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O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
A atitude de absoluta negligência em não
reclamar dos serviços a nós devidos (como
direito ou porque solicitados e pagos por nós
...) constitui, de nossa parte, omissão covarde.
Contudo, esse nosso silêncio se repete inúmeras
vezes. Disfarçado, inclusive, de postura
supostamente refinada, como se os desrespeitados
que se calam fizessem parte de uma elite... que
seria rica em bens materiais e de alguma forma
poderosa em si mesma, ou colocada no poder ou
com grande autoridade adquirida (sob a
justificativa de seus falsos méritos?!). Assim,
por demais comum se torna o mau hábito de
cultivar, em segredo, a rejeição dos sentimentos
de humilhação e vergonha, experimentados pela
vítima, e não, o erro de quem deveria ser
exposto e denunciado, as ações vergonhosas dos
que nos lesam, repetida e despudoradamente!
Vê-se, portanto, na sociedade em que
sobrevivemos, sem uma autêntica afirmação dos
nossos direitos e deveres, uma inversão total de
princípios, nessa situação de ausência de
valores humanos e fundamentos cívicos e
filosóficos para o exercício permanente de uma
afirmação que se traduz em exigirmos um respeito
mínimo à nossa dignidade, que jamais poderia
sofrer os constantes desrespeitos aos quais nos
habituamos, sem manifestar ou registrar, de
alguma forma, as nossas queixas...
As mulheres, aliás, encontram uma dificuldade
específica: os homens, quando erguem a voz ou,
simplesmente quando reivindicam, logo recebem a
classificação de indivíduos determinados, com
personalidade; elas, ficam de imediato
desqualificadas porque histéricas, no mínimo,
nervosas...
Para tentar educar os prejudicados, decidi que,
em determinadas situações, não devo aceitar
fazer reclamações pelos outros, sob quaisquer
justificativas ou argumentos, apesar da empatia
que não deixo de assumir, no meu íntimo, a favor
dos que sofrem prejuízos morais e materiais..
Tomo a atitude _ confesso que por demais difícil
(às vezes, até dolorosa) para mim _, de ignorar,
como se indiferente ou alienada também fosse...
desde que eu própria não seja a pessoa
prejudicada em meus direitos. Então, rejeito ser
porta-voz! Não aceito agir como canal de
comunicação. Penso que, assim me posicionando,
talvez venha a surgir, dessa aparente
acomodação, uma tomada de consciência no
indivíduo conformado a ver seus direitos
espezinhados, que há muito se deixou moldar e
adequar, para aceitar o inaceitável, aguardando,
com esperteza e malícia, que outros lutem em seu
lugar.
Todavia, há um questionamento essencial, que
teima em vir à tona: como distinguir,
verdadeiramente, o individual do coletivo, o
"outro", do "nós", o "próximo" de "todos"? Onde
estariam os limites? Como reconhecer o cerne, o
âmago de uma questão que ultrapassaria o
individual para transbordar e se transformar em
responsabilidade coletiva? Uma reflexão crítica
se impõe, porque não há respostas fáceis para
todos os casos.
Decepcionada, sob o peso do desânimo de
contemplar tanta apatia; ferida pelo efeito
nocivo, devastador, causado pela contemplação de
tanta inércia; sob o efeito nocivo, devastador,
causado pela contemplação de tanta inércia;
cercada de tanta indiferença, ao bem comum e ao
ser humano cuja dignidade de pessoa merece
respeito, apesar desse marasmo absurdo, a
percepção do "outro" como presença em mim
insiste em procurar novos caminhos de atuação...
E a discussão interior continua, num debate
íntimo perturbador...porque atuar implica
enfrentar perigos, sempre tem
consequências...demanda sacrifícios.
Na esperança de conscientizar, melhor
silenciar...para que falem aqueles diretamente
lesados, abandonando seu comodismo habitual. Do
mesmo modo que não alugo meus sentimentos, não
vou ceder minha voz aos que silenciam e se
omitem , não agem e se recusam consistentemente
a pensar, num padrão de mera existência, cujos
parâmetros são o conformismo e a alienação. Sim,
porque todo aquele que não ousa se mostrar
consciente, já demonstra claramente ser
alienado. Sem a aceitação individual em prol do
agir e demonstrar nosso pensamento, sem
manifestar nossa justa reação a uma injustiça,
não temos como promover a conscientização dos
que se acomodam na mal disfarçada cegueira...
Quem esconde suas idéias e posições não tem o
direito de instigar outros a se exporem, a se
colocarem sozinhos na linha de fogo porque
reivindicam direitos! Quem sabe...quando os
silenciosos, que tanto se escondem como
cidadãos, forem jogados no abismo, as vendas de
seus olhos com certeza também cairão...e até por
uma questão de sobrevivência, precisarão romper
as algemas de seu materialismo preguiçoso, que
não os deixa , de fato, enxergar com nitidez os
seus direitos e deveres!
