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DE QUANTO TEMPO UM TRADUTOR PRECISA PARA REDIGIR
UMA LAUDA?
Esta é uma pergunta muito rotineira,
lamentavelmente enfrentada por todos os
tradutores; digo lamentavelmente porque é
preciso ser tradutor para respondê-la... Mas,
sendo um tradutor, jamais faria tal pergunta...
Se numa hipótese, ousasse fazê-la, já saberia de
antemão que estaria a indagar algo objetivo
quando, na verdade, as possíveis respostas
envolveriam subjetividade, contextos
intelectuais e materiais diversificados,
condições físicas para a realização dos
trabalhos e, sobretudo, diferentes graus de
experiência com o idioma, a cultura, e até
experiência de vida, sem falarmos em atitudes
relativas aos diversos níveis de qualidade de
uma tradução.
Aqui não estamos nos referindo, com certeza, a
documentos padronizados, como certidões de
nascimento, batismo, casamento, e outros textos
para os quais já existem formulários e ocorre
apenas o preenchimento/a troca de nomes, datas,
endereços. Acreditamos, inclusive, que haveria
dificuldade em responder à questão de quanto
tempo se leva a realizar um trabalho em
praticamente todas as áreas acadêmicas e
profissionais. O professor, por exemplo, pode
levar mais horas-aula a ensinar determinada
matéria para uma turma de estudantes e menos
tempo para outro grupo; o cirurgião médico ou
dentista, ao mencionar sobre a duração de um
procedimento, entende, e quer que nós entendamos
também, que tudo vai depender do paciente, de
todos os membros da equipe, de seus
equipamentos, da eficiência dos medicamentos e
dos recursos utilizados, sem falarmos de todos
os cuidados pré-operatórios. Do mesmo modo, o
engenheiro encontrará dificuldades ou
facilidades variáveis em cada estrada, montanha
e queda d’água, em seus projetos de pontes,
estradas e represas. E quanto aos oradores e
palestrantes, bem sabemos que há discursos logo
esquecidos porque nada dizem e frases bem
construídas, bem planejadas, que há séculos são
admiradas e sempre repedidas porque mantêm a sua
eficiência, sabedoria e seu poder de
comunicação.
Neste nosso século XX, por exemplo, dominado por
tecnologias que permitem a onipresença da
propaganda, qualquer publicitário sabe que um
slogan talvez demore a ser elaborado, testado,
aprovado pela equipe antes de ser submetido ao
gosto do público. Uma expressão, uma frase de
efeito não pode, na agência de publicidade, ser
remunerada ou avaliada pelo tempo que se leva a
datilografá-la ou digitá-la! Nenhum profissional
diria isso... ou não seria um profissional.
Recentemente, por exemplo, a Coca-Cola investiu
bastante em material publicitário onde, além de
seu produto, uma única palavra aparecia: SEMPRE.
Quanto tempo se leva para escrever, nesta época
das comunicações instantâneas, uma “palavrinha”
tão simples?! Não somente os filósofos e
lingüistas responderiam sorrindo, numa atitude
complacente, que uma palavra tem história,
etimologia, significados e contextos, além de
graus de eficiência mutáveis de acordo com os
interlocutores e objetivos a serem alcançados;
enfim, que os vocábulos têm passado e famílias,
antepassados e descendentes; que expressões
ganham ou perdem atualidade, algumas levam a
frustrações, outras são enganadoras... e
algumas, parecem indicar um futuro vitorioso, ao
se considerar o seu potencial...
Após tais considerações, tentaremos explicar o
tempo necessário para se chegar a uma lauda de
tradução. Mas precisamos começar informando que
o tradutor juramentado recebe o apoio da lei
para considerar cada página de documentos, como
certidões de nascimento, casamento, etc. como
duas (2) laudas para efeito de pagamento, sendo
que o valor da lauda também é publicado no
Diário Oficial da União. Por aí se percebe que
até a legislação pertinente já considerou
variável a definição material do que seria uma
lauda...
E se o governo assim fala, o que diremos nós,
pobres mortais? NOSSA RESPOSTA PROFISSIONAL, E A
ÚNICA ETICAMENTE POSSÍVEL, SÓ PODE SER UMA: o
tempo que o tradutor leva para redigir uma lauda
pode variar bastante, de meia hora a um mês. Por
quê? A variação depende de inúmeros fatores:
a) se o texto é rotineiro ou raro;
b) se o vocabulário é técnico-científico ou não;
c) se as fontes de consulta imediata estão
disponíveis;
d) se há necessidade de pesquisa complementar,
inclusive para
verificar se há antecedentes de textos
similares;
e) se há necessidade de consulta a outros
profissionais para a
determinação de terminologia própria,
específica;
f) se há condições adequadas (físicas,
materiais, intelectuais,
emocionais) para o tradutor realizar o trabalho
solicitado;
g) se o tradutor tem conhecimento e experiência
específicos na(s)
área(s) do texto;
h) se, desde a primeira lauda, e principalmente
antes da tradução
dessa primeira lauda, torna-se necessária a
leitura prévia, de todas
as outras laudas do mesmo texto ou documento, ou
similares, para que o
tradutor compreenda melhor do que ali se trata,
e talvez assim
identifique a demanda para uma pesquisa prévia
de termos e expressões
adequados.
Ao receber qualquer texto para tradução, o
profissional precisará proceder à leitura rápida
do mesmo, antes de fazer qualquer previsão do
prazo para a realização do trabalho. Antes
disso, seria adivinhação, previsão sem
objetividade, e, portanto, sem profissionalismo.
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília-DF, maio de 1994. |
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