Pe. Tomaz
Hughes, SVD
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- - -
DOMINGO DE
RAMOS (1 de
abril de
2012)
Mc 11, 1-11
“Bendito
seja aquele
que vem em
nome do
Senhor!”
Uma das
grandes
festas
religiosas
na tradição
popular
brasileira é
a celebração
da entrada
de Jesus em
Jerusalém,
no Domingo
de Ramos.
Organizam-se
procissões,
o povo abana
ramos, e
pessoas que
dificilmente
pisam em uma
igreja nos
domingos
comuns, hoje
fazem
questão de
não perder a
celebração.
Tudo isso
tem o
potencial de
ser muito
positivo,
mas para não
reduzirmos a
comemoração
a mero
folclore ou
teatro,
acredito ser
importante
aprofundar a
partir de
textos
bíblicos o
que
significava
este evento
para Jesus,
e para o
evangelista.
Talvez o
nosso
entendimento
da passagem
- como de
outros
textos - é
dificultado
pela nossa
pouca
familiaridade
com o Antigo
Testamento.
Para que
entendamos
bem o
sentido do
gesto
profético de
Jesus nesse
evento,
seria bom
relembrar um
trecho do
profeta
Zacarias:
“Dance de
alegria,
cidade de
Sião; grite
de alegria,
cidade de
Jerusalém,
pois agora o
seu rei está
chegando,
justo e
vitorioso.
Ele é pobre,
vem montado
num jumento,
num
jumentinho,
filho de uma
jumenta...
Anunciará a
paz a todas
as nações, e
o seu
domínio irá
de mar a
mar, do rio
Eufrates até
os confins
da terra”
(Zc 9,
9-10). Esse
era um
trecho muito
importante
na
espiritualidade
do grupo
conhecido
como os
“Anawim”, ou
“os pobres
de Javé”,
que
esperavam
ansiosamente
a chegada do
Messias
libertador.
Herdeiros
dessa
espiritualidade
e esperança
seguramente
estavam
Maria e
José, e os
discípulos/as
de Jesus.
Jesus foi
educado
dentro dessa
espiritualidade.
Zacarias
traçava as
características
do
verdadeiro
messias -
seria um
rei, mas um
rei “justo e
pobre”; não
um rei de
guerra, mas
de paz!
Estabeleceria
uma
sociedade
diferente da
sociedade
opressora do
tempo de
Zacarias (e
de Jesus, e
de nós) -
onde
poderosos e
ricos
oprimiam os
pobres e
pacíficos!
Um rei
jamais
entraria em
uma cidade
montado em
um jumento -
o animal do
pobre
camponês,
mas em um
cavalo
branco de
raça! Então
Jesus,
fazendo a
sua entrada
assim, faz
uma
releitura do
profeta
Zacarias, e
se
identifica
com o rei
pobre, da
paz, da
esperança
dos pobres e
oprimidos!
Por isso,
muitas vezes
perdemos
totalmente o
sentido da
entrada de
Jesus em
Jerusalém.
Celebramos o
evento como
se fosse a
entrada de
um
Presidente
ou
Governador
dos nossos
tempos, - de
pompa,
imponência e
demonstração
de poder e
força.
Parece muito
mais ligado
à
prepotência
de um
déspota ou
imperialista
do que à
figura de
Jesus! O
contrário do
que
significava
o que Jesus
fez!
Chamamos o
evento da
“entrada
triunfal de
Jesus em
Jerusalém” -
e realmente
foi uma
entrada
triunfal,
mas como
triunfo de
Deus, que se
encarnou
entre nós
como o Servo
Sofredor, o
triunfo da
vida, morte
e
ressurreição
de Jesus!
Nada mais
longe do
sentido
original
deste evento
do que
manifestações
de poderio e
pompa, mesmo
- ou
especialmente
- quando
feitas em
nome da
Igreja e do
Evangelho de
Jesus!
O texto de
hoje convida
a todos nós
a revermos
as nossas
atitudes.
Seguimos
Jesus - mas,
será que é o
Jesus real,
o Jesus de
Nazaré, o
Jesus rei
dos pobres e
humildes, o
Jesus
cumpridor da
profecia de
Zacarias? Ou
inventamos
um outro
Jesus -
poderoso nos
moldes da
nossa
sociedade,
com força,
poder e
prestígio,
conforme o
mundo
entende
estes
termos? É
valiosa a
advertência
contida em
um canto
muito usado
nas
celebrações
de hoje:
“Eles
queriam um
grande rei,
que fosse
forte,
dominador. E
por isso não
creram n’Ele
e mataram o
salvador!”
Realmente,
acreditamos
no rei dos
pobres e
oprimidos,
ou só
fazemos um
folclore
bonito no
Dia de
Ramos,
totalmente
desvinculado
da mensagem
verídica e
profunda do
profeta
Zacarias e
do Evangelho
de hoje?
Acreditamos
na força do
direito
(Jesus e o
seu projeto
de vida) ou
no direito
da força
(tantos
poderosos do
cenário
mundial com
o seu
projeto de
morte?)
DOMINGO DE
PÁSCOA (8 de
abril de
2012)
Jo 20, 1-9
“Ele viu e
acreditou”
Os quatro
evangelhos
relatam os
acontecimentos
do Dia da
Ressurreição,
cada um de
acordo com
as suas
tradições.
Certos
elementos
são comuns a
todos: o
fato do
túmulo
vazio, de
que as
primeiras
testemunhas
eram as
mulheres
(embora
divirjam
quanto ao
seu número e
identidade e
o motivo da
sua ida ao
túmulo -
para ungir o
corpo, ou
para vigiar
e lamentar),
e que uma
delas era
Maria
Madalena.
Podemos
tirar disso
a conclusão
que as
mulheres
tinham lugar
muito
importante
entre o
grupo dos
discípulos
de Jesus, e
que elas
eram mais
fiéis do que
os homens,
seguindo
Jesus até a
Cruz e além
dela!
Infelizmente,
outras
gerações
fizeram
questão de
diminuir a
importância
das
discípulas
na tradição
- e a Igreja
sofre até
hoje as
consequências.
Lendo os
relatos, um
fato salta
aos olhos -
ninguém
esperava a
Ressurreição!
Para os
discípulos,
a Cruz era o
fim da
esperança, a
maior
desilusão
possível. Se
somarmos a
isso o fato
que todos
eles traíram
Jesus (ou
por
dinheiro, ou
por
covardia),
podemos
imaginar o
ambiente
pesado entre
eles na
manhã do
Domingo.