No entanto, como afirmar, sob qual fundamentação
justificar e defender nosso silêncio ? !
Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 1º de julho de 2011.
Assunto: Re: O
SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR ? -
Theresa Catharina de Góes Campos
Em 2 de julho de 2011 12:51, guilherme
Bom dia, Tia Therezita!!
Excelente texto !!! Repassei para vários
contatos .....
Como vão as coisas em São Paulo ?
Com certeza, muitas atividades culturais e
profissionais ocupam todo o seu tempo.
E a ginástica ?
Com todo esse frio por aí, deve dar uma preguiça
enorme para realizar uma rotina de exercícios
físicos.....
Amamos você.
Fique com Deus.
Beijos dos sobrinhos Adriana e Guilherme.
PS: Daqui a pouco, estamos indo para o aeroporto
recepcionar meus pais, que estão chegando às
14:30.
De:
rosemeiremoraes
Data: 3 de julho de 2011 15:10
Assunto: Re: O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE
CONSCIENTIZAR?
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Querida Theresa:
Obrigada pelo envio deste tão reflexivo texto.
Um tema polêmico da omissão e da não
participação dos brasileiros.
O seu olhar sociológico captou bem a atitude de
muitos em se omitirem como um comportamento
pertencente a uma elite abastada. Como se os
ricos não corressem desesperadamente atrás de
seus direitos!
Até vejo aquela senhora numa fila com um olhar
superior ao ver alguém reclamando de algo: " eu
pago e não reclamo.."
Você avança ao nos dizer que participar implica
riscos: "...porque atuar
implica enfrentar perigos, sempre tem
consequências...demanda sacrifícios."
Parece-nos que há uma consciência coletiva de
que o melhor é "não sair de onde está", "deixa
estar"; no entanto sabemos que esta atitude nos
mantém no subdesenvolvimento.
Um forte abraço,
da sua amiga,
Rosemeire
------
De: Theresa
Catharina de Goes Campos
Data: 3 de julho de 2011 18:34
Assunto: O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE
CONSCIENTIZAR?
Para: rosemeiremoraes
Sensibilizada, aqui registro os meus
agradecimentos a você, querida Rosemeire,
por ter sido receptiva, e me enviar suas
palavras de comentário sobre o artigo de minha
autoria O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE
CONSCIENTIZAR?, texto que demanda um acolhimento
intelectual para a leitura na íntegra, pois
facilmente pode ser rejeitado, incompreendido
desde o título desanimador, contraditório, ao
apresentar uma discussão sobre temas como o
silêncio conformista e a urgente necessidade da
atuação cívica, firme e corajosa, que leva a uma
exposição arriscada. Em aparente ambiguidade, o
pensamento se expressa por idas e vindas, no
questionamento e nas conclusões. Um caminho
tortuoso, tão perturbador quanto a nossa
realidade contemporânea.
Abraços e muito obrigadada.
Da amiga
Theresa Catharina
De: Maria
Auxiliadora
Data: 1 de julho de 2011 21:42
Assunto: Re: O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE
CONSCIENTIZAR?
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Querida Theresita
Seu texto de hoje me estimulou a continuar um
desafio que assumi e está me consumindo horas de
trabalho e pesquisa: construir uma teoria da
aprendizagem histórica referenciada em dois
grandes filósofos que admiro e fundamentam
minhas concepções acadêmicas: Paulo Freire, no
Brasil e Jörn Rüsen, na Alemanha. Ambos nos
levam ao caminho da reflexão consciente,
humanista, ética e da ação na vida prática.
Gostaria, uma hora dessas, orientar-me
pessoalmente com suas palavras. Viajo na semana
próxima para a Alemanha, levando agora suas
palavras e as considerações que levantei de
minhas pesquisas com jovens estudantes de escola
pública de Curitiba (incrivelmente, eles clamam
por ética e humanizaçao das relações entre os
homens).
Obrigada, querida amiga.
Dolinha
De: Theresa
Catharina de Goes Campos
Data: 3 de julho de 2011 17:03
Assunto: O SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE
CONSCIENTIZAR?
Para: Maria Auxiliadora
Cara Dolinha:
Sinto-me bem, ao saber que o meu texto O
SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR ? foi
de utilidade intelectual e moral para você,
inclusive na sua área acadêmico-profissional.
Na verdade, escolho cuidadosamente os conteúdos
que envio para meus destinatários específicos.
Todavia, não tenho garantia de acerto. Por isso
eu peço que me desculpem, se tiver errado, ao
fazer a seleção...e remeter ! Entre outras, são
razões que me orientam para decidir: informar,
partilhar, refletir e conscientizar; para os
familiares e amigos, de modo especial, ainda me
empenho para registrar as atividades que
desenvolvo e dar as notícias pessoais.
