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XINGU
Filme
memorável é Xingu,
de Cao Hamburger –
selecionado para uma das
mostras paralelas ao
Festival de
Berlim -, que dá forma
exata de narrativa
cinematográfica para a
saga dos visionários
Irmãos Villas-Bôas, os
quais, depois de muitas
lutas, conseguiram
fixar, em 1961, no
governo de Jânio
Quadros, a maior reserva
indígena em território
brasileiro, o Parque
Nacional do Xingu.
O roteiro de
Hamburger (O Ano em
Que Meus Pais Saíram de
Férias), em
colaboração com Anna
Muylaert e Elena Soárez,
realizado com base em
pesquisa da antropóloga
Maíra Bühler, trata, de
forma apropriada, a
aventura dos heróis
brasileiros em tom
épico, como se fora um
western, captada,
em belos panorâmicos,
pelas lentes de Adriano
Goldman.
Assim, os fatos reais
são relatados – o maior
número possível, num
mínimo de espaço de
tempo - dentro de um
conteúdo romanesco, de
caráter político, pois
suscita ideias
conflitantes,
principalmente com as
desastrosas mudanças,
que se perpetram
atualmente no Código
Florestal, como
sabiamente ressalta
Fernando Meirelles,
produtor da película.
A história é
narrada sob a ótica de
Claudio Villas-Bôas
(João Miguel) que, em
1940, com 26 anos,
ansioso por aventuras,
em companhia do irmão
Leonardo (Caio Blat), de
23, decide alistar-se na
Expedição
Roncador-Xingu, criada
pelo governo de Getúlio
Vargas para desbravar o
interior do país. Logo,
o mais velho, de 27
anos, Orlando (Felipe
Camargo), abandona o
paletó, a gravata e a
vida rotineira de um
escritório em São Paulo,
indo se juntar aos
outros.
Os três
mosqueteiros, como
poderiam ser também
chamados os Villas-Bôas,
assumem então a
liderança da expedição
e, depois de passar pelo
temido território dos
Xavantes, sem maiores
problemas, eles se
deparam com os
Kalapalos, às margens de
um dos afluentes do rio
Xingu. O encontro é
aguardado com muita
expectativa, já que se
atribuía a essa tribo o
assassinato do
explorador inglês Percy
Fawcett.
É nessa sequência,
principalmente, que se
observa a habilidade
técnica de Hamburger –
um dos nossos mais
sólidos diretores,
segundo Meirelles – que,
no manejo de duas
câmeras e, com magnífica
pontuação musical de
Beto Villares, leva o
espectador a participar
totalmente do momento de
confrontação vivido por
brancos e índios, estes
liderados pelo cacique
Izaquiri (Taparé Waurá).
Vale destacar, a
propósito, o trabalho
perfeito de Chico
Accioly e de Christian
Duurvoort na seleção e
preparação do elenco
indígena, que apresenta
muito bom desempenho.
O acordo entre as duas
partes é selado, depois
que os Villas-Bôas
oferecem aos Kalapalos
facões, rapaduras e
objetos de uso
doméstico. Mas, como
decorrência do contato
dos indígenas com os
brancos, surge entre os
primeiros, uma epidemia
de gripe, que, apesar
dos esforços dos
Villas-Bôas,
requisitando equipe
médica para lhes aplicar
penicilina, acaba por
dizimar a tribo,
deixando-a pela metade.
O que faz Claudio, o
mais idealista, e também
mais consciente dos
irmãos, a reconhecer: -
Nós somos o antídoto
e o veneno para eles. Outro
drama, que acontece em
paralelo, é o da
desobediência de
Leonardo – e,
posteriormente, de
Claudio - ao pacto
firmado, entre os
irmãos, de não se
envolverem com mulheres
indígenas. O primeiro é
logo banido, regressando
a São Paulo.
Os três atores encarnam
com sobriedade os Irmãos
Villas-Bôas. Felipe
Camargo (Som e Fúria)
constrói o seu papel de
Orlando com a primordial
característica da
personagem, a de
mediador, do diplomata,
do mais credenciado a
negociar o anteprojeto
da criação do Parque do
Xingu com autoridades do
governo de Café Filho,
no Rio. Caio Blat (Bróder)
está correto como
Leonardo. E João Miguel
é, na rigorosa
obediência à
contextualização do
filme, como Claudio, o
astro maior. É um ator
que vem em evolução,
sempre para melhor,
desde que apareceu em
Cinema, Aspirinas e
Urubus. É dele a
cena mais lírica e
bonita de Xingu,
quando Claudio seduz
Pionim (Awakari Tumã
Kaiabi) ao brilho da luz
de uma lanterna. A
grande revelação, entre
os indígenas, é Maiarim
Kaiabi, como Prepori.
REYNALDO DOMINGOS
FERREIRA
ROTEIRO, Brasília,
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FICHA TÉCNICA
XINGU
Brasil – 2011
Duração – 103 minutos
Direção – Cao Hamburger
Roteiro – Cao Hamburger,
Anna Muylaert e Elena
Soárez, com base em
pesquisa de Maíra
Bühler.
Produção – Fernando
Meirelles, Andrea Barata
Ribeiro e Bell Berlinck
Fotografia – Adriano
Goldman
Trilha Sonora – Beto
Villares
Edição – Gustavo Giani
Elenco – João Miguel
(Claudio Villas-Bôas),
Felipe Camargo (Orlando
Villas-Bôas), Caio Blat
(Leonardo Villas-Bôas),
Maiarim Kaiabi
(Prepori), Awakari Tumã
Kaiabi (Pionim), Tapaié
Waurá (Izaquiri),
Totomai Yawalapiti
(Guerreiro Kalapalo),
Maria Flor (Marina) e
Augusto Madeira (Noel
Nutels).
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