Theresa Catharina de Góes Campos

  De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 4 de julho de 2011 07:13
Assunto: QUANDO JULHO CHEGA - Artigo quinzenal
 
QUANDO JULHO CHEGA...
 
Tereza Halliday – Artesã de Textos
 
As datas nacionais dos Estados Unidos e da França – 4 e 14 de julho -  estão ligadas a trabalho intenso no meu histórico profissional.
 
Queria me casar no início do mês, mas meu chefe disse que não podia dar férias a funcionário algum antes do 14 juillet. Eu era, então, secretária de imprensa do Consulado Geral da França e, como o restante da minúscula equipe, fazia muito de tudo nos preparativos para a grande recepção oferecida tradicionalmente pelo cônsul à sociedade pernambucana. Tive de marcar o casamento para depois da comemoração da queda da Bastilha - 1789 tolhendo minha Liberté de escolha. De consolo pela não concessão das férias na data desejada, o cônsul me deu de presente, para a lua de mel,  uma garrafa de champagne Veuve Clicot legitimo – uau!
 
Anos mais tarde, foi a vez de trabalhar como assessora cultural do Consulado dos Estados Unidos - labuta dobrada quando se aproximava o Independence Day.  Como  no 14 de julho, os convites para o 4 de julho eram disputados por alguns “emergentes” com tentativas de tráfico de influência. Eu ajudava no preparo das listas de convidados e “soprava” os nomes das autoridades para o anfitrião à porta da casa. Para nós, funcionários consulares, a festa significava azáfama e plantão. Não podíamos curti-la de olho nos pequenos detalhes, no bom funcionamento de tudo. Ressalte-se que não se contratava cerimonialistas nem bureau de eventos, então inexistentes. Era tudo nas nossas costas.
 
 Quando estudante nos Estados Unidos,  testemunhei  o 4 de julho como festa do povo, sem parada militar. Na pacata Madison, Wisconsin, desfile de bicicletas decoradas e crianças fantasiadas agitando bandeirinhas. Em Washington, D.C., era o dia em que se andava de graça no metrô e se podia escolher entre dois concertos ao ar livre: rock pauleira ao redor do Obelisco, numa das extremidades da praça principal; ou a Orquestra Sinfônica de Washington, na outra extremidade, próxima ao Capitólio. Foi num desses concertos, sentada na grama cheirando a corte recente, que vi o violoncelista  Mstislav Rostropovich regendo a orquestra e ouvi a voz de soprano aveludado: Leontyne Price, que também me encantava nos recitais do Natal transmitidos pela PBS, televisão pública.
 
Trabalhar com franceses e americanos foi um desafio enriquecedor. Mourejava-se em todos os expedientes e não apenas em julho. Consolidei fala e escrita do francês e do inglês,  ampliei horizontes, conheci palestrantes e artistas de alto gabarito e aprendi estilos de trabalho que me ajudariam pela vida afora.  Atualmente, quando julho chega, suspiro aliviada, livre de comparecer a recepções por dever de ofício. Como diria Danuza Leão, isto sim, um verdadeiro luxo!
(Diário de Pernambuco, 04/07/2011, p.A-11)
 
 
Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.