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O CORAÇÃO E A RAZÃO VÃO AO CINEMA -
HOJE, AMANHÃ E DEPOIS
(As mil e uma razões para que eu
goste tanto de cinema...)
Para citar somente algumas, das mil
e uma razões pelas quais eu gosto
tanto de cinema, começo agora a lhe
explicar, embora eu não tenha
certeza se aquele que não valoriza o
significado que os bons filmes podem
ter em nossa vida, vai se interessar
até mesmo em ler estas palavras.
Não faço separação entre o cinema e
a vida, pois faz parte de minha
existência, tornando mais rico o meu
cotidiano, meu vocabulário, minha
compreensão do mundo e das pessoas,
sem limites de tempo e espaço, nem
barreiras de idiomas ou
sociopolítico-econômicas.
Sim, em meio a tantas divergências
culturais, às inúmeras diferenças
religiosas e mentalidades diversas,
o cinema funciona como um
instrumento que pode iniciar uma
comunicação universal, a despeito
das atitudes e palavras antagônicas
ou desinteressadas com que
enfrentamos os outros, em nosso dia
a dia. A partir de um filme, uma
conversa que jamais teria sido
iniciada, por falta de motivação, é
entabulada e se aprofunda, emociona,
provoca o diálogo ao interromper o
silêncio; ou substitui as palavras
que antes eram esquecidas ou
pronunciadas sem causar qualquer
efeito ou talvez fossem ditas, mas
não eram escutadas...
Amo os bons filmes porque me fazem
uma pessoa melhor, mais amadurecida,
mais sensível, mais consciente e
mais solidária; menos limitada, mais
universal; alarga meus horizontes,
transporta-me a outros ambientes;
remexe o meu íntimo, forçando a
auto-análise às vezes tão dolorosa,
apesar de fundamental para que o
crescimento pessoal ocorra;
coloca-me ao lado do próximo, mesmo
quando eu procurei me afastar, por
conveniência, eventual timidez,
omissão, relutância, malícia, medo,
desatenção ou insegurança...
O hábito do cinema inteligente nos
liberta da acomodação, não só
física, como intelectual e
emocional. As lutas íntimas dos
sentimentos e das emoções travam-se
na tela e em nosso coração; as
imagens da vida se entrelaçam às
imagens da tela, compondo um painel
filosófico difícil de ser obtido
através da maioria das conversas
repetitivas e medíocres tão comuns
em nossa rotina.
Um bom filme dá um toque muito
especial ao que seria um dia comum.
Rompe a monotonia. Transforma os
momentos disponíveis com a
oportunidade da imagem que se
apresenta para iniciar um diálogo
com a nossa mente e o nosso coração
e, assim, provocar um processo de
metamorfose ( talvez duradouro...)
de nossa pessoa.
Toda manifestação artística nasce da
sensibilidade e visa a sensibilizar,
o que, neste limiar do século XXI,
significa a missão de vencer a
frieza da tecnologia separada da
mente e do coração do homem para
fazer com que este sobreviva em
condições íntimas, ecológicas e
sociais dignas do ser humano. Sim,
eis a missão sensibilizadora da
arte!
É preciso, a todo custo, não perder
a faculdade maravilhosa de sentir e
amar... enquanto a ciência e a
técnica vão continuar a conquistar
novas fronteiras num ritmo
alucinante, que não deixa de ser
previsível.
O futuro da humanidade, porém, não
está nos satélites, mísseis e
computadores, nem mesmo nos
laboratórios científicos mais
sofisticados. O progresso
tecnológico não pode garantir a
sobrevivência de uma única pessoa,
pois não pode oferecer, por si só,
como produto, a esperança, capaz de
tudo superar e até criar do nada ou
nas condições e circunstâncias mais
difíceis.
Os meios de comunicação social
mostram a todas as classes sociais
que, ainda quando as portas estão
fechadas, é possível se espiar pelo
“buraco-tela” das fechaduras e
conhecer o conforto, as invenções,
as novidades, que se multiplicam.
Felizmente para a humanidade, o que
se deve a todo homem vai ser cada
dia mais difícil de ser negado ou
escondido de sua mente e de seus
olhos, por demais fatigados, após
cada tentativa frustrada para
aprender e partilhar, no cenário
íntimo de uma profunda solidão
espiritual.
Os cientistas, tecnocratas e
comunicadores que puseram a nosso
alcance as máquinas engenhosas são
responsáveis também por nos cercarem
dos mais sérios perigos. Quem não
está guerreando atualmente, está se
preparando para se defender ou para
a eventualidade de um conflito
armado, interno ou externo. O
milagre do átomo também se chama a
possibilidade de uma hecatombe
nuclear universal.
A comunicação pela arte, entretanto,
pode vir a ser sinônimo de
esperança, na medida em que se fizer
instrumento de solidariedade e de
justa distribuição dos bens
essenciais, que a todos pertencem,
sem qualquer distinção de raça,
credo ou cor.
No dia a dia que deve ser uma
prática de comunicação, uma vivência
que se expressa em atos de receber e
dar , na decisão humanística de
partilhar, a sensibilidade única do
artista se torna tão vital quanto a
informática. O espetáculo artístico,
forma de comunicação até mesmo entre
gerações que viveram em séculos
diferentes, continuará a enriquecer
os seres humanos.