Com os meus agradecimentos pela receptividade
cordial, a amiga
Therezita
De: Theresa
Catharina de Goes Campos
Data: 12 de julho de 2011 16:12
Assunto: ref. comentário sobre o artigo de minha
autoria O
SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR ?
Para: rosemeiremoraes
Estimada Rosemeire:
(...) Quanto à leitura de acolhimento que faz a
meus textos, você incentiva qualquer escriba,
como eu, a produzir um artigo consciente. Aliás,
os que não receberam, no decorrer de sua vida, o
presente de palavras de estímulo, com certeza
sofreram muito no íntimo...e devem ter produzido
bem menos do que poderiam realizar ...
(...)
Theresa Catharina
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De:
rosemeiremoraes
Data: 4 de julho de 2011 15:52
Assunto: Re: comentário sobre o artigo O
SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Querida amiga Theresa:
(...) É um privilégio ler artigos sérios, bem
escritos e reflexivos como os seus. Por isto,
eles nos convidam também à reflexão. (...)
Um forte abraço,
Rosemeire
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Citando Theresa Catharina de Goes Campos:
Sensibilizada, aqui registro os meus
agradecimentos a você, querida Rosemeire, por
ter sido receptiva, e me enviar suas palavras de
comentário sobre o artigo de minha autoria O
SILÊNCIO...NA ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?, texto
que demanda um acolhimento intelectual para a
leitura na íntegra, pois facilmente pode ser
rejeitado, incompreendido desde o título
desanimador, contraditório, ao apresentar uma
discussão sobre temas como o silêncio
conformista e a urgente necessidade da atuação
cívica, firme e corajosa, que leva a uma
exposição arriscada. Em aparente ambiguidade, o
pensamento se expressa por idas e vindas, no
questionamento e nas conclusões. Um caminho
tortuoso, tão perturbador quanto a nossa
realidade contemporânea.
Abraços da amiga
Theresa Catharina
De: Mirtô Fraga
Data: 3 de julho de 2011 23:04
Assunto: Fwd: Silenciar... na esperança de
conscientizar
Para: theresa.files
Prezada Theresa Catharina,
Li seu profundo texto sobre nossos dilemas sobre
silenciar ou falar.
Gostei demais.
Meus cumprimentos.
Abrs.
Mirtô
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De: Mirtô
Fraga
Data: 3 de julho de 2011 18:49:08
Assunto: Silenciar... na esperança de
conscientizar
Silenciar... na esperança de conscientizar?
Li a excelente crônica de Theresa Catharina e me
vi nela retratada. A
indiferença e a apatia do cidadão são as
responsáveis pelas
constantes, numerosas e diuturnas violações de
nossos direitos.
Tento, como ela, distanciar-me e deixar que cada
um cuide de si,
evitando ser a porta-voz de injustiçados que, na
maioria das vezes,
por comodidade se calam. Mas . . . às vezes não
dá e aí (...), na
defesa de outrem, fico irritada, nervosa, minha
pressão deve subir e
meus batimentos cardíacos se aceleram. Quem
sofre, sou eu !!!!!! Mas
. . . calar, também faz sofrer!!! Como agir?
Repasso, para reflexão, belo texto de Theresa
Catharina, jornalista
cujo lema é solidariedade e ética. Deixo os
comentários que recebi
com a mensagem.
Os destaques em rosa foram feitos por mim.
Beijos. Mirtô
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De: Theresa
Catharina de Goes Campos
Data: 12 de julho de 2011 17:12
Assunto: Gratíssima por seu e-mail , ref. ao
texto O SILÊNCIO...NA
ESPERANÇA DE CONSCIENTIZAR?
Para: MIRTÔ FRAGA
Ilustríssima advogada
Dra. Mirtô Fraga:
Gratíssima por ter me enviado o seu bondoso
e-mail, comentando - e até sublinhando alguns
trechos do artigo - "O SILÊNCIO ...NA ESPERANÇA
DE CONSCIENTIZAR?", que decidi publicar com esse
novo título, modificado devido à minha
preocupação de evitar interpretações que seriam
essencialmente incorretas, não condizentes com
os meus objetivos de conscientizar os cidadãos a
se manifestarem, a não se omitirem, enfim, a
reagirem como cidadãos(...).
Com os respeitosos cumprimentos de
Theresa Catharina
De: IVANI ROSA
DE CASTRO
Data: 15 de julho de 2011 22:03
Assunto: RE: O SILÊNCIO... NA ESPERANÇA DE
CONSCIENTIZAR?
Para: theresa Catharina Campos
É, D. Theresa...
Infelizmente, as pessoas, na maioria das vezes,
não gostam de ouvir a verdade; o povo insiste em
viver em um mundo da hipocrisia, só quer ouvir e
ver o que faz bem, não está muito interessado em
justiça social, está quase todo mundo querendo
saber só do que é bom para si, e daí as coisas
chegaram onde podemos ver... os fracos sufocados
pelo peso dos poderosos.
Ivani
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