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LUIZ GONZAGA – MELHOR HOMENAGEM
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Em “Cartas à Redação”, neste jornal, o
leitor Rogério Mota e Albuquerque propôs
mudar o nome da cidade de Exu, sertão de
Pernambuco, para “Luiz Gonzaga”, neste
ano do centenário de nascimento do Rei
do Baião. Pois eu digo, com todo
respeito: facissunão!
Mudar nome de rua ou cidade para honrar
a memória de celebridades empobrece a
tradição e o folclore do lugar. Inditoso
exemplo consumado, no sertão alagoano,
foi a cidade de Pedra, que passou a
chamar-se Delmiro Gouveia, grande e
respeitável empreendedor e pioneiro do
desenvolvimento econômico da região. O
mapa do Brasil está cheio dessa prática
– cidades de nomes que o povo consagrou
são rebatizadas com nome de gente.
Topônimos fortes, lindos, poéticos,
misteriosos, são descartados para honrar
filhos da terra e/ou benfeitores. Com o
tempo, ninguém mais sabe quem foi o
homenageado. Que destempero seria mudar
o nome de Caruaru para “José Condé”,
Itabaiana para “Sivuca”, Juazeiro para
“Padre Cícero Romão”! Não poderíamos
mais chamar carinhosamente: “Juazeiro do
meu Padim Ciço”.
Espero que jamais substituam os nomes
dos lugares imortalizados nas músicas de
Luiz Gonzaga: Riacho do Navio, Estrada
de Canindé, Taboca, Rancharia,
Salgueiro, Bodocó... No caso de Exu -
nome de orixá respeitado nas religiões
afro-brasileiras e figura folclórica - a
cidade está para sempre marcada como a
terra natal de seu músico maior, sem
precisar trocar de nome. Deem o nome
dele a uma escola, nova praça ou nova
rua em qualquer lugar do Brasil. Melhor
homenagem ainda: criar um Prêmio Luiz
Gonzaga para estimular sanfoneiros, uma
Bolsa Luiz Gonzaga para incentivar novos
talentos no acordeom.
Minha avó, meus pais, eu e meu filho
representamos quatro gerações de fãs de
Luiz Gonzaga. Sua música, verve, jeito
de ser e cantar entranharam-se em nossas
vidas. Sei de cor vários baiões, xotes,
xaxados e toadas gonzagueanas. Ninei meu
filho entoando “Vai boiadeiro, que a
noite já vem”, “Óia a palha do coqueiro
quando o vento dá”, “É tarde, eu já vou
indo, preciso ir embora, té amanhã...".
Quando minha memória for se apagando,
restarão preservados fragmentos de
estrofes de Cigarro de Páia, Forró de
Mané Vito, A volta da Asa Branca,
Paraíba, Xanduzinha, No Ceará não tem
disso não, A Dança da Moda, Salmo dos
Aflitos... Discordo da proposta para
rebatizar como “Luiz Gonzaga” a Exu do
meu Gonzagão. Ele mesmo haveria de
protestar: “Ô xente, meu irmão!”
(Diário de Pernambuco, 30/01/2012,
p.A-9)
Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos |
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