Theresa Catharina de Góes Campos

  O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?

A atitude de absoluta negligência em não reclamar dos serviços a nós devidos (como direito ou porque solicitados e pagos por nós ...) constitui, de nossa parte, omissão covarde.

Contudo, esse nosso silêncio se repete inúmeras vezes. Disfarçado, inclusive, de postura supostamente refinada, como se os desrespeitados que se calam fizessem parte de uma elite... que seria rica em bens materiais e de alguma forma poderosa em si mesma, ou colocada no poder ou com grande autoridade adquirida (sob a justificativa de seus falsos méritos?!). Assim, por demais comum se torna o mau hábito de cultivar, em segredo, a rejeição dos sentimentos de humilhação e vergonha, experimentados pela vítima, e não, o erro de quem deveria ser exposto e denunciado, as ações vergonhosas dos que nos lesam, repetida e despudoradamente!

Vê-se, portanto, na sociedade em que sobrevivemos, sem uma autêntica afirmação dos nossos direitos e deveres, uma inversão total de princípios, nessa situação de ausência de valores humanos e fundamentos cívicos e filosóficos para o exercício permanente de uma afirmação que se traduz em exigirmos um respeito mínimo à nossa dignidade, que jamais poderia sofrer os constantes desrespeitos aos quais nos habituamos, sem manifestar ou registrar, de alguma forma, as nossas queixas...

As mulheres, aliás, encontram uma dificuldade específica: os homens, quando erguem a voz ou, simplesmente quando reivindicam, logo recebem a classificação de indivíduos determinados, com personalidade; elas, ficam de imediato desqualificadas porque histéricas, no mínimo, nervosas...

Para tentar educar os prejudicados, decidi que, em determinadas situações, não devo aceitar fazer reclamações pelos outros, sob quaisquer justificativas ou argumentos, apesar da empatia que não deixo de assumir, no meu íntimo, a favor dos que sofrem prejuízos morais e materiais..

Tomo a atitude _ confesso que por demais difícil (às vezes, até dolorosa) para mim _, de ignorar, como se indiferente ou alienada também fosse... desde que eu própria não seja a pessoa prejudicada em meus direitos. Então, rejeito ser porta-voz! Não aceito agir como canal de comunicação. Penso que, assim me posicionando, talvez venha a surgir, dessa aparente acomodação, uma tomada de consciência no indivíduo conformado a ver seus direitos espezinhados, que há muito se deixou moldar e adequar, para aceitar o inaceitável, aguardando, com esperteza e malícia, que outros lutem em seu lugar.

Todavia, há um questionamento essencial, que teima em vir à tona: como distinguir, verdadeiramente, o individual do coletivo, o "outro", do "nós", o "próximo" de "todos"? Onde estariam os limites? Como reconhecer o cerne, o âmago de uma questão que ultrapassaria o individual para transbordar e se transformar em responsabilidade coletiva? Uma reflexão crítica se impõe, porque não há respostas fáceis para todos os casos.

Decepcionada, sob o peso do desânimo de contemplar tanta apatia; ferida pelo efeito nocivo, devastador, causado pela contemplação de tanta inércia; sob o efeito nocivo, devastador, causado pela contemplação de tanta inércia; cercada de tanta indiferença, ao bem comum e ao ser humano cuja dignidade de pessoa merece respeito, apesar desse marasmo absurdo, a percepção do "outro" como presença em mim insiste em procurar novos caminhos de atuação... E a discussão interior continua, num debate íntimo perturbador...porque atuar implica enfrentar perigos, sempre tem consequências...demanda sacrifícios.

Na esperança de conscientizar, melhor silenciar...para que falem aqueles diretamente lesados, abandonando seu comodismo habitual. Do mesmo modo que não alugo meus sentimentos, não vou ceder minha voz aos que silenciam e se omitem , não agem e se recusam consistentemente a pensar, num padrão de mera existência, cujos parâmetros são o conformismo e a alienação. Sim, porque todo aquele que não ousa se mostrar consciente, já demonstra claramente ser alienado. Sem a aceitação individual em prol do agir e demonstrar nosso pensamento, sem manifestar nossa justa reação a uma injustiça, não temos como promover a conscientização dos que se acomodam na mal disfarçada cegueira...

Quem esconde suas idéias e posições não tem o direito de instigar outros a se exporem, a se colocarem sozinhos na linha de fogo porque reivindicam direitos! Quem sabe...quando os silenciosos, que tanto se escondem como cidadãos, forem jogados no abismo, as vendas de seus olhos com certeza também cairão...e até por uma questão de sobrevivência, precisarão romper as algemas de seu materialismo preguiçoso, que não os deixa , de fato, enxergar com nitidez os seus direitos e deveres!