Nesse meio,
chega a
Maria com a
notícia de
que o túmulo
estava vazio
- e ela,
naturalmente,
pensa que o
corpo tinha
sido
roubado.
Ressurreição
- nem
pensar!
No nosso
texto, Pedro
(que tem um
papel
importante
nos textos
pós-ressurrecionais)
e o
Discípulo
Amado
(anônimo,
mas segundo
os estudos
mais
recentes
quase
certamente
não um dos
Doze) correm
até o
túmulo. O
texto deixa
entrever a
tensão
histórica
que existia
entre a
comunidade
do Discípulo
Amado e a
comunidade
apostólica
(representada
por Pedro).
Pois, o
Discípulo
Amado espera
por Pedro
(reconhece a
sua
primazia),
mas enquanto
Pedro vê sem
acreditar, o
Discípulo
Amado
acredita. No
Quarto
Evangelho,
Pedro só
realmente
vai
conseguir
amar Jesus
no Capítulo
21, enquanto
o Discípulo
Amado é o
tal desde
Capítulo 13.
Só quem olha
com os olhos
do coração,
do amor,
penetra além
das
aparências!
Como em
Lucas 24, na
história dos
Discípulos
de Emaús, o
texto
demonstra
que a nossa
fé não está
baseada num
túmulo
vazio! Não é
o túmulo
vazio que
fundamenta a
nossa fé na
Ressurreição,
mas o
contrário -
é a
experiência
da presença
de Jesus
Ressuscitado
que explica
porque o
túmulo está
vazio!
Cuidemos de
não procurar
bases falsas
para a nossa
fé no
Ressuscitado!
Hoje em dia,
quando
olhamos para
o mundo ao
nosso redor,
é fácil não
acreditar na
vitória da
vida sobre a
morte. Há
tanto
sofrimento e
injustiça -
guerra,
violência,
corrupção
endêmica,
miséria, a
saúde e a
educação
sucateadas!
Só uma
experiência
profunda da
presença de
Jesus
libertador
no meio da
comunidade
poderá nos
sustentar na
luta por um
mundo
melhor, com
fé na
vitória
final do bem
sobre o mal,
da luz sobre
as trevas,
da graça
sobre o
pecado!
Nós todos
somos
discípulos/as
amados/as,
pois “nada
nos separa
do amor e
Deus em
Jesus
Cristo” (Rm
8); mas,
será que
somos
discípulos
amantes?
Será que
amamos a
Jesus e ao
próximo? E
lembramos
que o ágape,
o amor
proposto
pelo
evangelho,
não é um
sentimento,
mas uma
atitude de
vida, de
solidariedade,
de partilha,
de justiça.
“O amor
consiste no
seguinte:
não fomos
nós que
amamos a
Deus, mas
foi Ele que
nos amou, e
nos enviou o
seu Filho
como vítima
expiatória
por nossos
pecados. Se
Deus nos
amou a tal
ponto,
também nós
devemos
amar-nos uns
aos outros”
(1Jo 4,
10-11).
Que a
mensagem da
Ressurreição,
da vitória
da vida
sobre a
morte, nos
anime e dê
força, todos
os dias da
nossa vida,
mas
especialmente
quando a
Cruz pesar
muito.
Páscoa:
Tempo de
renascer!
Tempo de
despertar
para a vida
nova!
Pe. Tomaz
Hughes, SVD
Muitos de
nós, de uma
certa idade,
lembram
ainda quando
a Quaresma
era
observada
com muito
rigor nas
famílias e
comunidades
cristãs, com
especial
ênfase em
privar-se de
algum bem -
doces,
bebidas,
cinema ou
algo
semelhante.
Que alegria
quando
chegasse
Sábado
Santo, pois
tudo isso
terminou!
Sem negar o
valor das
práticas
daqueles
tempos idos,
antes da
reforma
litúrgica do
Papa Pio
XII, a
celebração
da Páscoa
foi
diminuída na
sua
importância
e quase que
desligada da
caminhada
quaresmal.
O ponto alto
do Ano
Litúrgico é
o Tríduo
Pascal. Aqui
está
resumido
todo o
mistério da
nossa
salvação,
pela vida,
morte e
ressurreição
de Jesus. Na
quinta à
noite,
comemoramos
a Ceia que
resumiu toda
a vida de
Jesus.
“Tendo amado
os seus,
amou-os até
o extremo”
(Jo 13, 1) -
até o último
ponto de
doação,
dando a sua
vida. Jesus
nos deu o
mandamento
que deve
nortear toda
a nossa vida
- “façam
isso em
memória de
mim!”. Não
fazendo uma
lembrança de
algo que já
passou, mas
o memorial -
tornando
presente
tudo que foi
celebrado
nessa ceia
derradeira,
e
comprometendo-nos
com o
seguimento
de Jesus
hoje,
alimentados
por seu
Corpo e
Sangue, numa
vida de amor
e
solidariedade.
Há uma
ligação
estreita
entre todos
os elementos
do Tríduo,
pois
sexta-feira
foi a
consequência
lógica da
vida de
Jesus. Ele
não veio
para morrer,
mas para que
“todos
tenham a
vida e a
vida em
abundância”
(Jo 10, 10).
Por isso, o
seu projeto
do Reino
bateu
frontalamente
com os
projetos de
dominação do
seu tempo, e
por isso,
ele foi
assassinado.
Fiel até o
fim, assumiu
as
consequências
da
fidelidade à
vontade do
Pai, e foi
morto, e
morto na
Cruz.
Desvinculado
da
Quinta-feira
Santa e do
Sábado
Santo,
Sexta-feira
seria a
celebração
de uma
derrota
fragorosa.
Por isso,
depois de
sentirmos a
dor e a
tristeza da
sexta feira,
aparente
vitória do
mal,
celebramos
numa
explosão de
alegria a
vitória de
Deus, do
bem, na
ressurreição
de Jesus,
garantia da
nossa,
através da
Liturgia
Pascal.
Nos relatos
dos
Evangelhos,
certos
elementos
são comuns:
o fato que o
túmulo
estava
vazio, que
as primeiras
testemunhas
eram as
mulheres, e
que uma
delas era
Maria
Madalena. Um
fato salta
aos olhos -
ninguém
esperava a
Ressurreição.
