Nas primeiras
duas, podemos
notar duas
ênfases - uma
sobre o grande
valor do achado
(simbolizando o
Reino) e outra
sobre a atitude
de quem o acha.
A parábola da
rede no mar ecoa
a mensagem da
parábola do
campo de trigo e
joio, que fez
parte do texto
do domingo
passado.
O
contexto
histórico do
tesouro achado é
o do Oriente
Médio Antigo,
palco de tantas
invasões e
guerras. Era
prática comum
enterrar os
valores diante
da ameaça de uma
invasão ou
guerra. Só que,
muitas vezes, o
dono morria na
violência, e o
tesouro ficava
escondido por
muito tempo, até
ser achado por
acaso.
Usando esse
exemplo, Jesus
nos ensina algo
sobre o Reino e
sobre a atitude
do discípulo
diante dele. O
Reino de Deus é
um valor tão
incalculável,
que uma pessoa
sensata daria
tudo para
possuí-lo. É
importante notar
que o texto
enfatiza que
“cheio de
alegria” ele
vende todos os
seus bens, para
poder possuir o
valor maior, que
é o Reino. A
vivência dos
valores do
Reino, do
seguimento de
Jesus, deve ser
uma alegria e
não um peso. Sem
dúvida é
exigente, pois
meias-medidas
não servem (ele
vende tudo o que
tem); mas, o
resultado é uma
alegria enorme.
Não a alegria
superficial de
um programa de
Faustão
ou Sílvio
Santos, mas
uma alegria que
brota da
profundeza do
nosso ser, pois
descobrimos a
única coisa que
não passa e que
dá sentido a
toda a nossa
vida - o Reino
de Deus. É pena
que, com tanta
frequência,
conseguimos
fazer do
seguimento de
Jesus um peso,
uma chatice, um
legalismo, que
afasta de Deus
em lugar de
atrair para Ele.
É impressionante
como se consegue
fazer a Palavra
de Deus algo tão
chato, e
irrelevante!
Mais uma vez,
como na parábola
do campo de
trigo e joio, a
última parábola
ensina que o
Reino, que
subsiste na
Igreja, congrega
santos e
pecadores (os
bons e maus
peixes). A
separação final
deve ser deixada
para a justiça
de Deus,
enquanto, na
vivência diária,
devemos mostrar
paciência e
tolerância, mas,
sem indiferença
ou comodismo.
O
último versículo
talvez indique
que o autor do
Evangelho que
denominamos
Mateus era um
escriba ou
doutor da Lei,
convertido ao
discipulado de
Jesus (é bom
lembrar que os
títulos
tradicionais
dados aos
Evangelhos são
somente
atribuições.
Nenhum evangelho
identifica o seu
autor, é e
consenso entre
os exegetas que
o Evangelho de
Mateus não tenha
sido escrito
pelo apóstolo
daquele nome).
Ele está bem
enraizado nas
“coisas antigas”
- ou seja, no
Antigo
Testamento. Mas
está aberto às
coisas novas, ou
seja, a nova
interpretação da
Lei que Jesus
trouxe. Assim
nos ensina algo
valioso para o
mundo de hoje,
tão inconstante
e sem raízes de
um lado e com a
tentação de
fechamento no
fundamentalismo
e intolerância,
do outro. Nem
tudo que é
antigo é
ultrapassado e
nem tudo que é
novidade é boa.
Igualmente, nem
tudo que é
antigo tem que
ser preservado e
nem toda a
novidade deve
ser rejeitada. É
importante ter
critérios, para
que não percamos
os valores, nem
da sabedoria
antiga, nem da
busca de
atualização para
os dias de hoje.
Quem tem ouvidos
para ouvir,
ouça!
Décimo Oitavo
Domingo Comum –
7 Agosto 2011
Mt 14,13-21
“Dai-lhes vós
mesmos de comer”
No Evangelho de
Mateus, o texto
do Evangelho de
hoje vem logo
após a história
da morte de João
Batista, ligada
à festa de
aniversário do
Tetrarca Herodes
Antipas. Mateus
contrasta o
“Banquete da
Morte” promovida
por Herodes, com
“O Banquete da
Vida”,
protagonizado
por Jesus!
O
milagre
normalmente
chamado “A
Multiplicação
dos Pães”, é o
único milagre de
Jesus relatado
nos quatro
Evangelhos. Isso
aponta à
importância dada
nas primeiras
comunidades a
este relato,
tanto que a sua
memória
persistiu não
somente nas
comunidades da
tradição
Sinótica (Mc,
Mt, e Lc), mas
também na
Comunidade do
Discípulo Amado.
