Theresa Catharina de Góes Campos

  REFLEXÕES E TEORIAS SOBRE COMUNICAÇÃO DE MASSA E CONFLITOS INTERNACIONAIS

Sabemos que os conceitos de macro e microteoria se referem à maior ou menor generalidade dos fenômenos que uma teoria trata de explicar e predizer; e tanto uma como outra são casos específicos da definição geral de teoria, que é um conjunto de proposições logicamente articuladas. Essa organização , num processo de desenvolvimento, visa a uma explicação e previsão de comportamentos, acontecimentos e atitudes, em uma determinada área de fenômenos.

A partir desse pensamento, reconhecemos, por conseguinte, a importância da teoria do equilíbrio internacional, de GEORGE LISKA, e, igualmente, o papel da moral nas relações internacionais, segundo o pensamento de ARNOLD WOLFERS.

ARON (1979) assume a posição de que as concepções teóricas do idealismo e do realismo, ao invés de serem contraditórias, se complementam:

“Já antes da ascensão dos Estados Unidos ao plano da cena mundial, os historiadores se puseram a estudar as "relações internacionais.” Mas se limitaram à descrição e à narrativa. Além disso, que benefício poderiam tirar os estadistas atuais, ou os diplomatas, do conhecimento histórico dos séculos passados? As armas de destruição generalizada, as técnicas da subversão, a ubiquidade da força militar - graças à aviação e à eletrônica - introduzem novidades, materiais e humanas, que tornam pelo menos duvidosas as lições dos séculos passados. A validade dessas lições não pode ser mantida se elas não forem inseridas numa teoria que abranja o antigo e o novo, identificando os elementos constantes para elaborar o inédito."

“(...) quais são os "elementos racionais" da política internacional? Bastará considerar os elementos racionais para desenhar um esboço ou "pintar um retrato”, de acordo com a essência do modelo? Se o especialista teórico responder negativamente às duas perguntas, precisará trilhar um outro caminho - o da sociologia. Admitindo-se o objetivo (fazer um mapa do cenário internacional), o teórico se esforçará por reter todos os elementos, em vez de fixar sua atenção exclusivamente sobre os componentes racionais.

A este diálogo entre o defensor do "esquematismo racional" e o da “análise sociológica" – diálogo cuja natureza e implicações os interlocutores nem sempre percebem - acrescenta-se muitas vezes uma outra controvérsia, de tradição norte-americana: a do idealismo contra o realismo.

Hoje chamado de maquiavelismo, o realismo dos diplomatas europeus passava, do outro lado do Atlântico, por típico do Velho Mundo, marcado por uma corrupção da qual se queria fugir emigrando para o Novo Mundo, para o país das possibilidades ilimitadas. Transformados na potência dominante, pela desaparição da ordem européia e pela sua vitória militar, os Estados Unidos descobriam pouco a pouco, não sem um problema de consciência, que a sua diplomacia se assemelhava cada vez menos ao antigo ideal, e cada vez mais à prática dos seus inimigos e aliados, até então julgada com severidade. (...) As duas concepções teóricas não são contraditórias, mas complementares: o esquematismo racional e as proposições sociológicas constituem estágios sucessivos da elaboração conceitual do universo social."

(...) "Não há dúvida de que os homens do século XX são capazes de crueldades tão horríveis quanto as do século quinto, ou do século X antes da era cristã – ou mais horríveis ainda. É o que nos provam os campos de concentração, as câmaras de gás e as bombas atômicas. Não se pode negar que os soldados, embriagados com o ardor do combate, cometem atrocidades comparáveis às dos "selvagens”; sabemos bem que os policiais e os inquisidores inventaram refinamentos de tortura física e moral.

(...) ... as guerras se assemelham, sob muitos pontos de vista, às sociedades que as praticam;"

“A contradição das sociedades que pretendem ser pacíficas, mas que praticam a guerra total, se manifesta na propaganda desencadeada, na hipocrisia dos Estados, no entrechoque das filosofias de política externa. (...) Cada vez mais a guerra se despoja dos elementos de paz, inclinando-se para os objetivos do extermínio de povos inteiros e tendendo a perder toda perspectiva humana."

PIGNATARI (1977) afirma:

“...... os homens e os grupos humanos, como os animais, de resto, só absorvem a informação que sentem necessidade e/ou que lhe seja inteligível.”

