Theresa Catharina de Góes Campos

  SONHEI COM SANTOS-DUMONT


Nessa noite fui presenteada
(talvez no amanhecer de hoje,
disso não me recordo bem...)
com um sonho precioso.
Logo eu, que não costumo sonhar,
ou de meus sonhos lembrar,
estando de olhos fechados,
para o mundo adormecida.


Numa imagem brilhante,
inacreditavelmente nítida,
em luz diáfana azul celeste,
Santos-Dumont estaria sendo
homenageado num evento
com a projeção de um filme
sobre a sua vida memorável.


Na cena projetada em meu sonho,
ele caminhava, luminoso e firme,
esbelto, altivo, elegante
como sempre é retratado,
usando o chapéu que fez moda
e terno de corte impecável.
Saía de um túnel também azul,
amplo e de traçado moderno.


Ele mesmo, Santos-Dumont,
herói de coração generoso:
recebeu o dinheiro de prêmios
e distribuiu entre seus mecânicos,
fez doação aos pobres de Paris.


Nesse meu presente de sonho,
tudo estava em azul registrado.
Uma imagem única, singular,
tudo em harmonia se integrava,
compondo uma visão dinâmica,
fazendo sobressair, inconfundível,
a figura de nosso Santos-Dumont.


(Que eu me lembre,
de olhos fechados
só tive antes pesadelos,
situações absurdas,
bastante assustadoras.)


Nesta manhã, porém,
recebi do sono o presente
de um sonho a preservar
na memória: seria um filme de
homenagem a Santos-Dumont,
com ele à frente, a se destacar
na cor azul da Aeronáutica,
o mesmo azul intenso dos céus
que tanto amou e o motivou
a pesquisar e a fazer voar.


O azul da paz, também, que
Santos-Dumont sonhava dar
como benefício aos vôos humanos.
Porque o seu sonho declarado,
ideal de ciência e de vida, era
o avião como instrumento de paz,
com potencial para unir os povos,
para tornar as viagens aéreas
uma oportunidade de intercâmbio
entre nações distantes, um meio
de conhecimento, uma fronteira
a mais para o homem conquistar.


É verdade: sonhei com Santos-Dumont.
Mas eu me via confusa, num labirinto,
talvez semelhante ao labirinto inesperado
que o inventor brasileiro vivenciou
nos últimos anos de sua existência
perturbada pelos conflitos do mundo.


Os aviões usados na guerra
foram o seu pesadelo real.
Essas imagens bélicas
o levaram à depressão, ao
desespero de sua alma pacífica.
E nos roubaram Santos-Dumont
bem antes do que nós esperávamos.


Porque os pacifistas nunca vivem demais!
De gente assim, estamos sempre
precisando e sonhando ter conosco.
Pessoas assim, tão essenciais,
deveriam permanecer neste mundo.
Como eterna é a sua memória,
o sonho real, verdadeiro, que
o nosso Santos-Dumont nos legou.


Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília-DF, 06 de março de 2009.

P.S.
Registro aqui, mais uma vez, porque é uma de minhas repetidas citações, o pensamento do escritor e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), que escreveu em seu livro "Piloto de Guerra": "A guerra não é uma aventura. É uma doença. Um tifo."
Aliás, na França, Alberto Santos-Dumont (20/7/1873 -23/7/1932) conquistou, em vida, uma enorme admiração e o respeito à sua memória como pioneiro da aviação mundial.

Theresa Catharina
 

Jornalismo com ética e solidariedade.