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CARTA A UM COLEGA
CINÉFILO
Seu depoimento ,
informativo e comovente,
sobre a importância do
cinema em nossa vida,
mostrou que, ao longo da
existência, vamos
descobrindo, com o
passar dos anos, o cerne
da alma, naqueles com os
quais convivemos.
O cinema nos dá mais
esse presente...abrir os
olhos para realidades e
sentimentos mais
profundos, perceber uma
sensibilidade pouco
óbvia, uma dimensão
humana que está além do
visível. Toda a dimensão
de uma tomada
panorâmica, mas no olhar
bem mais próximo de um
"close", ainda que nos "travellings
" do roteiro, na tela
... e no pulsar, na
respiração da vida.
Tão preciosa, a
recordação de sua mãe,
que levou você,
recém-nascido com um mês
de idade, para uma
sessão de cinema, porque
ela estava determinada,
como pessoa amante da
arte cinematográfica, a
não abdicar desse prazer
de apreciar um bom
filme.
Um belo exemplo! Uma
afirmação de
personalidade. Uma
atitude de quem acredita
no valor criativo do
registro cinematográfico
para renovar as forças
necessárias ao viver, no
crescimento intelectual
que se processa por meio
do reconhecimento de
emoções.
Nos dias atuais, seria
bem mais fácil para ela,
porque existe, desde
anos recentes, em várias
capitais do Brasil, nas
principais redes
cinematográficas, uma
iniciativa de grande
sucesso: a chamada
"sessão materna "
semanal, especialmente
para que as mães,
acompanhadas de seus
bebês, possam assistir a
filmes com o máximo de
conforto e apoio.
Muito obrigada por me
escrever, afirmando ter
gostado do meu poema "
No Cinema, todos os dias
".
Nos versos simples,
penso que resumi a
experiência maravilhosa
- e repetida - de uma
realidade pessoal em que
o cotidiano se torna
enriquecido graças ao
humanismo expresso e
refletido na estética da
arte cinematográfica.
De fato, ARTE E VIDA SE
ENTRELAÇAM - você está
coberto de razão,
estimado colega Vivaldo.
Pensamos, ambos,
exatamente o mesmo,
porque vida e cinema se
confundem, como se
reproduzem e se
refletem, todas as
manifestações artísticas
e a vida, cujas
fronteiras praticamente
não existem - são
abertas, interligadas
por uma reciprocidade
filosófica e pragmática.
Por isso não podemos
separar o cinema da
vida. Nem por teoria.
Mergulham um no outro,
têm rosto duplo,
recriando, de forma
original, única, o mito
do deus Janos (que deu
origem ao nome do
primeiro mês do ano - um
rosto voltado ao
passado, o outro,
olhando o futuro...).
Arte e vida se confundem
e se tornam "uma" no
binômio fundamental,
transformando-se numa
realidade integrada, até
no que parece ficcional,
lendário, simbólico ou
fantasioso, talvez
absurdo ( quando seria
absurdo, em que momento
ou espaço...ou até
quando?! ) , inclusive
nas metáforas, nas
paisagens desconhecidas,
nos retratos íntimos,
insólitos, nos contextos
não-identificados. Como
negar essa convivência,
os laços afetivos entre
as duas realidades, que
se moldam ao mesmo tempo
que se superam uma à
outra nas utopias
sonhadas, enquanto se
influenciam e se tornam
seminais?
É fácil constatarmos,
conforme essas
reflexões, que vida e
cinema têm um casamento
verdadeiramente
indissolúvel. Porque
pretender separar a arte
da vida seria provocar
uma falsa ruptura,
ignorando ecos
recíprocos, o que
desqualificaria a
existência humana em
suas múltiplas facetas.
Theresa Catharina de
Góes Campos
São Paulo-SP, 20 de
fevereiro de 2012 |
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