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A INVENÇÃO DE HUGO
CABRET
É, no mínimo,
surpreendente que um
cineasta, como Martin
Scorsese, cuja filmografia é
voltada quase sempre para a
violência e o baixo mundo de
Nova York, tenha, aos
setenta anos, realizado A
Invenção de Hugo Cabret,
uma obra tão sensível,
destinada à juventude, mas ,
como se há de convir, pouco
autêntica, visando a
homenagear as origens do
cinema.
A película,
ganhadora de cinco Oscars da
Academia, é baseada no livro
homônimo, escrito e
fartamente ilustrado por
Brian Selznick, parente
distante de David O.
Selznick, produtor de E O
Vento Levou. O roteiro
de John Logan (O Aviador)
procura fixar, em termos de
linguagem cinematográfica, a
característica da obra, que,
segundo o autor, não é
romance, não é história em
quadrinhos, nem é o que os
americanos chamam de
graphic novel, mas a
combinação de tudo isso, com
o objetivo de divertir os
adolescentes.
O que se tem é
mais o perfil de algumas
personagens, que povoam uma
estação de trem, em Paris,
ao início da década de
trinta do século passado. A
primeira dessas personagens
é um garoto, Hugo Cabret
(Asa Butterfield), de 12
anos, órfão, que, como
hóspede indesejado, vive
buscando refúgio nos lugares
mais esconsos do edifício a
fim de não ser identificado.
Dotado da capacidade de
lidar com engrenagens
complicadas, pois é filho de
relojoeiro (Jude Law), que
morreu depois de lhe mostrar
um andróide, por ele
desenvolvido, de caneta na
mão, aguardando o momento
de escrever importante
mensagem, ele cuida de
manter em funcionamento o
relógio da gare, e, nas
horas vagas, tenta desvendar
o mistério do robô.
A segunda
personagem é Isabelle (Chloë
Grace Moretz), também uma
órfã – os filmes da época,
principalmente os de
Griffith, estavam cheios
delas e deles -, adotada por
Georges Méliès (Ben
Kingsley), ilusionista e
pioneiro do cinema francês,
a quem chama de avô. Méliès
tem uma loja de
quinquilharias na estação.
Isabelle, depois que
descobre a maneira de viver
de Hugo, fica encantada com
os constantes desafios que
ele enfrenta no dia a dia, e
decide acompanhá-lo em todas
as suas aventuras. Méliés,
por sua vez, é casado com
Mama Jeanna (Helen McCrory),
antiga estrela de seus
filmes, que esgotaram todas
as suas economias e foram
perdidos durante a I Guerra
Mundial.
Outra personagem de destaque
é o cruel Inspetor (Sacha
Baron Cohen) da estação, que
não dá trégua na perseguição
a Hugo, por ele acusado de
ser o responsável por vários
furtos ocorridos no local.
Para dar conta de sua
missão, o Inspetor tem um
cão maravilhoso, que fareja
corrupção, digno, portanto,
de ser solto, nesses nossos
tempos, na Praça dos Três
Podres Poderes de
Brasília... Há ainda o
professor René Tabard
(Michael Stuhlbarg),
cinéfilo e pesquisador
inveterado, grande admirador
da obra de Georges Méliès,
que conseguiu recuperar
algumas de suas películas
perdidas. Apesar de contar
com a colaboração de muitos
técnicos, que atuaram com
ele anteriormente, Scorsese
não consegue imprimir na
narrativa o seu estilo
próprio, consagrado desde
Taxi Driver ou Os
Bons Companheiros.
Assim, não são os mesmos os
objetivos por ele buscados,
em outros filmes, na
composição de cada plano. Da
mesma forma, não se
identificam como sendo dele
o movimento espacial, a
tonalidade e o conteúdo
emocional de cada cena. Sob
esse aspecto tem-se,
evidentemente, de considerar
o uso, pela primeira vez,
mas de maneira magistral, da
câmara digital e da 3D.
O que realmente é notável no
filme – isso reconhecido
pela Academia de Hollywood,
em sua premiação deste ano,
uma das mais justas dos
últimos tempos – é a
magnífica fotografia de
Robert Richardson, que
recria, ao início, uma visão
de sonho de Paris e a
direção de arte, de Dante
Ferretti, que planejou uma
estação ferroviária dotada
dos necessários meios
labirínticos para situar a
ação. As interpretações
obedecem ao padrão vigente
na época para que as
personagens não destoem das
que se veem nas imagens de
arquivo das películas
citadas de Buster Keaton,
Harold Lloyd e outros. É,
por isso, marcante o rigor
na observância dessa
padronização, o que coloca
as atuações de Asa
Butterfield (Hugo Cabret),
Jude Law, (o Pai), Chloë
Grace Moretz ( Isabelle),
Ben Kingsley (Georges
Méliès) e Helen McCrory (
Mamma Jeanna) no mesmo nível
de destaque. John Depp, um
dos produtores, aparece como
condutor da banda da música
da estação e,
irreconhecível, Martin
Scorsese é um fotógrafo.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
THE INVENTION OF HUGO CABRET
EUA – 2011
Duração – 126 minutos
Direção – Martin Scorsese
Roteiro – John Logan com
base no The Invention of
Hugo Cabret, de Brian
Selznick
Produção – Martin Scorsese,
John Depp, Tim Headington e
Graham King
Fotografia – Robert
Richardson
Trilha Sonora – Howard Shore
Edição – Thelma Shoonmaker
Elenco – Ben Kingsley
(Georges Méliès), Asa
Butterfield ( Hugo Cabret),
Jude Law (Pai), Chloë Grace
Moretz (Isabelle), Helen
McCrory (Mamma Jeanna),
Michael Stuhlbarg (Rene
Tabard), John Depp (Condutor
da Banda de Música), Martin
Scorsese (Fotógrafo) |
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