Theresa Catharina de Góes Campos

  JALECOS DE RISCO

Tereza Halliday – Artesã de Textos

Tenho encontrado profissionais da saúde usando jalecos na rua e em recintos que não são seus locais de trabalho: bancos, lanchonetes, lojas, estacionamentos. De médicos a auxiliares de enfermagem, levam sua destacada vestimenta funcional a espaços onde ela pode captar ou difundir micro-organismos patogênicos.

Filha de cirurgião-dentista e leitora da biografia de Louis Pasteur, minha mãe logo compreendeu o perigo dos “micróbios” – seres invisíveis a olho nu e transmissores de doenças, por contato direto com mãos, roupas, objetos, secreções, ar poluído. Meus irmãos e eu ainda nem sabíamos ler ou escrever e já pronunciávamos corretamente “mi-cró-bio”, a caminho da pia, a fim de lavar bem as mãos. Lavar as mãos era pré-requisito de ter acesso às refeições ou retirar biscoitos da lata. Lavar as mãos era exigido antes de usar o sanitário e depois; antes das refeições, antes de pegar no neném; ao voltar da rua, ou tocar em dinheiro, sapatos, chaves, corrimões, ou apertar a mão de alguém. (Se a mão for de certos políticos, esfregar mais vezes, com muita água e sabão, digo eu).

A consciência da importância de lavar bem as mãos tem aumentado. Mas a consciência do perigo de infecções através da bata funcional parece embotada em vários profissionais da saúde, justamente eles, que deveriam ser exemplos de comportamento higiênico. Jaleco na rua é jaleco de risco. Na proximidade de certo hospital de destaque, um restaurante self-service proíbe a entrada de clientes usando jaleco. Instalou-se, então, um novo “jeitinho brasileiro”: carregam os jalecos dobrados, no braço ou sobre o ombro. Como se bastasse despi-los para garantir assepsia nos lugares por onde andam e no próprio tecido da bata deambulante. No código de comportamento de profissionais da saúde, usar jalecos ou portá-los dobrados no braço ou no ombro, fora do ambiente de trabalho, deveria ser infração gravíssima, pelo mal que esse hábito pode causar a eles mesmos e aos seus pacientes.

Jamais esqueci as regras vigentes na minha casa de infância: ninguém sentava com “roupa de rua” sobre os lençóis da cama. De volta do cemitério ou visita a um doente, era preciso trocar de roupa e pôr a usada para lavar. Ou desinfetar, conforme o caso. Ninguém ia de camisola ou pijama para o sofá, porque lá, residentes e visitas sentavam usando roupa que andara por qualquer lugar. Assim, desde muito cedo, fui preparada para usar roupas escrupulosamente. Mas, não segui profissão que exigisse o jaleco. No meu métier, onde as palavras são instrumentos de trabalho, sinto-me premida a alertar sobre os jalecos de risco. Que os diretores de hospitais e os educadores na área da saúde sejam tão rigorosos quanto minha mãe o foi em minha educação para a higiene.
(Diário de Pernambuco, 09/04/2012, p.C-5)

De: Elizabeth Barros
Data: 19 de abril de 2012 14:36
Assunto: Re: PRIORIDADE MÁXIMA)) JALECOS DE RISCO - Tereza Halliday
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Querida Tia Therezita, achei bem interessante esta matéria da Tereza Halliday. É um alerta, realmente, sobre o uso errado das roupas de trabalho na área médica e o impressionante está no fato desses profissionais terem todo o conhecimento dos perigos desses atos para os pacientes.

Foi ótimo ela falar da importância de se lavar as mãos, procedimento que tantas pessoas ainda não seguem. A preocupação que a mãe e os parentes de Tereza Halliday tinham para que as crianças não sentassem com roupas limpas de dormir no sofá da sala, pois é um lugar onde as pessoas chegam da rua e sentam, assim como, jamais sentar com roupa da rua nos lençóis da cama, é também bastante interessante, além de recomendável. Concordo plenamente e tenho também essa preocupação em minha casa.

Beijos, de sua sobrinha, Elizabeth.


De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 19 de abril de 2012 23:10
Assunto: Resposta: colocar depois de JALECOS DE RISCO - Tereza Halliday
Para: Theresa Catharina de Goes Campos


Querida Therezita:

Fico feliz com o endosso de sua sobrinha à minha preocupação com os jalecos de risco.
Recebi e-mails de Porto Alegre a Fortaleza, contando histórias incríveis de descuido com a vestimenta funcional dos profissionais da Saúde.
Quanto mais conscientização (e controle das clínicas e hospitais), melhor.
Abraço,
Tereza Lúcia.

 

Jornalismo com ética e solidariedade.