ANSHEN (1977) explica assim a sua interpretação de um movimento espiritual a se delinear no cenário mundial:

"Existe hoje, na humanidade, uma força contrária à esterilidade e ao perigo de uma cultura quantitativa e anônima das massas; um novo, ainda que às vezes imperceptível, sentido espiritual de convergência para a unidade humana e mundial baseada na santidade de cada pessoa humana e no respeito pela pluralidade das culturas. Há uma consciência cada vez maior de que a igualdade talvez não possa ser avaliada em termos numéricos, mas que é proporcional e analógica em sua realidade, pois quando a realidade é equiparada com a permutabilidade, a individualidade é negada e a pessoa humana é eliminada.

Estamos à beira de uma era em um mundo no qual a vida humana avança impetuosamente para colocar novas formas em prática. A falsa separação entre homem e natureza, tempo e espaço, liberdade e segurança, é reconhecida, e estamos diante de uma nova visão do homem em sua unidade orgânica e da história que oferece uma riqueza e diversidade de qualidade e excelência de finalidade até então sem precedente."

"... embora o atual período apocalíptico seja de tensões excepcionais, também existe um movimento excepcional agindo em prol de uma unidade compensadora que se recusa a violar o poder moral fundamental em ação no universo, aquele poder do qual todo esforço humano deve finalmente, depender. Desse modo, podemos vir a compreender que existe uma independência inerente de crescimento espiritual e mental que, embora condicionado pelas circunstâncias, jamais é por elas determinada. Assim, a grande superabundância de conhecimento humano pode ser correlacionada com a compreensão da natureza humana, sintonizando-se com o amplo e profundo alcance do pensamento e da experiência humanos."

MENDONÇA (1982):

“... a sociedade tecnotrônica, ao superar os limites espácio-temporais de relação entre os homens, diante dos veículos de comunicação de massa, cria e testa formas cada vez mais uniformes de convivência humana, transformando o mundo todo em uma única aldeia quando antigamente cada aldeia era um mundo.

A comunicação de massa, principalmente através de seu veículo por excelência, que é a TV, encontra fundamento específico no nível e no universo de preferências, de exigências e de valores do perfil psicosocial do homem na sociedade moderna.

Por isso, o processo de comunicação de massa não subsiste em sua experiência de relação emissor-receptor sem a permanente consulta da opinião pública, a pesquisa das necessidades do homem médio e a interpretação adequada dos impulsos, desejos, motivações, necessidades, frustrações e satisfações ao público usuário.

Compreender o perfil psicossocial do público usuário de televisão não é tarefa simples. Com efeito, para a televisão, como veículo de comunicação de massa, o público é o sujeito receptor das mensagens transmitidas. Ora, as mensagens da televisão são transmitidas para o perfil médio do homem da sociedade de massa. Portanto, por hipótese, o público usuário de TV é o homem médio dessa sociedade. Como definir o perfil psicossocial do homem médio da nova sociedade?

Na hipótese de ser a comunicação de massa o processo de adequação entre as mensagens interpretativas do emissor e as necessidades e exigências do receptor, quanto mais significativo for o conhecimento das necessidades e exigências do receptor e quanto mais participativa sua resposta às mensagens emitidas e as interpretações de suas necessidades e exigências, tanto mais adequada será a eficácia da comunicação de massa. O perfil psicossocial do homem médio da sociedade de massa não é definido a priori, mas a partir da imanência histórico-cultural do próprio processo de comunicação contemporânea”.

Mais adiante, o mesmo conferencista relembrou o ponto de vista do ex-Ministro Eduardo Portela, que disse sobre a TV:

"O veículo é bastante neutro. Vale o conteúdo que somos capazes de colocar nele. Se colocarmos uma informação cultural qualificada, podemos dizer que esse é um veículo a serviço da qualificação da sociedade brasileira".

BOND (1959):

"Dê ao povo a verdade que ele precisa ter” é uma filosofia jornalística citada por Fraser BOND.

Implicitamente, está se referindo, não apenas à responsabilidade dos meios de comunicação social, como também, dos governantes e líderes.

O filme de reconstituição histórica “Bonaparte et Ia Révolution", por exemplo, produzido por Claude Lelouch e Abel Gance, tem cenas de muita crueldade e violência, que correspondem à realidade de fatos devidamente comprovados. Algumas pessoas no cinema riem, porém, diante de seus momentos mais dolorosos. Quais os efeitos posteriores sobre a platéia: belicosos ou uma melhor compreensão dos erros cometidos em movimentos políticos onde as paixões, animosidades e reações de intolerância sem controle dominam a situação?