A Cruz era o
fim da
esperança, a
maior
desilusão
possível. Se
somarmos a
isso o fato
que todos
eles traíram
Jesus (ou
por
dinheiro, ou
por
covardia),
podemos
imaginar o
ambiente
pesado entre
os
discípulos
na manhã do
Domingo.
Nisso,
chegam a
Maria e as
mulheres com
a notícia do
túmulo
vazio. Pedro
e o
Discípulo
Amado correm
até o
túmulo.
Enquanto
Pedro vê sem
acreditar, o
Discípulo
Amado
acredita. Só
quem olha
com os olhos
do amor,
penetra além
das
aparências!
Salta aos
olhos, mesmo
com uma
leitura
superficial
dos relatos
evangélicos,
que a
experiência
da Páscoa
fez uma
reviravolta
na vida dos
discípulos e
discípulas.
De um grupo
de
decepcionados,
desiludidos,
fracassados,
se tornaram
um grupo
dinâmico,
evangelizador,
animado,
olhando a
vida, com
suas
alegrias e
tristezas,
de uma outra
maneira.
Isso fica
claro no
relato dos
Discípulos
de Emaús, em
Lucas 24,
13-35.
Podemos
sentir no
desabafo do
Cléofas
sentimentos
de tristeza,
decepção,
desilusão,
até revolta
contra
Jesus, por,
aparentemente,
ter
fracassado e
destruído os
sonhos e
esperanças
deles: “nós
esperávamos
(notemos o
tempo do
verbo!) que
fosse ele o
libertador
de Israel,
mas... já
faz três
dias que
tudo isso
aconteceu.”
(Lc 24, 21).
De repente,
depois de
ter feito a
experiência
da presença
de Jesus
Ressuscitado,
tudo muda:
“Então, um
disse ao
outro: Não
estava o
nosso
coração
ardendo
quando Ele
nos falava
pelo caminho
e nos
explicava as
Escrituras?”
Na mesma
hora, eles
se
levantaram e
voltaram
para
Jerusalém,
onde
encontraram
os Onze,
reunidos com
os outros”
(Lc 24,
32-33).
Páscoa era
para eles, e
tem que ser
para nós,
“tempo de
renascer”.
Mas, é bom
notar - só
“renasce” o
que morreu!
Temos que
descobrir em
nós o que
precisa
renascer, o
que tem
morrido, ou
está
agonizando!
Pode ser a
fé, a força,
o ânimo, a
esperança, o
engajamento
na
comunidade,
a energia
para lutar
por um mundo
melhor.
Todas essas
coisas são
capazes de
renascer, se
realmente
fizermos a
real
experiência
da Páscoa,
da
ressurreição
de Jesus.
Não de uma
maneira
sentimental
e aérea,
mas,
realista.
Para
ressuscitar,
Jesus teve
que passar
realmente
pela morte.
Mas venceu a
morte e
continua a
viver - e no
meio de nós.
Lembremos
como Paulo
dava
importância
à
Ressurreição.
Escrevendo
aos
coríntios,
uma
comunidade
onde alguns
“iluminados”
negaram ou
menosprezaram
o fato da
Ressurreição,
ele brada:
“Se os
mortos não
ressuscitam,
Cristo
também não
ressuscitou.
E se Cristo
não
ressuscitou,
a fé que
vocês têm é
ilusória e
vocês ainda
estão nos
seus
pecados...
Se a nossa
esperança em
Cristo é
somente para
esta vida,
nós somos os
mais
infelizes de
todos os
homens (1Cor
15, 16-19).
Não há
dúvida que
não é fácil
manter
sempre a
esperança, a
fé e a
coragem
diante de
tantas
dificuldades
na vida.
Sempre foi
assim. O
autor
anônimo de
Hebreus,
escrevendo
na segunda
parte do
primeiro
século a uma
comunidade
judeu-cristã,
sabia disso,
e falou:
“Corramos
com
perseverança
na corrida,
com os olhos
fixos em
Jesus...
para que
vocês não se
cansem e não
percam o
ânimo,
pensem
atentamente
em Jesus”
(Hb 12,
1c-3). A
celebração
da Semana
Santa nos dá
uma
oportunidade
de fazer
isso - olhar
de novo
atentamente
para Jesus,
o Verbo de
Deus, “que
se fez homem
e armou a
sua tenda no
meio de nós”
(Jo 1, 14).
Assim
podemos
reanimar a
nossa fé, a
nossa
missão, a
nossa
participação
na
comunidade,
olhando,
recordando e
celebrando o
Jesus real,
de mão
calejada,
que se
tornou igual
a nós em
tudo, menos
o pecado.
Se, apesar
de ser
abandonado
por quase
todos e
sentindo-se
abandonado
até pelo
Pai,
gritando,
“Meu Deus,
Meu Deus
porque me
abandonaste”
(Mc 15,34),
mesmo assim
foi fiel até
o fim, foi
ressuscitado
pelo Pai.
Tempo de
renovação,
tempo de
reviver,
tempo de
ânimo novo,
tempo santo
- a
celebração
da Vida,
Morte e
Ressurreição
de Jesus,
“autor e
consumidor
da fé” (Hb
12,3)
(Publicado
no Boletim
Diocesano da
Diocese de
São José dos
Pinhais -
Abril 2012)
SEGUNDO
DOMINGO DA
PÁSCOA (15
de abril de
2012)
Jo 20, 19-31
“A paz
esteja com
vocês!”
No texto
anterior ao
de hoje, a
Maria
Madalena
trouxe a
notícia da
Ressurreição
aos
discípulos
incrédulos.
Agora é o
próprio
Jesus que
aparece a
eles. Não há
reprovação
nem queixa
nas suas
palavras,
apesar da
infidelidade
de todos
eles, mas,
somente a
alegria e a
paz, que já
tinha
prometido no
último
discurso.
Duas vezes
Jesus
proclama o
seu desejo
para a
comunidade
dos seus
discípulos -
“A paz
esteja com
vocês”. O
tema da paz,
do shalom, é
importante
na vida de
Jesus..
No Discurso
de
Despedida,
na tradição
da
Comunidade
do Discípulo
Amado, no
contexto de
uma certa
angústia
humana e da
insegurança,
junto como a
promessa do
dom do
Paráclito,
Jesus deixa
com os seus
o seu grande
dom da paz:
“Eu deixo
para vocês a
paz, eu lhes
dou a minha
paz. A paz
que eu dou
para vocês
não a paz
que o mundo
dá”
(Jo 14, 27).
