Theresa Catharina de Góes Campos

  Decisão acertada06/12/2011 | 18:10
A importância do diploma

*Carlos Chagas

O diploma de médico limita a liberdade de tratamento da saúde do cidadão? Pelo contrário, dirão todos. O diploma para o exercício da medicina defende a sociedade da ação de curandeiros. Por que o diploma de jornalista limitaria a liberdade de manifestação de pensamento e de opinião?

Felizmente, apenas sete senadores acharam assim, já que 65 votaram em primeiro turno a Emenda Constitucional que exige o diploma para o exercício do jornalismo. Decisão que em momento algum esbarra na liberdade de expressão. Até porque, qualquer pessoa pode manifestar-se através dos meios de comunicação. Apenas, para exercer o jornalismo, voltará a exigência do diploma, inesperadamente extinta por infeliz decisão do Supremo Tribunal Federal, em 2009.

Se o dom de escrever pode nascer com o indivíduo, ou ser por ele aprimorado, nada impedirá que se desenvolva o escritor, com todas as prerrogativas de valer-se da mídia para sua exposição. Será colaborador.

Ser jornalista não é nem melhor nem pior do que ser escritor. É apenas diferente, na medida em que, para exercer sua profissão, o jornalista deve capacitar-se de mil outras atividades: editar, diagramar, selecionar, apresentar, tanto na mídia impressa quanto na eletrônica, além de dispor de conhecimentos ordenados de História, Política, Economia, Geografia, Filosofia, Ética, Legislação e quantas outras parcelas do saber? Será nas faculdades de jornalismo que o candidato irá adquirir esses conhecimentos, tornando-se natural que, selecionado e preparado, faça jus ao diploma.

Adianta pouco raciocinar como raros senadores, que criticaram o ensino do jornalismo, excedendo-se até ao afirmar que as faculdades formam analfabetos. Não é assim, bastaria que tivessem frequentado a universidade, mas ainda que fosse, seria o caso de tirar o sofá da sala para evitar o adultério, como na velha piada?

Se os cursos vão mal, e alguns certamente vão, que se os aprimore. Que se acabe com os diplomas PP – isto é, pagou, passou, tão frequentes na área do Direito. Mas que não se torne o ensino superior de jornalismo desnecessário e supérfluo, porque esse argumento parte essencialmente dos maus-patrões, aqueles que pretendem fazer da notícia um trampolim para a concretização de seus interesses. Para eles, melhor ter nas redações jornalistas contratados por seus dons de sabujismo do que jovens que, na universidade, aprenderam dever toda notícia ser precisa, honesta e verdadeira. Mais ainda, que o diploma lhes dá dignidade para exigir melhores condições de trabalho, melhores salários e, acima de tudo, dignidade.

A batalha será longa, pelo restabelecimento do diploma, ainda que o Senado tenha dado excepcional demonstração de coragem e discernimento. Não faltarão, é claro, vozes poderosas a protestar do alto das ilusões de controlar a opinião pública. Não controlam.

*Jornalista
Publicado no jornal O Estado, do Ceará, em 02/12/2011
Cartola e organização do texto em parágrafos do Boletim da FENAJ
 

Jornalismo com ética e solidariedade.