No entanto, como afirmar, sob qual fundamentação justificar e defender nosso silêncio ? !


Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 1º de julho de 2011.

Assunto: Re: O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR ? - Theresa Catharina de Góes Campos

Em 2 de julho de 2011 12:51, guilherme

Bom dia, Tia Therezita!!
Excelente texto !!! Repassei para vários contatos .....
Como vão as coisas em São Paulo ?
Com certeza, muitas atividades culturais e profissionais ocupam todo o seu tempo.
E a ginástica ?
Com todo esse frio por aí, deve dar uma preguiça enorme para realizar uma rotina de exercícios físicos.....
Amamos você.

Fique com Deus.
Beijos dos sobrinhos Adriana e Guilherme.

PS: Daqui a pouco, estamos indo para o aeroporto recepcionar meus pais, que estão chegando às 14:30.


De: rosemeiremoraes
Data: 3 de julho de 2011 15:10
Assunto: Re: O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Querida Theresa:

Obrigada pelo envio deste tão reflexivo texto.
Um tema polêmico da omissão e da não participação dos brasileiros.
O seu olhar sociológico captou bem a atitude de muitos em se omitirem como um comportamento pertencente a uma elite abastada. Como se os ricos não corressem desesperadamente atrás de seus direitos!
Até vejo aquela senhora numa fila com um olhar superior ao ver alguém reclamando de algo: " eu pago e não reclamo.."
Você avança ao nos dizer que participar implica riscos: "...porque atuar
implica enfrentar perigos, sempre tem consequências...demanda sacrifícios."

Parece-nos que há uma consciência coletiva de que o melhor é "não sair de onde está", "deixa estar"; no entanto sabemos que esta atitude nos mantém no subdesenvolvimento.

Um forte abraço,
da sua amiga,
Rosemeire

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De: Theresa Catharina de Goes Campos
Data: 3 de julho de 2011 18:34
Assunto: O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
Para: rosemeiremoraes


Sensibilizada, aqui registro os meus agradecimentos a você, querida Rosemeire,

por ter sido receptiva, e me enviar suas palavras de comentário sobre o artigo de minha autoria O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?, texto que demanda um acolhimento intelectual para a leitura na íntegra, pois facilmente pode ser rejeitado, incompreendido desde o título desanimador, contraditório, ao apresentar uma discussão sobre temas como o silêncio conformista e a urgente necessidade da atuação cívica, firme e corajosa, que leva a uma exposição arriscada. Em aparente ambiguidade, o pensamento se expressa por idas e vindas, no questionamento e nas conclusões. Um caminho tortuoso, tão perturbador quanto a nossa realidade contemporânea.

Abraços e muito obrigadada.
Da amiga
Theresa Catharina


De: Maria Auxiliadora
Data: 1 de julho de 2011 21:42
Assunto: Re: O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Querida Theresita
Seu texto de hoje me estimulou a continuar um desafio que assumi e está me consumindo horas de trabalho e pesquisa: construir uma teoria da aprendizagem histórica referenciada em dois grandes filósofos que admiro e fundamentam minhas concepções acadêmicas: Paulo Freire, no Brasil e Jörn Rüsen, na Alemanha. Ambos nos levam ao caminho da reflexão consciente, humanista, ética e da ação na vida prática. Gostaria, uma hora dessas, orientar-me pessoalmente com suas palavras. Viajo na semana próxima para a Alemanha, levando agora suas palavras e as considerações que levantei de minhas pesquisas com jovens estudantes de escola pública de Curitiba (incrivelmente, eles clamam por ética e humanizaçao das relações entre os homens).

Obrigada, querida amiga.
Dolinha


De: Theresa Catharina de Goes Campos
Data: 3 de julho de 2011 17:03
Assunto: O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
Para: Maria Auxiliadora


Cara Dolinha:

Sinto-me bem, ao saber que o meu texto O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR ? foi de utilidade intelectual e moral para você, inclusive na sua área acadêmico-profissional.

Na verdade, escolho cuidadosamente os conteúdos que envio para meus destinatários específicos. Todavia, não tenho garantia de acerto. Por isso eu peço que me desculpem, se tiver errado, ao fazer a seleção...e remeter ! Entre outras, são razões que me orientam para decidir: informar, partilhar, refletir e conscientizar; para os familiares e amigos, de modo especial, ainda me empenho para registrar as atividades que desenvolvo e dar as notícias pessoais.