Ele usou a
palavra
tradicional
dos judeus
para a paz,
“Shalom”. É
uma paz
baseada na
vinda do
Espírito,
que será
atualizada
no texto de
hoje: “A paz
esteja com
vocês!
Recebam o
Espírito
Santo” (Jo
20, 21-22).
Enfatiza
que não é a
paz como o
mundo a
entende -
muitas vezes
simplesmente
como a
ausência de
briga.
Frequentemente
a paz que o
mundo dá é
aquela
falsa, que
depende da
força das
armas para
reprimir as
legítimas
aspirações
do povo
sofrido -
como tantos
países
experimentaram,
e continuam
a
experimentar
hoje,
durante as
ditaduras de
direita e da
esquerda.
Assim, a
Campanha da
Fraternidade
deste ano
quis nos
conscientizar
que a Saúde
Pública faz
parte do
desejo de
concretizar
o Shalom,
pois onde o
povo está
privado do
acesso a um
bom
tratamento
da sua
saúde, não
se realiza o
desejo de
Jesus. O
“shalom” é
tudo o que o
Pai quer
para o seu
povo. Só
existe
quando reina
o projeto de
vida de
Deus.
Implica a
satisfação
de todas as
necessidades
básicas da
pessoa
humana, da
libertação
da
humanidade
do pecado e
das suas
consequências.
O “shalom”
dos
discípulos
não pode ser
perturbado
pelo fato da
partida de
Jesus, pois
é através da
volta do
Filho para o
Pai que o
Shalom vai
se instalar.
O “shalom”,
a verdadeira
paz, é um
dom de Deus
- mas também
um desafio
para nós, os
seus
discípulos/as.
Pede a
colaboração
humana!
Diante de
tantas
barbaridades
hoje, de
tanta
violência no
campo, da
exploração
do
latifúndio,
do tráfico
de drogas e
das pessoas,
da
impunidade,
qual deve
ser a
atitude do
cristão? Se
nós
acreditamos
no shalom,
nunca
podemos
compactuar
com sistemas
repressivos
ou elitistas
que tiram da
maioria (ou
mesmo de uma
minoria) os
direitos
básicos que
pertencem a
todos os
filhos de
Deus. Às
vezes, este
shalom
convive ao
lado do
sofrimento e
perseguição
por causa do
Reino; mas,
quem
experimenta
na
intimidade a
presença da
Trindade,
também
experimenta
a verdade da
frase de
Jesus: “não
fiquem
perturbados,
nem tenham
medo” (Jo
14, 27),
pois disse
Ele, “eu
venci o
mundo” (Jo
16, 33).
Frequentemente,
uma leitura
fundamentalista
do
Evangelho,
fortemente
influenciada
por
ideologias
da direita,
insistia que
Jesus veio
trazer a
“paz”,
entendido
como “ordem
e progresso”
na visão
positivista
das elites
dominantes.
Mas, o
próprio
texto do
Evangelho
indica que
esse tipo de
paz estava
longe da
mente de
Jesus. Ele
mesmo diz
com todas as
letras em Mt
10, 34: “Não
pensem que
eu vim
trazer paz à
terra; eu
não vim
trazer a
paz, e sim a
espada”.
Obviamente,
Jesus não
diz que veio
trazer a
violência,
pelo
contrário,
veio
desmascarar
uma paz
imposta pela
força, com
base
ideológica
numa falsa
imagem de
Deus, e que
essa ação
profética
d’Ele
revelaria as
divisões já
existentes
na
sociedade,
nas
religiões,
no coração
das pessoas.
Pois, a sua
prática e
pregação
exigiram uma
tomada de
posição
diante da
violência,
ostensiva ou
ocultada. A
não
violência
não é
sinônima com
não-ação.
Pelo
contrário,
levou Jesus
a lançar-se
em uma vida
dedicada aos
valores do
Reino, entre
os quais o
Shalom tinha
lugar
premente;
por isso,
Ele foi
morto pelos
interesses
ameaçados
por esta
pregação do
verdadeiro
shalom - uma
aliança de
poderes
religiosos,
políticos,
judiciais e
econômicos.
Por isso
devemos
sempre
“fazer a
memória de
Jesus” - da
sua pessoa e
do seu
projeto,
para que
tenhamos
critérios
certos para
verificar a
presença -
ou ausência
- do
“shalom” na
nossa
sociedade, e
nos
comprometermos
com a
criação do
mundo mais
justo que
Deus quer.
O Reino de
Deus não é
algo escrito
em uma tábua
rasa. Já
existe a
força
contrária, a
do
anti-Reino.
Assim
também, o
shalom não
nasce em um
vácuo -
cria-se em
oposição à
realidade
dura da
violência,
mesmo quando
disfarçada
como paz.
Por isso,
será sempre
conflituoso
- pois
necessariamente
provocará a
reação dos
que oprimem
e violentam.
A dedicação
a Ele
exigirá uma
mística
profunda!
Uma vida
dedicada à
construção
do Shalom
tem como
fundamento
uma profunda
experiência
de Deus. A
luta pela
paz, pelos
oprimidos,
por um mundo
de igualdade
e
solidariedade
para nós
cristãos não
pode nascer
de uma
simples
análise de
conjuntura,
nem de uma
indignação
ética, por
tão
necessárias
que esses
elementos
possam ser.
A inspiração
última da
nossa luta
pelo shalom
tem que ser
enraizada na
nossa fé -
por ser
coerente com
o Deus em
que nós
acreditamos,
o Deus que
vê a miséria
do seu povo,
vítima da
violência,
que ouve o
seu clamor
em favor da
verdadeira
paz, que
conhece os
seus
sofrimentos,
e que desce
para
libertá-lo
de todas as
formas da
violência
que atentam
contra a
vida (Êx 3,
7-10). É
coerência
com o
seguimento
de Jesus, o
Verbo Divino
que se fez
carne e
armou sua
tenda no
meio de nós,
(Jo 1, 1.14)
vindo para
que todos
tenham a
vida e a
tenham
plenamente
(Jo 10, 10).
Por isso,
devemos
ouvir de
novo a voz
profética de
Jesus que
conclama a
todos nós à
conversão:
“Convertam-se
e acreditem
na Boa
Notícia” (Mc
1, 14).
As raízes
da
violência,
do
anti-Reino,
estão dentro
de todos
nós, como
indivíduos e
comunidade.
