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JALECOS DE RISCO
Tereza Halliday – Artesã de Textos
Tenho encontrado profissionais da saúde
usando jalecos na rua e em recintos que
não são seus locais de trabalho: bancos,
lanchonetes, lojas, estacionamentos. De
médicos a auxiliares de enfermagem,
levam sua destacada vestimenta funcional
a espaços onde ela pode captar ou
difundir micro-organismos patogênicos.
Filha de cirurgião-dentista e leitora da
biografia de Louis Pasteur, minha mãe
logo compreendeu o perigo dos
“micróbios” – seres invisíveis a olho nu
e transmissores de doenças, por contato
direto com mãos, roupas, objetos,
secreções, ar poluído. Meus irmãos e eu
ainda nem sabíamos ler ou escrever e já
pronunciávamos corretamente
“mi-cró-bio”, a caminho da pia, a fim de
lavar bem as mãos. Lavar as mãos era
pré-requisito de ter acesso às refeições
ou retirar biscoitos da lata. Lavar as
mãos era exigido antes de usar o
sanitário e depois; antes das refeições,
antes de pegar no neném; ao voltar da
rua, ou tocar em dinheiro, sapatos,
chaves, corrimões, ou apertar a mão de
alguém. (Se a mão for de certos
políticos, esfregar mais vezes, com
muita água e sabão, digo eu).
A consciência da importância de lavar
bem as mãos tem aumentado. Mas a
consciência do perigo de infecções
através da bata funcional parece
embotada em vários profissionais da
saúde, justamente eles, que deveriam ser
exemplos de comportamento higiênico.
Jaleco na rua é jaleco de risco. Na
proximidade de certo hospital de
destaque, um restaurante self-service
proíbe a entrada de clientes usando
jaleco. Instalou-se, então, um novo
“jeitinho brasileiro”: carregam os
jalecos dobrados, no braço ou sobre o
ombro. Como se bastasse despi-los para
garantir assepsia nos lugares por onde
andam e no próprio tecido da bata
deambulante. No código de comportamento
de profissionais da saúde, usar jalecos
ou portá-los dobrados no braço ou no
ombro, fora do ambiente de trabalho,
deveria ser infração gravíssima, pelo
mal que esse hábito pode causar a eles
mesmos e aos seus pacientes.
Jamais esqueci as regras vigentes na
minha casa de infância: ninguém sentava
com “roupa de rua” sobre os lençóis da
cama. De volta do cemitério ou visita a
um doente, era preciso trocar de roupa e
pôr a usada para lavar. Ou desinfetar,
conforme o caso. Ninguém ia de camisola
ou pijama para o sofá, porque lá,
residentes e visitas sentavam usando
roupa que andara por qualquer lugar.
Assim, desde muito cedo, fui preparada
para usar roupas escrupulosamente. Mas,
não segui profissão que exigisse o
jaleco. No meu métier, onde as palavras
são instrumentos de trabalho, sinto-me
premida a alertar sobre os jalecos de
risco. Que os diretores de hospitais e
os educadores na área da saúde sejam tão
rigorosos quanto minha mãe o foi em
minha educação para a higiene.
(Diário de Pernambuco, 09/04/2012,
p.C-5)
De:
Elizabeth Barros
Data: 19 de abril de 2012 14:36
Assunto: Re: PRIORIDADE MÁXIMA)) JALECOS
DE RISCO - Tereza Halliday
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Querida Tia Therezita, achei bem
interessante esta matéria da Tereza
Halliday. É um alerta, realmente, sobre
o uso errado das roupas de trabalho na
área médica e o impressionante está no
fato desses profissionais terem todo o
conhecimento dos perigos desses atos
para os pacientes.
Foi ótimo ela falar da importância de se
lavar as mãos, procedimento que tantas
pessoas ainda não seguem. A preocupação
que a mãe e os parentes de Tereza
Halliday tinham para que as crianças não
sentassem com roupas limpas de dormir no
sofá da sala, pois é um lugar onde as
pessoas chegam da rua e sentam, assim
como, jamais sentar com roupa da rua nos
lençóis da cama, é também bastante
interessante, além de recomendável.
Concordo plenamente e tenho também essa
preocupação em minha casa.
Beijos, de sua sobrinha, Elizabeth.
De:
Tereza Lúcia Halliday
Data: 19 de abril de 2012 23:10
Assunto: Resposta: colocar depois de
JALECOS DE RISCO - Tereza Halliday
Para: Theresa Catharina de Goes Campos
Querida Therezita:
Fico feliz com o endosso de sua sobrinha
à minha preocupação com os jalecos de
risco.
Recebi e-mails de Porto Alegre a
Fortaleza, contando histórias incríveis
de descuido com a vestimenta funcional
dos profissionais da Saúde.
Quanto mais conscientização (e controle
das clínicas e hospitais), melhor.
Abraço,
Tereza Lúcia. |
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