Com os meus agradecimentos pela receptividade cordial, a amiga
Therezita


De: Theresa Catharina de Goes Campos
Data: 12 de julho de 2011 16:12
Assunto: ref. comentário sobre o artigo de minha autoria O
SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR ?
Para: rosemeiremoraes


Estimada Rosemeire:
(...) Quanto à leitura de acolhimento que faz a meus textos, você incentiva qualquer escriba, como eu, a produzir um artigo consciente. Aliás, os que não receberam, no decorrer de sua vida, o presente de palavras de estímulo, com certeza sofreram muito no íntimo...e devem ter produzido bem menos do que poderiam realizar ...
(...)
Theresa Catharina

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De: rosemeiremoraes
Data: 4 de julho de 2011 15:52
Assunto: Re: comentário sobre o artigo O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Querida amiga Theresa:
(...) É um privilégio ler artigos sérios, bem escritos e reflexivos como os seus. Por isto, eles nos convidam também à reflexão. (...)
Um forte abraço,
Rosemeire

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Citando Theresa Catharina de Goes Campos:

Sensibilizada, aqui registro os meus agradecimentos a você, querida Rosemeire, por ter sido receptiva, e me enviar suas palavras de comentário sobre o artigo de minha autoria O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?, texto que demanda um acolhimento intelectual para a leitura na íntegra, pois facilmente pode ser rejeitado, incompreendido desde o título desanimador, contraditório, ao apresentar uma discussão sobre temas como o silêncio conformista e a urgente necessidade da atuação cívica, firme e corajosa, que leva a uma exposição arriscada. Em aparente ambiguidade, o pensamento se expressa por idas e vindas, no questionamento e nas conclusões. Um caminho tortuoso, tão perturbador quanto a nossa realidade contemporânea.
Abraços da amiga
Theresa Catharina


De: Mirtô Fraga
Data: 3 de julho de 2011 23:04
Assunto: Fwd: Silenciar... na esperança de conscientizar
Para: theresa.files


Prezada Theresa Catharina,
Li seu profundo texto sobre nossos dilemas sobre silenciar ou falar.
Gostei demais.
Meus cumprimentos.
Abrs.
Mirtô

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De: Mirtô Fraga
Data: 3 de julho de 2011 18:49:08
Assunto: Silenciar... na esperança de conscientizar


Silenciar... na esperança de conscientizar?

Li a excelente crônica de Theresa Catharina e me vi nela retratada. A
indiferença e a apatia do cidadão são as responsáveis pelas
constantes, numerosas e diuturnas violações de nossos direitos.
Tento, como ela, distanciar-me e deixar que cada um cuide de si,
evitando ser a porta-voz de injustiçados que, na maioria das vezes,
por comodidade se calam. Mas . . . às vezes não dá e aí (...), na
defesa de outrem, fico irritada, nervosa, minha pressão deve subir e
meus batimentos cardíacos se aceleram. Quem sofre, sou eu !!!!!! Mas
. . . calar, também faz sofrer!!! Como agir?
Repasso, para reflexão, belo texto de Theresa Catharina, jornalista
cujo lema é solidariedade e ética. Deixo os comentários que recebi
com a mensagem.
Os destaques em rosa foram feitos por mim.
Beijos. Mirtô

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De: Theresa Catharina de Goes Campos
Data: 12 de julho de 2011 17:12
Assunto: Gratíssima por seu e-mail , ref. ao texto O SILÊNCIO...NA
ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
Para: MIRTÔ FRAGA


Ilustríssima advogada
Dra. Mirtô Fraga:

Gratíssima por ter me enviado o seu bondoso e-mail, comentando - e até sublinhando alguns trechos do artigo - "O SILÊNCIO ...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?", que decidi publicar com esse novo título, modificado devido à minha preocupação de evitar interpretações que seriam essencialmente incorretas, não condizentes com os meus objetivos de conscientizar os cidadãos a se manifestarem, a não se omitirem, enfim, a reagirem como cidadãos(...).

Com os respeitosos cumprimentos de
Theresa Catharina


De: IVANI ROSA DE CASTRO
Data: 15 de julho de 2011 22:03
Assunto: RE: O SILÊNCIO... NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
Para: theresa Catharina Campos


É, D. Theresa...
Infelizmente, as pessoas, na maioria das vezes, não gostam de ouvir a verdade; o povo insiste em viver em um mundo da hipocrisia, só quer ouvir e ver o que faz bem, não está muito interessado em justiça social, está quase todo mundo querendo saber só do que é bom para si, e daí as coisas chegaram onde podemos ver... os fracos sufocados pelo peso dos poderosos.
Ivani
 

 

Jornalismo com ética e solidariedade.