Quando
compactuamos
com qualquer
discriminação,
quando
defendemos a
violência
contra
qualquer
pessoa ou
grupo,
quando
aplaudimos
os maus
tratos
contra quem
quer que
seja, quando
interpretamos
a vida a
partir dos
opressores,
quando nos
entregamos à
inveja e ao
ciúme, ao
ódio e
raiva, ao
racismo,
machismo,
classismo,
ou a
qualquer
outro "ismo"
que nos
divide -
estamos nos
opondo ao
shalom de
Deus. Quando
colocamos a
propriedade
particular
como um
valor em
cima da vida
humana,
quando
defendemos a
pena da
morte,
quando
apoiamos
politicamente
estruturas
que acumulam
bens nas
mãos de
poucos,
quando
aceitamos a
ideologia do
neoliberalismo,
com o seu
Deus do
lucro, o seu
evangelho de
competitividade
que faz do
irmão e irmã
os meus
rivais,
estamos
contribuindo
para que o
shalom não
aconteça. A
batalha - e
é batalha -
contra a
violência em
favor da paz
se travará
em muitas
frentes -
dentro de
cada um de
nós, nas
instâncias
de poder
político,
religioso,
eclesial,
social e
cultural. Os
cristãos de
todas as
Igrejas
terão uma
responsabilidade
muito grande
de se
tornarem
arautos do
shalom,
protagonistas
de uma nova
ordem
social,
seguindo as
pegadas do
Mestre que
desmascarava
a violência
sofrida pelo
seu povo -
muitas vezes
em nome de
Deus - e
trouxe a
proposta de
um mundo
diferente,
baseado nos
valores do
Reino.
Jesus soprou
sobre os
discípulos,
como Deus
fez (é o
mesmo termo)
sobre Adão
quando
infundiu
nele o
espírito de
vida; Jesus
os recria
com o
Espírito
Santo.
Normalmente,
imaginamos o
Espírito
Santo
descendo
sobre os
discípulos
em
Pentecostes,
como Lucas
descreve em
Atos, mas
aquilo era a
descida
oficial e
pública do
Espírito
para dirigir
a missão da
Igreja no
mundo. Para
João, o dom
do Espírito,
que da sua
natureza é
invisível,
flui da
glorificação
de Jesus, da
sua volta ao
Pai. O dom
do Espírito
neste texto
tem a ver
com o perdão
dos pecados.
Mais uma
vez, no
primeiro dia
da semana,
Jesus
aparece aos
discípulos
(notem a
ênfase sobre
o Domingo -
duas vezes).
Esta vez,
Tomé está
presente.
Ele
representa
os
discípulos
da
comunidade
joanina do
fim do
século, que
estavam
vacilando na
sua fé na
Ressuscitado,
diante dos
sofrimentos
e
tribulações
da vida.
Assim nos
representa,
quando nós
vacilamos e
duvidamos.
Jesus nos
fortalece
com as
palavras
“Felizes os
que
acreditaram
sem ter
visto!” Essa
muitas vezes
será a
realidade da
nossa fé -
acreditar
contra todas
as
aparências
que o bem é
mais forte
do que o
mal, a vida
do que a
morte, o
Shalom do
que a
prepotência!
Somente uma
fé profunda
e uma
experiência
da presença
do
Ressuscitado
vai nos dar
essa
firmeza.
Tomé
confessa
Jesus nas
palavras que
o Salmista
usa para
Javé (Sl 35,
23). No
primeiro
capítulo do
Evangelho de
João, os
discípulos
deram a
Jesus uma
série de
títulos que
indicaram um
conhecimento
crescente de
quem Ele
era; aqui
Tomé lhe dá
o título
final e
definitivo -
Jesus é
Senhor e
Deus!
Nessa
proclamação
triunfante
da divindade
de Jesus, o
Evangelho
terminava (o
Capítulo 21
é um
epílogo,
adicionado
mais tarde).
No início,
João nos
informou que
“o Verbo era
Deus”.
Agora, Ele
repete essa
afirmação e
abençoa
todos os que
O aceitam
baseados na
fé! A meta
do Evangelho
foi
alcançada -
mostrar a
divindade de
Jesus, para
que
acreditando,
todos
pudessem ter
a vida
n’Ele.
TERCEIRO
DOMINGO DE
PÁSCOA (22
de abril de
2012)
Lc 24, 35-48
“E vocês são
testemunhas
disso.”
O evangelho
de hoje é a
segunda
parte do
capítulo 24
de Lucas,
que relata
primeiro a
história das
mulheres
diante do
túmulo de
Jesus, e
agora o
incidente do
encontro de
Jesus
Ressuscitado
com os dois
discípulos
na estrada
de Emaús.
Devemos
recordar que
Lucas estava
escrevendo a
sua obra em
vista dos
problemas da
sua
comunidade
pelo ano 85
d.C. Já não
estamos mais
com a
primeira
geração de
discípulos -
já se passou
mais de meio
século desde
os eventos
pascais. A
comunidade
já está
vacilando na
sua fé - as
perseguições
estão no
horizonte,
ou até
acontecendo;
o primeiro
entusiasmo
diminuiu, os
membros
estão
cansados da
caminhada e
perdendo de
vista a
mensagem
vitoriosa da
Páscoa.
Parece que é
mais forte a
morte do que
a vida, a
opressão do
que a
libertação,
o pecado do
que a graça.
Neste
cenário,
Lucas
escreve este
capítulo.
Traz uma
mensagem de
ânimo e
coragem aos
desanimados
e vacilantes
da sua época
- e da
nossa! Para
as mulheres,
os dois
anjos
perguntam
“por que
estão
procurando
entre os
mortos
aquele que
está vivo?”
E afirmam:
“Ele não
está aqui!
Ressuscitou!”
Mensagem
atual para
os nossos
tempos -
diante da
péssima
situação de
tantas
pessoas que
enfrentam a
dura luta
pela
sobrevivência,
com
desemprego,
baixo
salário,
falta de
terra e
moradia, uma
herança de
décadas de
descaso dos
governantes
com a saúde
pública e a
educação, é
muito fácil
perder a
esperança e
a coragem.
Como a
Campanha da
Fraternidade
recente quis
animar os
cristãos na
luta para
que todos
tenham uma
vida digna,
vencendo a
apatia e a
passividade,
o nosso
texto quer
nos lembrar
que Jesus
venceu o
mal, não foi
derrotado
pela morte,
e está no
meio de nós!