FROMM escreveu , em "A Sobrevivência da Humanidade" , acreditar em soluções pacíficas e na permanência do humanismo :

(...) não desejamos uma guerra total destrutiva e realmente queremos manter vivas na terra as noções de dignidade humana e do individualismo. Tentarei mostrar que a paz ainda é possível e que a tradição humanista tem, ainda, um futuro."

KONDRATOV (1972), em " Sons e Sinais" , não considerou obstáculo a diversidade dos idiomas, citando, entre outros recursos disponíveis, a arte da mímica:

"A despeito das múltiplas barreiras linguísticas, um homem sempre pode se fazer compreender por um outro homem. Mesmo se não conhecemos nada de uma língua, podemos nos explicar com a ajuda de gestos, desenhos, fórmulas ou diagramas. Quanta coisa nos conta, sem dizer uma única palavra, o admirável Marcel Marceau.”

O engenheiro LENÍLSON NAVEIRA E SILVA trabalhava há 18 anos nas áreas de Telecomunicações e Informática. Consultor e conferencista, no Brasil e no Exterior, escreveu numerosos ensaios, além de participar de seminários. A Revista Nacional de Telecomunicações publicou dois artigos de Lenílson Silva, com grande repercussão, sendo ele posteriormente convidado a escrever sobre a extensão dos impactos da Telemática na vida humana. Lenílson Silva aceitou a proposta, intitulando seu novo trabalho: O impacto da Nova Sociedade (1982).

Segundo o autor:

“Os últimos avanços tecnológicos, que constituem as bases para a construção da sociedade Telemática, estão provocando impactos significativos nos indivíduos, na família, na sociedade, na organização das empresas, no perfil da formação dos profissionais, no processo decisório dos homens de negócios ou do governo, na estrutura de poder dos Estados e mesmo no relacionamento entre Nações”.

Seus objetivos são: analisar as tendências tecnológicas, sucessivas e simultâneas nos dias atuais, para obter uma melhor compreensão dos impactos sociais (e desafios!)- em nível nacional e internacional - da Telemática.

A coexistência de dois poderes, igualmente fantásticos e capazes de mudar o destino da humanidade: o poder fecundo da informação e das comunicações, com sua capacidade ilimitada de transformar os povos culturalmente; e a possibilidade aterradora do holocausto nuclear.

Lenílson Silva oferece estatísticas muito significativas, ao mesmo tempo que nos dá uma visão bastante espiritual (e esperançosa) da sociedade futura, na qual a sabedoria conduzirá o homem "a uma nova harmonia com o mundo exterior, liberto das imposições do consumo e da utilização excessiva dos bens materiais".

"Nessa nova sociedade, os velhos inimigos da Humanidade - tais como a miséria e a guerra poderão ser extintos. Utopia? Não. Simplesmente porque as guerras serão de tal forma terríveis e ameaçadoras à existência da vida no planeta, que as nações terão de alcançar a paz, por temor da morte universal".

“(...) No passado, as preocupações com os valores éticos e filosóficos pareciam ser preocupação quase exclusivamente da Igreja. Num futuro próximo, tais preocupações deverão ser questão de sobrevivência da Humanidade. Por outras palavras, a Ética será uma espécie de questão de Segurança Universal. Quando isso acontecer, estaremos entrando no que se pode chamar de Sociedade Filosófica ou da Sabedoria”.

Empreender um conjunto de ações eficientes, contribuindo, nessa caminhada humanística, para que aconteça o melhor para todos nós: a união de todos esses esforços para que, com objetividade, a vida seja respeitada - eis o conceito em torno do qual podemos nos reunir para, juntos, apresentarmos propostas de esperança renovada.

Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo-SP, 19 de fevereiro de 2012

De: elizabeth barros
Data: 21 de fevereiro de 2012 14:56
Assunto: Ficou muito bom este seu texto "Comunicação de massa e conflitos internacionais"
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Querida Tia Therezita, achei que ficou muito bom este seu texto "Comunicação de massa e conflitos internacionais". Dessa forma a senhora poderá divulgar seu precioso trabalho no curso de mestrado. É um assunto que será sempre atual e a senhora o adequou muito bem para os novos tempos, trazendo também informações históricas importantes. Fico feliz mesmo! Parabéns!

Beijos, de sua sobrinha, Elizabeth

 

Jornalismo com ética e solidariedade.