Mesmo fazendo
leitura
superficial dos
quatro relatos
(Mc 6, 30-44; Lc
9, 10-17; Mt 14,
13-21; Jo 6,
1-15), alguns
elementos
importantes
soltam aos
olhos: A reação
dos discípulos
diante do
problema da fome
da multidão. Nos
Sinóticos, a
solução sugerida
por eles é a de
despedir a turba
para que pudesse
comprar pão.
Assim, ignora a
situação dos que
não tinham
possibilidade de
comprar! É a
solução de muita
gente hoje
diante do
escândalo da
pobreza no mundo
- que se virem!
Cada um para si!
Quem não tem
condições, que
se lasque! Jesus
rejeita
claramente essa
“solução” -
“Dai-lhes vós
mesmos de
comer!” Em João,
Marcos e Lucas,
a proposta de
comprar pão para
doá-lo também se
revela uma
solução
inadequada.
Jesus insiste
“Dai-lhes vós
mesmos de
comer”. Ele não
aceita nem a
solução de
“lavar as mãos”
diante da fome
alheia ou de
cair em um
assistencialismo.
Ele desafia a
comunidade dos
discípulos a
achar uma saída
baseada numa
nova proposta de
vida - a da
partilha!
Em nenhum dos
quatro relatos
se usa o verbo
“multiplicar”! O
motivo é simples
- se a ênfase
caísse sobre o
“multiplicar”
milagroso, teria
poucas
consequências
para os
discípulos (nós,
hoje), pois não
temos
possibilidade de
“multiplicar” as
coisas. Os
verbos são bem
escolhidos:
“benzer, partir,
dar, distribuir”
- porque todos
nós podemos
partilhar os
bens materiais e
espirituais que
temos.
O
Brasil não
precisa
“multiplicar”
terras, bens ou
renda. Tem mais
do que o
suficiente. Mas
é urgente
partilhar e
redistribuir os
bens que Deus
nos deu para o
sustento de
todos!
Menos do que
João, mas muito
mais do que
Lucas e Marcos,
Mateus liga a
sua narrativa à
instituição
eucarística (Mt
26, 26). Também
concentra a
atenção nos
pães, pois neste
relato somente
eles são
distribuídos.
Assim o texto
nos lembra que a
participação
eucarística
exige
compromisso com
uma visão social
baseada na
partilha dos
bens necessários
para a vida, e
não na
acumulação da
parte de alguns,
junto com a
falta do básico
para muitos. O
cristão não pode
compactuar com
uma sociedade
organizada
conforme os
princípios de
Herodes; mas,
deve lutar para
a construção de
uma sociedade em
favor da vida,
seguindo as
pegadas de Jesus
de Nazaré.
O
texto de hoje
relê Êx 16, (o
maná), Nm 11 (as
codornas) e 2Rs
4, 1-7.42-44
(onde Eliseu
distribuiu óleo
e pão). O texto
do Êx. 16
enfatiza que a
avareza de
acumular coisas
às custas dos
outros leva à
podridão.
É
claro que diante
do enorme
sofrimento da
maioria da
população do
mundo, a gente
pode sentir-se
tão impotente
como se sentiram
os discípulos no
Evangelho de
hoje. Mas, o
texto nos ensina
que não devemos
cair na cilada
de aceitar as
saídas falsas
propostas pela
sociedade
vigente e
hegemônica - ou
de “lavar as
mãos” ou de cair
somente num
simples
assistencialismo.
O cristão,
sustentado pela
eucaristia, a
Mesa da Palavra
e a Mesa do Pão,
deve se
comprometer com
uma visão cristã
da sociedade,
que exige que
nós façamos o
que é possível
para a
construção de um
mundo de
justiça, e
fraternidade.
Há
dois mil anos,
Jesus olhou a
multidão, teve
compaixão dela e
agiu. Com
certeza, Ele
olha hoje a
situação de
tantos irmãos e
irmãs e pede que
os seus
seguidores façam
algo para mudar
a situação. É
comum os jornais
trazerem
notícias do
aumento
assustador da
fome no mundo
por causa da
crescente falta
de alimentos e
do aumento dos
preços de
alimentos
básicos. Paira
sobre nós
cristãos o
desafio do texto
de hoje:
“Dai-lhes vós
mesmo de comer!”
O que significa
isso na prática
para mim, para
você, para as
nossas Igrejas,
na situação
concreta da
nossa vida?
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Pe. Tomaz
Hughes, SVD
E-mail:
thughes@netpar.com.br
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