Os dois
discípulos
no caminho
de Emaús são
imagem viva
da
comunidade
lucana - e
de muitas
hoje! Já
sabem do
túmulo
vazio, mas
estão
desanimados,
desiludidos,
sem forças -
pois ainda
não fizeram
a
experiência
da presença
de Jesus
Ressuscitado.
Pois, a
nossa fé não
se baseia no
túmulo
vazio, mas
pelo
contrário, a
nossa
experiência
do
Ressuscitado
explica
porque ele
ficou vazio.
Os dois só
fazem esta
experiência
quando
partilham o
pão! A
Escritura
fez com que
os seus
corações
“ardessem
pelo
caminho” (v.
32), mas não
lhes abriu
os olhos -
para isso
era
necessário
formar uma
comunidade
celebrativa
de fé e
partilha:
“contaram...
como tinham
reconhecido
Jesus quando
ele partiu o
pão” (v.
35).
Finalmente,
o grupo dos
discípulos
reunidos em
Jerusalém é
símbolo das
comunidades
confusas e
vacilantes.
Tinham
dificuldade
em acreditar
- pois a
mensagem da
Ressurreição
é realmente
espantosa!
Mas, uma vez
feita essa
experiência,
eles se
transformam
e se tornam
testemunhas
vivas do que
sentiram,
experimentaram
e
vivenciaram:
“E vocês são
testemunhas
disso” (v.
48). Um
grupo de
derrotados,
desesperançados
e desunidos
(vv. 20-21)
se
transformam
num grupo de
missionários
corajosos e
convictos,
assumindo a
tarefa de
anunciar “no
seu nome a
conversão e
o perdão dos
pecados a
todas as
nações” (v.
47).
Nos dias de
hoje, quando
muitos
cristãos se
desanimam,
ou
restringem a
sua fé à
esfera
particular,
sem que
tenha
qualquer
influência
sobre a sua
vivência
social, a
mensagem de
Lucas nos
convida a
redescobrirmos
a realidade
da presença
do
Ressuscitado
entre nós.
Mas, essa
experiência
não serve
somente para
o nosso
consolo
pessoal -
somos
comandados a
imitar os
dois de
Emaús, que,
feita a
experiência
do
Ressuscitado,
“levantaram
na mesma
hora e
voltaram
para
Jerusalém”
(v. 33).
Pois, a
nossa
experiência
religiosa
não é algo
intimista e
individualista,
mas algo que
nos deve
propulsionar
para a
missão, para
a construção
de um mundo
conforme a
vontade de
Deus, um
mundo de
justiça, paz
e
integridade
da criação,
sem
excluídos e
marginalizados,
sob qualquer
pretexto que
seja!
UMA REFLEXÃO
SOBRE A
HISTÓRIA DOS
DISCÍPULOS
DE EMAÚS
Talvez, um
dos relatos
mais
conhecidos
de Lucas
seja a
história dos
dois
discípulos
na estrada
de Emaús.
Aqui temos o
retrato das
suas
comunidades
- vacilando
na fé,
descrentes,
desanimadas,
sem sentir a
presença do
Ressuscitado
entre elas.
Lucas
procura
reanimar o
seu pessoal,
mostrando
que eles não
estão
abandonados
- muito pelo
contrário,
estão
caminhando
junto com a
presença do
Senhor que
venceu a
morte.
Essa
história
também nos
pode ajudar
bastante
hoje, pois
nos indica
como devemos
usar a
Bíblia para
animar a
nossa
caminhada.
Jesus é o
mestre da
Bíblia; e
aqui Ele
ensina como
aproveitar a
Escritura
para
iluminar os
problemas
práticos da
nossa
caminhada, e
nos dar
coragem na
nossa missão
de
evangelizadores.
O que temos
aqui é
realmente um
pequeno
drama em
cinco atos -
um drama que
nos mostra a
pedagogia de
Jesus.
Vejamos mais
de perto:
Primeiro
ato: vv 13
-19a:
“Introdução”
O relato
começa com
as palavras
“nesse mesmo
dia”.
Devemos já
fazer uma
parada e nos
perguntar
“que dia”?
Para nós
seria o dia
da
Ressurreição,
mas para os
dois
discípulos
era
simplesmente
o terceiro
dia da morte
de Jesus!
Dia de
desânimo, de
tristeza.
“Os dois iam
para um
povoado
chamado
Emaús,
distante
onze
quilômetros
de
Jerusalém”.
Aqui é bom
lembrar que
o bom judeu
não podia
caminhar
mais do que
um
quilômetro
no dia de
sábado.
Portanto,
era
impossível
que eles
viajassem no
dia
anterior.
Domingo é a
sua primeira
oportunidade
de sair de
Jerusalém, e
aproveitaram
bem - já
estão
voltando
para sua
casa. A cena
começa com a
desintegração
da
comunidade
cristã. Tudo
acabou, a
comunidade
se dispersa,
não há nem
alegria nem
esperança.
Quem eram
eles?
Sabemos do
relato que
um se
chamava
Cléofas. E o
outro? O
Evangelho de
João nos
conta que a
irmã de
Maria, mãe
do Senhor,
chamada
Maria de
Cléofas,
estava junto
à cruz (Jo
19, 25). Não
seria demais
acreditar
que os dois
discípulos
fossem um
casal,
Cléofas e a
sua esposa,
voltando
depois da
peregrinação
pascal à
Jerusalém.
Nunca
saberemos
com certeza,
mas é uma
hipótese
agradável e
possível.
De repente,
no caminho
surge Jesus,
sem que seja
reconhecido.
Com isso,
Lucas quer
dizer que o
Ressuscitado
não é um
defunto que
voltou a
viver - mas,
Ele tem uma
nova maneira
de ser, um
corpo
glorificado.
É importante
notar como
Jesus se
comporta,
através dos
verbos que
Lucas usa.
Ele
“aproximou-se”,
“caminhou
com eles” e
“perguntou”.
Ele não veio
“dando de
dedo”, nem
dando
explicações
bíblicas.
Ele criou um
ambiente de
fraternidade
onde seria
possível
explicar
tanto a vida
como a
Bíblia!
Quantas
vezes isso
falta em
nossos
grupos,
nossas
comunidades
- não nos
aproximamos
uns aos
outros,
mantemos
distância!
Não
caminhamos
juntos,
queremos dar
soluções sem
conhecer a
realidade
dos nossos
irmãos e
irmãs! Por
isso mesmo,
muitas vezes
não as
nossas
reuniões têm
efeito, os
nossos
encontros
bíblicos.
