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ARTE E VIDA SE
ENTRELAÇAM
Você está coberto de
razão, estimado Vivaldo.
Pensamos, ambos,
exatamente o mesmo,
porque vida e cinema se
entrelaçam, como se
reproduzem e se
refletem, todas as
manifestações artísticas
e a vida, cujas
fronteiras praticamente
não existem - são
abertas, interligadas
por uma reciprocidade
filosófica e pragmática.
Por isso não podemos
separar o cinema da
vida. Nem por teoria.
Mergulham um no outro,
têm rosto duplo,
recriando, de forma
original, única, o mito
do deus Janos (que deu
origem ao nome do
primeiro mês do ano - um
rosto voltado ao
passado, o outro,
olhando o futuro...).
Arte e vida se confundem
e se tornam "uma" no
binômio fundamental,
transformando-se numa
realidade integrada, até
no que parece ficcional,
lendário, simbólico ou
fantasioso, talvez
absurdo ( quando seria
absurdo, em que momento
ou espaço...ou até
quando?! ) , inclusive
nas metáforas, nas
paisagens desconhecidas,
nos retratos íntimos,
insólitos, nos contextos
não-identificados. Como
negar essa convivência,
os laços afetivos entre
as duas realidades, que
se moldam ao mesmo tempo
que se superam uma à
outra, enquanto se
influenciam e se tornam
seminais?
É fácil constatarmos,
conforme essas
reflexões, que vida e
cinema têm um casamento
verdadeiramente
indissolúvel. Porque
pretender separar a arte
da vida seria provocar
uma falsa ruptura,
ignorando ecos
recíprocos, o que
desqualificaria a
existência humana em
suas múltiplas facetas.
Muito obrigada , mais
uma vez, por suas
memórias da infância -
tão vivas - e pelas
associações, bem feitas,
a dois filmes famosos.
Um abraço cordial de
Theresa Catharina
De: vivaldol65
Data: 20 de fevereiro de
2012 18:54
Assunto: A importância
do cinema em nossa vida
Para: Theresa Catharina
de Goes Campos
Theresa,
Lembro-me que uma vez
(deveria ter uns quatro
anos de idade) eu e
minha mãe, do lado de
fora de uma das
dependências da Escola
de Belas Artes da Bahia,
onde meu pai trabalhava,
observávamos uma
cerimônia. Na
oportunidade, os seus
participantes (cerca de
20 pessoas), todos de
pé, solenemente trajando
vestes pretas (de beca),
posando para
fotografias, permaneciam
totalmente imóveis.
Olhos reluzentes, fixos
em direção à câmera,
transpiravam sob um
feixe luminoso. Aquela
cena transmitia uma
atmosfera de mistério e
me causava temor. Em
seguida, um espocar de
flashes de magnésio
deixou-me mais
apreensivo. Sem entender
nada do que estava se
passando, agarrado à
barra da saia de minha
mãe, perguntei-lhe o que
estava acontecendo, e
ela respondeu-me que era
uma formatura. Ato
contínuo, dei um pulo e
agarrei-a pelo pescoço,
afirmando que estava com
medo da “formatura.”
Hoje, relembrando o
fato, reporto-me ao
filme “A Dança dos
Vampiros”, de Roman
Polansky, à cena do
baile, realizado num
ambiente soturno, onde
os vampiros mostravam
rostos macilentos,
sinistros e apavorantes,
e também ao filme “ O
Incrível Exército de
Brancaleone”, de Mário
Monicelli, no momento em
que aparece a família da
realeza bizantina,
exibindo semblantes
lúgubres e doentios,
fazendo-me lembrar da
cena da formatura que eu
presenciei quando
criança.
Por falar em cinema,
desde os meus tempos de
estudante ouço dizer que
a ficção está
intimamente ligada com a
vida real. Também quando
falamos que a arte imita
a vida, a recíproca é
verdadeira. Portanto,
posso afirmar que o
cinema sempre fez parte
da minha vida.
Vivaldo |
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