Theresa Catharina de Góes Campos

  A ÁRVORE DA VIDA

A impressão que se tem ao assistir à A Árvore da Vida, de Terrence
Malick, é a de que o filme, que recebeu a Palma de Ouro do Festival de
Cannes deste ano, inaugura uma linguagem de gosto duvidoso, abeberada
nos diaporamas, que circulam pela internet com imagens da natureza
para divulgar versículos da Bíblia ou pregações religiosas. No caso, a
citação é a de um excerto do Livro de Jó, quando Deus, no seio da
tempestade, faz a Jó a seguinte indagação: - Onde estavas, quando
lancei os fundamentos da terra... entre as aclamações dos astros da
manhã e o aplauso de todos os filhos de Deus?

Então se ouve, ao som de órgão, um trecho do Opus 161, do compositor
dinamarquês Thomas Wilfried, que constitui, assim como peças de
Brahms, de Bach, de Schumann e de Berlioz (Réquiem), a trilha sonora
de Alexandre Desplat para pontuar o surgimento de uma torrente de
imagens, captadas sob efeitos especiais, sobre a criação do universo e
a força dominadora da natureza, tudo num tom bombástico. Depois de
algum tempo gasto com essa alegoria, tem-se a imagem da residência
suburbana dos O´Brien, localizada, numa pequena rua paradisíaca, em
meio a muitas e frondosas árvores. A sra. O´Brien (Jessica Chastain)
recebe por telegrama a notícia da morte de um filho de 19 anos. O
mesmo comunicado é feito ao sr. O´Brien por telefone.

Em seu luxuoso escritório de arquiteto, numa grande cidade, Jack
O´Brien (Sean Penn), também ao telefone, fala com o pai que não
consegue esquecer o irmão. Enquanto Jack vê uma árvore ser plantada em
frente ao edifício, em retrospecto, ele reconstitui cenas da sua
infância em Waco, no Texas, onde nasceu, assim como o realizador
Malick. Sob esse aspecto, a temática lembra a de duas películas
recentes: Anticristo, de Lars Von Trier e A Árvore, de Julie
Bertuccelli. Ambos os filmes, porém, têm linguagem diversa e de mais
apuro estético, a meu ver, do que a de Malick, que insiste em dar à
sua narrativa um tom espetaculoso a se igualar, não se sabe bem por
que motivo, às de ficção científica.

Assim, enquanto ressurgem imagens sobre a formação das galáxias,
ouve-se a voz de Jack a clamar aos céus pela ausência do irmão e por
outras questões de ordem existencial. Depois de muita digressão em
relação aos fenômenos da natureza, como as erupções vulcânicas que se
multiplicam, restabelece-se a crônica familiar, no âmbito dos O´Brien,
com o nascimento de Jack e de seus outros irmãos. Malick fixa bem o
perfil do sr. O´Brien, um homem frustrado em suas aspirações de se
tornar um grande musicista, que trata a família com extremo
autoritarismo, na brutalidade mesmo, apesar de frequentar a igreja aos
domingos, pagar os dízimos, bater a mão no peito e ouvir atentamente
os sermões do sacerdote, que igualmente comenta a vida de Jó.

A dramaturgia ganha certo alento a partir do instante em que Jack
atinge a adolescência (Hunter McCracken) e que, ao contrário da
passividade da mãe, enfrenta o exaspero do pai: - A casa é sua – ele
diz. Você pode me expulsar. Por que não o faz?...Eu sou tão ruim
quanto você. Não sou como a minha mãe!... São os três atores – Brad
Pitt, Jessica Chastain e Hunter McCracken – que, pela qualidade de
suas interpretações, evitam que o filme não perca o interesse, pois,
como já ficara evidente em O Novo Mundo, Malick, apesar de suas manias
de gênio, é apenas um cineasta mediano, irregular. Pitt, no papel de
sr. O´Brien – originalmente entregue a Heath Ledger – tem uma atuação
exemplar, tentando reconstituir a pose que seria a da personagem na
vida real, pois que autobiográfica, ao dar tensão a determinados
músculos da face e ao caminhar. Sim, principalmente ao caminhar.
Jessica Chastain, tem a sublimidade que, como a sra. O´Brien, lhe
confere Jack sob a ótica de quem é narrada a história. E Hunter Mc
Cracken, como Jack adolescente, é novo demais para ser tão bom!...
Sean Penn, como Jack adulto, pouco aparece e pouco também convence.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
A ÁRVORE DA VIDA
THE TREE OF LIFE

EUA/2011
Duração –138 minutos
Direção – Terrence Malik
Roteiro – Terrence Malik
Produção – Dede Gardner, Brad Pitt, Sarah Green, Grant Hill e William Pohlad
Fotografia – Emmanuel Lubezki
Trilha Sonora – Alexandre Desplat
Edição – Hank Corwin, Jay Rabinowitz, Daniel Rezende, Billy Weber e
Mark Yoshikawa
Elenco – Brad Pitt (sr. O´Brien), Jessica Chastain (sra. O´Brien),
Sean Penn (Jack O´Brien), Hunter McCracken (Jack adolescente), Joanna
Going (Esposa de Jack), Jackson Hurst (Tio Ray), Fiona Shaw (Avó),
Marlane Barnes (Angel) e Will Wallace (Will).
 

NOTAS DA EDITORA:

No excelente comentário, abrangente e informativo, de Reynaldo
Domingos Ferreira , sobre o filme " A Árvore da Vida ", reconheço
como válidos os problemas enumerados por ele com precisão.
Entretanto, devo registrar aqui o quanto me agradou, em " A Árvore da
Vida ", o roteiro mencionar de forma explícita a questão da
espiritualidade; a ênfase na graça e no perdão; a reflexão sobre o
amor e a felicidade não resultarem de ódio, egoísmo ou materialismo.
Sem esquecer a luz da esperança por uma aproximação verdadeira entre
os seres humanos. Essas realidades são omitidas, ou negadas, sob o
eventual argumento de que seriam supostamente inexistentes, na maioria
das obras cinematográficas, sob a desculpa de "fugir dos
sentimentalismos".

Outro ponto a se destacar: A Árvore da Vida mostra as consequências do
abuso de autoridade no âmbito da família; os efeitos de uma rotina de
atitudes e palavras ambíguas; o desrespeito à individualidade; o
machismo que desautoriza e diminui a figura materna; as feridas
profundas, causadas pela contínua agressão verbal; a violência que
gera indisciplina e leva à repetição da violência, ao preconceito.
Todos esses males contribuindo para manter a explosão de conflitos e
discórdias nos ambientes, e repercutindo de modo a impedir a formação
de uma cultura solidária, um clima de paz na sociedade.
Quem se propõe a colocar esses temas para reflexão, merece de mim,
respeito por sua escolha de estilo e linguagem, e o meu tempo numa
sala cinema.

Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília-DF, 19 de agosto de 2011.

 

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