O “ato”
termina com
a pergunta
d’Ele: “O
que é que
vocês andam
discutindo
pelo
caminho” (v.
17), ou
seja, Ele dá
uma
oportunidade
para que
eles
exponham a
sua
realidade,
sem
julgamento,
sem
moralismo.
Ele parte da
realidade
dos dois.
Segundo Ato:
vv 19b -24:
“Os
discípulos
falam”
Diante da
oportunidade
de
explicitar a
sua
realidade,
Cléofas não
titubeia.
Ele expõe
com clareza
a sua
situação.
Diante da
morte de
Jesus ele
frisa uma
coisa
importante:
“nós
esperávamos
que Ele
fosse o
libertador
de Israel”
(v. 21).
Eles
“esperavam”,
portanto
não esperam
mais nada.
Aqui ressoam
traços de
decepção,
desilusão,
desânimo,
até de uma
certa
revolta
contra
Jesus, pois
todas as
suas
esperanças
tinham sido
desfeitas.
Os seus
sentimentos
vão muito
além de uma
simples
tristeza!
É importante
notar também
que Lucas
explicita
bem quem foi
quem matou
Jesus - não
foi o povo,
foram grupos
de interesse
bem
definidos:
“Nossos
chefes dos
sacerdotes e
nossos
chefes o
entregaram
para ser
condenado à
morte, e o
crucificaram”
(v. 20)
Para não
reduzir a
morte de
Jesus a uma
fatalidade
qualquer, ou
a algo
desejado
pelo Pai, é
bom examinar
mais
profundamente
esta
afirmação do
Cléofas:
Jesus foi
morto,
assassinado
judicialmente
pelos
“chefes dos
sacerdotes”
- um grupo
de
sacerdotes
saduceus,
que
dominavam o
comércio do
Templo,
lucrando
muito com a
exploração
do povo
através da
religião, e
que viu a
sua
hegemonia
ameaçada
pela
pregação e
pelo
profetismo
de Jesus.
Também foi
morto pelos
“chefes” ou
“magistrados”,
ou seja, os
membros do
Sinédrio,
que
governava os
judeus nos
assuntos
internos,
onde a
maioria
pertencia ao
partido
elitista dos
saduceus
(não dos
fariseus),
colaboradores
com o poder
Romano,
lucrando
bastante com
isso. Então,
Jesus foi
morto não
por acaso,
mas porque
ameaçava os
privilégios
da elite
dominante! A
cruz era a
consequência
lógica da
vida de
Jesus!
Outro
elemento
importante é
o fato de
que eles
sabiam do
túmulo vazio
- dois dos
apóstolos já
tinham
verificado a
história das
mulheres.
Mas, isso
não dizia
nada para
eles! Aqui
se destaca
que a nossa
fé não se
baseia no
túmulo
vazio! É a
nossa fé na
Ressurreição
que explica
por que o
túmulo
estava
vazio, e não
o túmulo que
dá
consistência
à nossa fé!
Terceiro
Ato: vv
25-27: a
Bíblia
Agora, e só
agora,
depois de
ter criado o
ambiente e
escutado a
realidade, é
que Jesus
usa a
Escritura.
Ele frisa
que eles
“custam para
entender e
demoram para
acreditar em
tudo o que
os profetas
falaram” (v.
25). Notemos
bem - não
custaram
para
“saber”, mas
para
“entender e
acreditar”.
Pois eram
judeus
piedosos,
que, mesmo
sendo
analfabetos,
conheciam de
cor os
salmos e as
profecias. O
problema
deles era,
que embora
conhecessem
o livro da
Bíblia, e
também o
livro da
vida, eles
não
conseguiam
ligar as
duas coisas.
Então Jesus
“explica” as
Escrituras -
isto é, Ele
não dá uma
aula de
exegese, mas
faz a
ligação
entre a vida
deles e a
Bíblia,
iluminando a
sua
realidade
com a
Palavra de
Deus.
Quarto Ato:
vv 28-32: a
partilha
Chegando em
Emaús, os
discípulos
convidam
Jesus para
entrar a e
jantar com
eles. Se
realmente se
trata de um
casal, então
seria entrar
na sua casa,
no aconchego
do seu lar,
e não numa
hospedaria,
como
normalmente
a gente
supõe. Aqui
temos o
ponto
central da
história -
pois até
agora a
explicação
bíblica, por
tão bonita
que pudesse
ter sido,
não mudou a
vida deles.
Mas, agora
sim. Jesus
se põe à
mesa e:
“tomou o pão
e abençoou,
depois o
partiu e deu
a eles” (v.
30). De
propósito,
Lucas usa as
palavras que
recordam a
Última Ceia.
É a
experiência
da partilha,
da
comunidade!
Agora o
milagre
acontece:
“Nisso os
olhos dos
discípulos
se abriram e
eles
reconheceram
Jesus” (v.
31).
Neste mesmo
momento,
Jesus
desaparece
da frente
deles! Por
quê? Porquê,
uma vez
feita a
experiência
da presença
do
Ressuscitado
no meio
deles, eles
não
precisavam
mais da
“muleta” da
sua presença
física.
Agora eles
caem dentro
de si e
reconhecem
que “estava
o nosso
coração
ardendo
quando Ele
nos falava
pelo
caminho, e
nos
explicava as
Escrituras?”
(v. 32)
A Bíblia é
capaz de
fazer “arder
o coração”,
mas para
“abrir os
olhos” é
necessária
também a
experiência
de
comunidade,
de
celebração,
de partilha!
Quinto Ato:
vv 33-36: a
missão
Se a
história
terminasse
aqui, seria
a história
de uma
experiência
bonita feita
por duas
pessoas.
Isso não
basta. Tal
experiência
da presença
do Senhor
Ressuscitado
exige a
formação de
uma
comunidade
fraterna de
missão. Os
mesmos dois
que de manhã
fugiam de
Jerusalém,
lugar da
morte, da
perseguição,
do fracasso,
de
tardezinha
se põem no
caminho de
volta! O que
mudou em
Jerusalém
durante o
dia? Nada!
Continua
sendo o
lugar de
perigo, de
morte, de
perseguição.
Mas, mudou a
cabeça dos
dois. Em
lugar de uma
fé
pré-pascal,
eles agora
têm uma fé
pós-pascal.
Em lugar de
desânimo, há
entusiasmo e
coragem,
pois,
experimentaram
a presença
de Jesus
Ressuscitado.
