Theresa Catharina de Góes Campos

  PROPAGANDA – GENIALIDADE E MESMICE

Tereza Halliday – Artesã de Textos

Como destinatária de anúncios publicitários, sou parada dura, carne de pescoço, Não me impressionam apelos para comprar isto ou aquilo. Acho ridícula a entonação para chamar a atenção do radio-ouvinte ou telespectador – impostação de voz de palhaço de circo, com os surradíssimos “Vá logo!” , “Não perca!” e os sorrisos de sedução. Nos outdoors, garoto-propaganda sarado, com sorriso mormaço? Meu “recall” é só dele, esqueço o que ele queria vender.

Certa vez, flagrei meu filho de nove anos dizendo ao coleguinha enquanto assistiam a um programa infantil na TV, entremeado de publicidade: “Quando ela sorri demais assim [a garota propaganda] é porque ela quer vender alguma coisa” . Cedo, aprendera a distinguir sorrisos autênticos de sorrisos interesseiros.

Sou, basicamente, buscadora de informação, se e quando estiver interessada nalgum produto. Não quero que me “empurrem” nada. Anúncios de TV, para mim, são assédio e telemarketing é invasão de domicílio. Tolero apenas anúncios em jornais ou revistas porque me permitem lê-los ou ignorá-los. A TV é um meio de propaganda travestido de veículo de informação e entretenimento, oferecidos apenas como chamariz para os anúncios - belos, engraçados, criativos ou não. Na Internet, ignoro bonequinhos saltando na tela para desviar a atenção do meu foco: pesquisa ou recepção/transmissão de e-mails. Os efeitos visuais, o mexe-mexe da tela para reforçar apelos publicitários são ladrões do meu preciosíssimo tempo.

Propaganda, por qualquer meio, oscila entre a genialidade e a mesmice, deitando e rolando nesta última devido à mesmice da nossa fraqueza humana em sucumbir a quatro desejos básicos: conservar algo bom que já temos (aí, o anunciante nos oferece o benefício da proteção); obter algo bom que ainda não temos (o anúncio acena com as vantagens da aquisição); livrar-nos de algo ruim (o anunciante oferece o benefício do alívio); evitar um mal que tememos (a propaganda nos acena com as vantagens da prevenção). Aprendi isto com Hugh Rank, autor do livro The Pitch – How to analyze ads (The Counter Propaganda Press).

A persuasão pela propaganda busca, basicamente, chamar a sua atenção,
ganhar sua confiança, estimular um dos quatro desejos acima, dar um sentido de urgência e buscar uma reação: COMPRE! É bom saber disto. Os anunciantes têm o direito de expressar seu lado da história e “ vender seu peixe” . E nós temos o direito de recusar . Também temos o dever de não sucumbir aos apelos dos amados filhos e netos facilmente seduzidos pelo sorriso que meu filho detectou. É ato educativo e amoroso não comprar tudo o que eles pedem.

(Diário de Pernambuco, 26/09/2011, P.A-11)
 

Jornalismo com ética e solidariedade.