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Theresa Catharina de Góes Campos
CÓPIA FIEL
(Copie Conforme), drama em
co-produção - França / Itália /
Irã, 2010, 1h46min., cor, livre.
Direção: Abbas Kiarostami
Elenco: Juliette Binoche,
William Shimell, Jean-Claude
Carrière, Agathe Nathanson.
Produção: Angel Barbagallo,
Charles Gillibert, Marin
Karmitz, Nathanaël Karmitz,
Abbas Kiarostami
Direção de Fotografia: Luca
Bigazzi
Direção de Arte: Ludovica
Ferrario
Edição: Bahman Kiarostami
Indicado à Palma de Ouro e
vencedor na categoria Melhor
Interpretação Feminina (prêmio
concedido a Juliette Binoche),
no Festival de Cannes 2010.
O diretor iraniano já havia
ganhado a Palma de Ouro em 1997,
pelo filme “Gosto de Cereja”.
Na história, um escritor
britânico de meia-idade James
Miller vai à Itália para fazer
uma palestra e receber um prêmio
pelo seu mais recente livro,
"Copie Conforme". Nessa ocasião,
ele encontra uma mulher
francesa, dona de uma galeria de
arte, que nos parece se
comportar de forma estranha.
Juntos, eles viajam pela região
e, num pequeno vilarejo ao
sudoeste de Toscana, começam a
se descobrir (ou redescobrir?).
O original é melhor que a cópia?
Qual a diferença deste casal
para outros, juntos, há anos
convivendo?
Apreciei bastante este filme,
apesar de não ser divertido, nem
suave em seu desenrolar, mas até
desagradável, em algumas cenas,
ao contemplarmos tanta
infelicidade em pessoas que
poderiam, por se constituírem
uma família em potencial, chegar
a conviver em harmonia,
conseguindo se relacionar de
forma afetiva, desde que se
dispusessem a esse interagir.
"Concordo com você", me escreveu
Ana Falcão, quanto ao julgamento
de "Cópia Fiel", embora seja um
filme controvertido. Gostei
muito dos diálogos e também me
agradou a intervenção da dona do
café e do rumo que o roteiro
tomou a partir do encontro com
ela.
O diretor iraniano, também autor
do roteiro, é um cineasta
inteligente, original e profundo
na sua crítica da realidade,
fruto da observação dos
personagens que escolhe, tanto
os protagonistas como os
coadjuvantes, todos elementos
que compõem uma situação
concreta. Aliás, já no teatro
grego clássico, dos dramaturgos
se exigia que escrevessem peças
com uma qualidade essencial - a
"mimesis", assim refletindo,
obrigatoriamente o que se via
acontecer na sociedade.
Eis alguns títulos dos filmes
que mais se destacaram, entre as
produções de Kiarostami:
"E a Vida Continua" (1991);
"Onde é a Casa do Meu Amigo?"
(1987); "Gosto de Cereja"
(1997); "O Vento nos Levará"
(1999); "Através das Oliveiras"
(1994); Dez (2002).
"Cópia Fiel", uma realização que
em tudo se mostra uma obra
europeia: no formato, nas
circunstâncias, nos personagens
e diálogos, tudo tão diferente
da filmografia do diretor.
Temas, rosto e corpo, alma e
roupagem, os ambientes
retratados, decididamente não
são os habituais...aqueles aos
quais nos acostumamos a
contemplar, sem pressa,
identificando os objetivos, os
fatos e as metáforas contidas
nas repetições usuais.
Nesta obra tão diferenciada,
entre as criações de Kiarostami,
o cineasta exemplificou como os
casamentos onde a ausência de
uma convivência se torna um
"relacionamento" de estranhos (o
destacado como tema principal do
filme), desgastando, pela
amargura que se instala, em pelo
menos um cônjuge (no caso, a
esposa, que se apresenta
visivelmente infeliz, revoltada,
embora..., mesmo nervosa e
perturbada, em alguns momentos
ela tente resgatar a atenção do
marido, sempre distante no
pensamento - ausente como esposo
e pai). Ele não pensa em
aproximação, pois está
preocupado em cumprir seus
compromissos individuais, com
hora marcada para evitar
atrasos.
Interpretemos as atitudes do
filho adolescente aborrecente
(expressa enfado e frieza
cruéis, provavelmente repetindo,
imitando o comportamento
habitual do pai): trata a mãe
com indiferença visível, sem
caminhar a seu lado (sempre
atrás, distante como o pai), tão
desinteressado como se
comportara naquela ocasião da
conferência... Ao pai, o jovem
se refere com palavras que
manifestam uma crítica aos
sentimentos da mãe, como "o cara
que você ama", sem procurar
entender que a mãe jamais havia
desistido, na espera e busca de
um dia trazer o marido a lhes
mostrar afeto, de volta ao
convívio deles.
No sonho do encontro entre uma
mulher e o homem amado, eis uma
história comum, que poderia
acontecer com qualquer um de
nós. Em qualquer lugar. Ou a
recuperação aconteceria em um
local especial, onde o tempo
voltaria, pela recordação, a ter
a mensagem de amor recuperada no
seu pleno significado. Qual
seria o desfecho, no sonho e na
vida de cada um?
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília-DF, abril de 2011.
De: Vera Farias
Data: 7 de julho de 2011 22:52
Assunto: Re: CÓPIA FIEL -
Theresa Catharina de Góes Campos
Para: Theresa Catharina de Goes
Campos
Therezita, já estava com vontade
de assistir a este filme. Depois
do seu comentário, vou correndo
ver se acho na locadora. Adorei!
Bjs!
Verinha. |
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