A história
que começou
com a
comunidade
se
desintegrando,
termina com
a comunidade
se
reintegrando,
se unindo,
na paz e na
alegria,
pois puderam
confirmar:
“Realmente,
o Senhor
ressuscitou,
e apareceu a
Simão” (v.
34).
E os dois de
Emaús
puderam
contar: “O
que tinha
acontecido
no caminho,
e como
tinham
reconhecido
Jesus quando
ele partiu o
pão” (v.
36).
Essa
história
pode servir
para nós
como
paradigma de
um círculo
bíblico,
grupo de
reflexão, ou
seja, qual
for o nome
que nós
damos às
nossas
pequenas
comunidades.
Jesus liga
quatro
elementos
essenciais -
a realidade,
a Bíblia, a
celebração
partilhada e
a
comunidade.
É na união
entre estes
elementos
que se
revela a
presença do
Ressuscitado
e a vontade
de Deus. É
na interação
destes
aspectos da
vida cristã
que a Bíblia
se torna
“Lâmpada
para os meus
pés, e luz
para o meu
caminho” (Sl
119, 105).
Procuremos
unir estes
elementos
nas nossas
reuniões e
encontros, e
descobriremos
como se
concretiza o
desejo do
Salmista:
“Oxalá vocês
escutem hoje
o que Ele
diz” (Sl 95,
7).
QUARTO
DOMINGO DE
PÁSCOA (29
de abril de
2012)
Jo 10, 11-18
“O bom
pastor se
despoja da
própria vida
por suas
ovelhas”
Conforme a
Tradição,
hoje é o dia
Mundial de
Oração pelas
Vocações, ou
“Domingo do
Bom Pastor”.
O texto de
hoje nos
demonstra a
compreensão
que a
Comunidade
do Discípulo
Amado tinha
da paixão,
morte e
ressurreição
de Jesus.
A imagem
escolhida é
a do
“pastor” -
uma imagem
muito usada
nos escritos
do Antigo
Testamento
(Sl 40, 11;
Ez 34, 15;
37, 24; Eclo
18, 13; Zc
11, 17;
etc.). Às
vezes é
aplicada ao
próprio Deus
(Sl 23, 1;
Is 40, 11;
Jr 31, 9),
às vezes ao
futuro rei
messiânico
(Sl 78,
70-72; Ez
37, 24), às
vezes aos
líderes
político-religiosos
de Israel
(Jr 2, 8;
10, 21; 23,
1-8; Ez 34).
Também os
Evangelistas
Sinóticos a
usaram
bastante (Mc
6, 34; 14,
27; Mt 9,
36; 18,
12-13; 25,
32; 26, 31;
Lc 15, 3-7).
Jesus é
realmente
pastor, pois
Ele, o Filho
do Homem,
participa da
condição
humana,
inclusive da
morte, para
nos conduzir
à vida
eterna. A
palavra
grega aqui
usada para
“bom”,
“kalos”,
significa
“ideal” ou
“nobre” e
não somente
eficiência
na sua
função.
Assim é
Jesus, pois
livremente
despoja-se
da sua
própria vida
para salvar
a vida do
seu rebanho.
O texto
contrasta a
ação de
Jesus com a
atuação dos
pastores
mercenários,
que não
defendem o
rebanho, mas
somente
cuidam dos
seus
próprios
interesses.
Aqui o texto
está
enraizado na
tradição
profética de
Ezequiel (Ez
34) que
condenava os
“maus
pastores” do
povo de Deus
- os líderes
religiosos e
políticos do
seu tempo
(antes do
Exílio e nos
anos entre a
primeira
deportação
para
Babilônia e
a destruição
de Jerusalém
em 587 aC) ,
que somente
exploravam o
povo para o
seu próprio
proveito,
abandonando-o
na horas de
maior
necessidade.
Quanta coisa
do tempo de
Ezequiel e
de Jesus
pode ser
aplicada
quase que
diretamente
a muitos
líderes
políticos (e
às vezes
religiosos)
dos nossos
tempos!
O trecho
destaca o
verbo
“conhecer” -
Jesus
conhece as
suas ovelhas
como conhece
o Pai e é
conhecido
pelo Pai.
“Conhecer”,
na linguagem
bíblica, não
significa um
saber
intelectual,
mas implica
um
relacionamento
íntimo de
amor e
solidariedade.
O
conhecimento
que Jesus
tem dos seus
discípulos
nasce e se
plenifica no
amor que
existe entre
o Pai e o
Filho. Não é
um amor só
de emoções
ou
sentimentos,
mas um amor
exigente, de
assumir o
outro até o
ponto de
doar a vida.
Assim, a
morte na
Cruz -
assumida
livremente
por Jesus -
é a
expressão
suprema
desse amor.
Mas, o amor
não pode se
restringir
aos irmãos e
irmãs da
comunidade.
A utopia
proposta por
Jesus é da
união entre
todos “os
seus” -
todos os
povos do
mundo. Aqui,
talvez haja
uma
referência
às outras
comunidades
não-joaninas
do tempo do
escrito, mas
também
podemos
aplicar o
texto à
missão
universal da
Igreja - a
de colaborar
na
realização
do Reino de
Deus, pois
todos os
povos do
mundo, sem
distinção de
raça, cor,
cultura ou
religião,
são
misteriosamente
ligados a
Jesus, morto
e
ressuscitado.
Não devemos
imaginar
esse sonho
como um
crescimento
da Igreja
visível até
que toda a
humanidade
faça parte
dela; mas,
muito mais
como a
realização
do pedido do
Pai-nosso -
“seja feita
a vossa
vontade,
assim na
terra como
no Céu”,
onde se
procura o
bem, a
justiça e a
fraternidade,
mesmo fora
da Igreja
visível,
onde se
realiza o
Reino, ou
Reinado, de
Deus.
Como
seguidores
do Bom
Pastor
também somos
convidados à
vivência
desse mesmo
amor que
exige o
despojo da
própria
vida. Isso
não implica
necessariamente
a morte
física, mas,
a morte ao
egoísmo, e a
todos os
“ismos” que
nos dividem
e separam,
seja por
causa do
gênero,
raça, cor,
classe ou
cultura.
Onde há luta
em defesa da
vida, lá
existe a
missão do
Bom Pastor.
Ele que veio
“para que
todos tenham
a vida e a
tenham
plenamente!”
(Jo 10, 10)
- - -
Pe. Tomaz
Hughes, SVD
E-mail:
thughes@netpar.com.br
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