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PLACAS DE RUA
- Tereza Halliday
From: Tereza Halliday
Date: 2009/5/11
Subject: Artigo quinzenal
O enfoque é circunscrito ao Recife, mas a
situação retratada envolve
todas as nossas cidades.
Com um abraço, Tereza.
Publicado no Diário de Pernambuco, 11/05/2009,
p.A-9:
P L A C A S D E R U A
Tereza Halliday – Artesã de textos
Que a rua do Padre Inglês passe a chamar-se
rua dos Batistas, devido à presença marcante do
Seminário Teológico Batista ali situado. Assim
sugeriu Ramos André em artigo neste jornal
(1/4/2009, p.A-11). Com todo respeito por essa
instituição e seu legado, não concordo que se
mude nome de rua consagrado pelo uso popular.
Segundo André, o “padre inglês” era, na verdade,
o Rev. Charles Adye Austin, pastor anglicano do
século XIX, residente naquela área. Imaginemos o
raciocínio do povo: se o morador tinha colarinho
eclesiástico, terno preto e fala arrevesada, só
poderia ser um padre inglês. Esta deliciosa
história deveria constar de um marco fincado na
calçada do Seminário Batista, honrando o pastor
e o “folk-lore” - o saber popular. Um outro
marco, na Praça Chora Menino, poderia contar a
história de mal-assombro por trás daquela
designação.
Perdemos a rua das Florentinas para o general
Dantas Barreto, o Beco do Burro para o médico
Miguel Couto e a rua dos Judeus para o Bom
Jesus, aliás, boníssimo e merecedor de rua,
praça, ponte, avenida. Ganhou o Arco do Bom
Jesus, uma das portas da cidade em priscas eras,
hoje inexistente. O nome “migrou” para a rua dos
Judeus, seus ancestrais. O poeta Manuel Bandeira
temia a troca dos nomes antigos. Em Evocação do
Recife, cita as ruas da Saudade, da Aurora, da
União e, ao lembrar a rua do Sol, confessa:
“Tenho medo que hoje se chame do dr. Fulano de
Tal”. Foi o que aconteceu com a lendária rua
Santa Gata, rebatizada em honra de uma
“Excelência” qualquer. Os vereadores que
aprovaram a troca de nome sofreram,
merecidamente, sete anos de atraso.
Endosso a proposta do pesquisador Fernando de
Oliveira para colocar “o porquê do nome” em cada
placa de rua: das Pernambucanas, da Harmonia,
das Creoulas, da Concórdia, Retiro Saudoso,
Praça Marrom Glacê, Beco da Tramways, Estrada
dos Pintos, Largo da Paz.. e todas as outras.
Quando for nome indígena, caberia a tradução,
logo abaixo. Se for nome de gente, acrescentar
quem foi, data de nascimento e morte. Em Paris,
é assim. E sem patrocinador se exibindo junto da
informação. Para que a homenagem seja completa,
é preciso informar, p.ex., quem foram Frei
Caneca, Matias de Albuquerque, Henrique Dias, o
Capitão Zuzinha, Dona Benvinda, D. Maria
Carolina, Padre Cabral... Informação que
agregaria valor aos roteiros turísticos da
cidade. Nome de rua também é cultura.
Contudo, antes de demonstrar tino de
marketing turístico e respeito à História,
explicando os nomes dos logradouros públicos, é
preciso, urgentemente, que todas as ruas – todas
mesmo - tenham placas em cada esquina, índício
de civilização que o Recife ainda não atingiu. A
ausência delas desorienta todo mundo e causa
péssima impressão. O governante de sensibilidade
que suprir essa carência enriquecerá seu
currículo e, quem sabe, venha até a ganhar rua
com seu nome. |
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