Uma definição clara e precisa, que
endosso plenamente, é expressa por
Janetty Laís, pintora brasiliense,
ao afirmar que a arte “capacita o
ser humano a compreender a realidade
e ajuda não só a suportá-la, como
também a transformá-la, dando-lhe
meios para tornar a vida mais
humana.”
Nas artes – manifestações artísticas
que nos tornam pessoas melhores, e
não conhecem fronteiras ou
limitações de tempo ou espaço, e
sabem o caminho para atingir (muito
além dos olhos e dos ouvidos tão
limitados) o âmago dos corações,
tornando-os AMIGOS e IRMÃOS, está o
porvir do universo.
Como manifestação artística de
amplos recursos, o cinema ocupa uma
posição ímpar, devido à sua
acessibilidade e interação com os
outros meios de comunicação: os
filmes se fazem cada vez mais
presentes na televisão, no vídeo, na
sala de aula, nos locais de trabalho
e lazer, bibliotecas, paróquias
religiosas e cineclubes os mais
diversos.
Destaca-se ainda a produção
cinematográfica como um trabalho
não-individual, que congrega uma
equipe diversificada mas visando a
um objetivo comum e, depois, se
constitui num produto que continuará
reunindo muitas outras pessoas, em
sua maioria estranhos e distantes no
espaço físico, porém que se unem,
através do filme, aos responsáveis
pelos diversos aspectos da criação
cinematográfica. A comunicação se
processa, então, entre o grupo
realizador e a platéia apreciadora,
derrubando inúmeras barreiras, como
as representadas pela distância,bem
como pelo não-conhecimento prévio de
uma realidade que se revela, numa
combinação/integração criadora dos
instrumentos diversos de
comunicação.
Que Deus abençoe os produtores,
diretores, escritores, músicos,
artistas, intérpretes e técnicos,
responsáveis por filmes que
embelezam nossa vida, fazem-nos
refletir criticamente, denunciar,
protestar, ou sonhar, reavivar
emoções e sentimentos. Que Deus os
proteja e lhes dê forças para
continuar ... ou que provoquem
seguidores, continuamente, num fluxo
humanístico que tem o potencial de
fazer brotar outras fontes neste
deserto em que se transformou, por
culpa nossa, esta aldeia global em
crise, com a sua população
experimentando constantes ameaças de
desaparecimento.
Se estranhos, tão diferentes e de
procedências as mais diversas, podem
se comunicar através do cinema, por
que não acreditar, igualmente, na
comunicação que podemos empreender
na família, entre os amigos, na
comunidade? Se a imagem, projetada
na tela de um cinema, consegue
conscientizar, revelar, comover,
sensibilizar, por que não acreditar
em nossa força pessoal de persuasão,
em nossa capacidade de nos
comunicarmos com os que estão bem
próximos de nós?
As imagens (sonoras ou não) dos que
não conhecemos reavivam em nosso
íntimo a fé em nós mesmos e no
próximo, derrubando o ceticismo
onipresente, substituindo o
pessimismo imobilizante, omisso e
destruidor, pela magia criadora de
sonhos e sentimentos, enfim, as
imagens nos dão ESPERANÇA. E que
presente de vida pode existir que
seja maior, mais essencial, que a
esperança? Esta esperança que se
confunde com a própria capacidade de
sobreviver, a todo custo, a despeito
de tudo, apesar de todas as mágoas,
dores e desilusões as mais
dilacerantes? Digamos "sim " à
esperança que nos reanima após cada
uma de nossas quedas, transformando
nosso desânimo profundo em
resistência portadora de coragem
latente...
Com um filme na memória, o cérebro
em atividade e sentimentos no
coração, continuo CAMINHANDO... E,
caminhando, SINTO que estou VIVA,
pois tenho VIDA em movimento,
fluindo em luz e sombra, projetando
um fotograma atrás do outro...
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília-DF, 13 de dezembro de 1988.
De:
elizabeth barros
Data: 1 de março de 2012 17:12
Querida Tia Therezita, este texto é
maravilhoso. Resume todo o seu
carinho pelo cinema e a importância
dele em sua vida. Graças a Deus
que o cinema é uma arte que não pára
de ser produzida e desenvolvida,
a cada dia temos um número enorme de
produções e filmes maravilhosos
para assistirmos. E há também os
filmes antigos para serem revistos.
É
uma maravilha!!
Beijos, de sua sobrinha, Elizabeth.
De: Suzana Katzenstein
Data: 16 de julho de 2016
Bravoooo!!!!
Suzana
De: Milza Guidi
Data: 17 de julho de 2016
Texto maravilhoso, Theresa. Se não
deixamos morrer a esperança, a vida
se torna mais leve, mesmo que às
vezes tenhamos que carregar pesados
fardos. Um abraço.
Milza
De: Elizabeth Barros
Data: 10 de outubro de 2016
Lindo texto, tia, sempre que posso,
releio.
O cinema é realmente uma maravilha
em nossas vidas.
Graças a Deus temos acesso a essa
arte.
Elizabeth |
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